Por Michelle Farias e Cau Rodrigues, G1 AL


Especialistas apresentam relatório sobre as causas das rachaduras em bairros de Maceió

Especialistas apresentam relatório sobre as causas das rachaduras em bairros de Maceió

O Serviço Geológico do Brasil (CPRM) concluiu que a principal causa para o surgimento das rachaduras nos bairros do Pinheiro, Mutange e Bebedouro é atividade da Braskem na região para extração de sal-gema, um tipo de cloreto de sódio utilizado na fabricação de soda cáustica e PVC. O relatório foi divulgado nesta quarta-feira (8), na sede da Justiça Federal em Alagoas.

Em nota, a Braskem informou que tomou conhecimento com a sociedade alagoana do laudo divulgado na manhã de hoje pela CPRM, e analisará os resultados apresentados frente aos dados coletados por geólogos e especialistas independentes.

A empresa afirma ainda que desde o início do agravamento das rachaduras e fissuras no bairro, em março de 2018, vem colaborando com as autoridades na identificação das causas e informando com transparência e responsabilidade os estudos realizados por empresas de renome internacional (confira a nota na íntegra ao fim do texto).

"A gente entende que existem estruturas geológicas importantes em áreas da mineração da Braskem em uma série de cavidades construídas exