Por Henrique Martin, g1


Comparação de câmeras de smartphones topo de linha — Foto: g1

Celulares topo de linha, os mais caros e com mais recursos, são os que também têm as melhores câmeras – pelo menos é o que os fabricantes dizem.

Mas como é isso na prática, aos olhos de uma pessoa comum? O Guia de Compras testou três aparelhos dessa categoria que prometem criar imagens incríveis.

Outros guias:

Foram dois modelos com as melhores fotos no teste de smartphones premium – o iPhone 14 Pro, com 48 megapixels, e o Samsung Galaxy S22 Ultra, com 108 mp.

E o terceiro aparelho é o Motorola Edge 30 Ultra, com a maior resolução disponível em câmera de celular à venda nas lojas on-line em dezembro: 200 mp. O teste foi feito apenas com as câmeras traseiras dos smartphones.

Os preços dos celulares com supercâmera, consultados nas lojas on-line no meio de dezembro, iam de R$ 7.000 a R$ 9.500.

Veja os resultados a seguir e, no final da reportagem, a conclusão.

A câmera tripla do iPhone 14 Pro, da Apple, fica no meio termo entre a versatilidade do Galaxy S22 Ultra, que tem mais opções de zoom, e a simplicidade do Moto Edge 30 Ultra, com altíssima resolução e menos alternativas criativas.

A câmera traseira principal tem um sensor de 48 megapixels, com uma ultragrande angular de 12 megapixels e um zoom óptico de 3x também de 12 mp.

Nas lojas on-line, o iPhone 14 Pro custava R$ 9.500 em dezembro.

Abaixo, um exemplo de foto em ambiente interno com iluminação mais fraca:

E uma foto interna com melhor iluminação – dá para perceber como o iPhone 14 Pro deixa a foto nítida, mas o Galaxy S22 Ultra fica com tons mais "quentes".

As três lentes do iPhone 14 Pro têm estabilização óptica de imagem, que ajuda a reduzir fotos tremidas, um sistema de foco híbrido – que garante (ou tenta) nitidez em todas as imagens –, e o Photonic Engine, recurso que ajuda a melhorar fotos em ambientes internos mais escuros.

Um fotógrafo amador não vai usar – ou vai usar muito pouco – a câmera na resolução máxima de 48 megapixels. No modo automático, a Apple agrupa quatro pontos (pixels) das fotos em um só, gerando imagens de 12 mp.

Veja a seguir uma foto feita de dia com os três celulares:

Para fotografar a 48 mp com o iPhone 14 Pro, é preciso ativar o botão RAW nas opções da câmera. As imagens são registradas em formato DNG – chamado de ProRAW pela Apple e que é uma espécie de "negativo digital" com a imagem natural capturada pelo sensor, sem ajustes automáticos.

Mas essas fotos em RAW ficam com arquivos gigantes – se uma foto "normal" em formato JPG ocupa 3 MB no armazenamento do iPhone, uma em DNG chega a 65 MB ou 70 MB. O mesmo ocorreu nos outros celulares do teste.

A lente, o sensor de imagem e o processador A16 Bionic usado no iPhone trabalham em conjunto para criar o que a Apple chama de "fotografia computacional" – em que o resultado final é aprimorado de forma automática, com a expectativa de sempre ter fotos muito boas o tempo todo.

E é aqui que a câmera do iPhone 14 Pro apresenta resultados surpreendentes. A foto abaixo foi um acidente de percurso: era para tentar fotografar a paisagem à noite, vista de um quarto de hotel.

Mas, com uma luz forte na frente e um vidro sujo, o iPhone entendeu que tinha uma pessoa no reflexo e "limpou" o máximo que conseguiu.

Isso ocorre por conta da fotografia computacional – sensor da câmera e processador entenderam o que era sujeira na imagem e a removeram ao máximo, criando algo um tanto fantasmagórico. Já as câmeras da Samsung e da Motorola viram apenas um vidro sujo com reflexo.

A câmera do iPhone 14 Pro também tem uma grande diferença em relação ao "irmão menor" iPhone 14 (veja o teste). A lente ultragrande angular também atua como câmera macro, para capturar detalhes de perto.

Veja um exemplo abaixo:

A transição é automática – aparece uma flor para indicar o macro ativado – e os resultados são muito bons. Mas a câmera do Motorola Edge 30 Ultra foi melhor em algumas situações.

Com 200 megapixels na câmera principal, o Motorola Edge 30 Ultra é o celular com a maior resolução à venda.

No conjunto de recursos, porém, o celular é mais simples – tem menos zoom e estabilização óptica apenas na câmera principal, e o uso de fotografia computacional parece ser menos frequente.

No fim das contas, os resultados são bons, mas as fotos ficam menos coloridas que nos dois concorrentes do teste.

Em dezembro, o Moto Edge 30 Ultra era vendido por R$ 7.000 nas lojas da internet.

Além do sensor de 200 mp, o Edge 30 Ultra conta com uma câmera híbrida grande angular e macro de 50 megapixels.

O celular tem também uma teleobjetiva de 12 mp, capaz de 2x de aproximação no zoom óptico – o menor entre os três smartphones do teste.

Aqui, um exemplo das fotos feitas à noite com os três smartphones:

Mas a Motorola tem um recurso único – e que vale para todos os celulares da marca: basta girar o aparelho duas vezes com o punho para abrir a câmera de forma mais rápida. É uma bobagem que funciona.

Abaixo, um exemplo de cena noturna feita com os aparelhos. O da Motorola conseguiu criar uma foto bastante detalhada.

A câmera também tira fotos em RAW no modo Profissional e no modo Ultra-Res – que traz as configurações automáticas, sem precisar ajustar itens técnicos (abertura, ISO) presentes no modo mais avançado.

Os resultados durante o dia foram bons, como nos outros aparelhos – com a tendência de as fotos ficarem mais esbranquiçadas (com um pouco de exagero na exposição da luz) ou azuladas, já que o perfil das câmeras da Motorola segue esse padrão.

Dá para perceber no exemplo abaixo: o iPhone 14 Pro puxa as cores para um azul mais intenso do céu, o Galaxy S22 fica mais realista e o Moto Edge 30 Ultra, mais claro.

Nas fotos noturnas, o Moto Edge 30 Ultra foi muito bem, mesmo com os tons mais brancos.

Algumas fotos em modo noturno com a lente macro foram além do esperado, como a cena abaixo, em um restaurante escuro e a vela dando uma iluminação bem fraca.

iPhone e Motorola conseguiram fazer foco em uma situação bastante difícil, o da Samsung nem tanto.

O Samsung Galaxy S22 Ultra, das três supercâmeras do teste, é o único com zoom óptico avançado – chega a 10x. Nas lojas on-line, seu preço era de R$ 9.500 em dezembro.

Por conta de um periscópio minúsculo instalado na traseira do celular, ele consegue chegar a 100x de aproximação em um zoom híbrido, que combina zoom óptico e digital.

O celular da Samsung também tem mais câmeras que os concorrentes – quatro, contra três do iPhone 14 Pro e do Moto Edge 30 Ultra.

Na resolução, o Galaxy S22 Ultra fica entre o modelo da Apple e da Motorola: a câmera principal tem um sensor de 108 megapixels. A lente periscópio tem 10 mp, a grande angular, 12 mp (a única sem estabilização de imagem), e um zoom óptico também de 10 megapixels.

E esse monte de lentes dá uma maior flexibilidade em relação aos concorrentes – dá para ir de uma imagem grande angular a um zoom muito próximo em poucos passos.

Vale notar que, em condições de boa luz, o zoom híbrido fica bom até uns 30x para postar em redes sociais e ver na tela do telefone, mas acima disso fica ruim.

Fotos feitas com o Galaxy S22 Ultra: grande angular, zoom óptico de 10x, zoom digital de 100x — Foto: Henrique Martin/g1

O Galaxy S22 Ultra é o único a gravar em formato RAW no modo automático – mas as fotos ficam escondidas na galeria e é preciso baixar um app (ExpertRAW) para poder editar os arquivos.

O resultado das imagens com o S22 Ultra é um pouco diferente: as câmeras da Samsung são ajustadas para trazer imagens mais quentes, com tons mais avermelhados. Isso pode ser mais agradável de ver, mas pode dar uma sensação de serem imagens menos reais que a dos concorrentes.

Na cena abaixo, a céu aberto, o iPhone 14 Pro ficou mais dramático – destacando a roda gigante – e os outros dois celulares ressaltaram mais o céu.

Abaixo, duas fotos noturnas feitas com os três telefones: ica um pouco atrás. A câmera não tem uma lente macro apropriada, mas consegue tirar algumas fotos mais de perto, não tão bem quanto o iPhone ou o Motorola.

Abaixo, duas fotos noturnas feitas com os três telefones:

Nesta imagem, o Galaxy S22 Ultra mostra seus tons mais amarelados:

O zoom – e a capacidade de usar em diversos modos e ângulos – para criar fotos é o maior atrativo dessa câmera.

Conclusão

QUAL O MELHOR? Durante o dia, os resultados foram muito parecidos entre Apple, Motorola e Samsung – imagens nítidas, com ótimo contraste e definição. As diferenças entre as câmeras apareceram nas fotos à noite e de detalhes.

São perceptíveis também as nuances entre os estilos de cor entre cada um deles, mais equilibrado e com maior contraste no iPhone, mais claro no Moto Edge 30 Ultra e quente no Galaxy S22 Ultra.

Com três câmeras em aparelhos caros e que trazem resultados muito bons, a escolha da compra vai para o que se pretende fazer com a câmera.

O iPhone 14 Pro tem o melhor equilíbrio entre zoom, macro e grande angular com imagens que são difíceis de deixar ruins.

O Moto Edge 30 Ultra tem a maior resolução e o melhor modo macro, mas menos opções para alternar entre uma foto normal e um zoom muito próximo.

E o Samsung Galaxy S22 Ultra é o "faz tudo" com muitas câmeras, indo das fotos com ângulos muito abertos a uma aproximação grande tanto com zoom óptico como híbrido, graças ao periscópio.

O QUE É A FOTOGRAFIA COMPUTACIONAL? O termo, também chamado de otimização de cena ou inteligência artificial na câmera, é o que ajuda a tornar muito boas as fotos feitas pelos três aparelhos.

Dentro do celular, ocorre um jogo rápido entre sensor da câmera e processador do telefone, que aprimora as imagens em itens como contraste, nitidez, cores e brilho, por exemplo.

O resultado final é o que o fabricante do smartphone entende como ideal, e não a realidade precisa.

Dá para notar que a imagem passa por um breve momento entre um clique e outro em que o celular parece estar “pensando”. Para ver isso, basta fotografar e clicar para ver a foto na sequência: muitas vezes ela aparece escura e em uma fração de segundo fica mais clara e nítida.

Preste atenção no elefante na foto abaixo, com reflexo do fotógrafo. A variação de luz no ambiente e o processamento da imagem deixam o animal roxo, azulado ou mesmo prateado, dependendo do celular.

E O MODO RAW? Salvar imagens em formato RAW significa capturar o que o sensor de imagem "vê" naquele momento. Ocupa bem mais espaço de armazenamento no celular e pode ser frustrante para um amador.

Para entusiastas e profissionais, vale para brincar com a edição de imagem depois em algum app específico, como Adobe Lightroom e Photoshop.

Abaixo, um exemplo de como a câmera do Motorola Edge 30 Ultra enxerga uma cena em modo RAW e a sua cópia com ajuste automático pelo smartphone. Arraste a seta para os lados para comparar:

Imagem Henrique Martin/g1 Imagem Henrique Martin/g1
Com modo RAW/sem modo RAW, ajustado pelo telefone — Foto 1: Henrique Martin/g1 — Foto 2: Henrique Martin/g1

COMO FOI FEITO O TESTE: apenas com as câmeras traseiras dos celulares, em condições normais de uso, alternando os aparelhos na hora de fotografar.

No total, foram capturadas cerca de 1.100 fotos durante o teste – pouco mais de 350 por aparelho, ou 10 GB de imagens.

A maioria das fotos foi feita no modo automático, sem edição ou correção das imagens além do corte para as montagens.

Quando possível, o modo RAW foi ativado para criar cópias originais dos arquivos sem modificação.

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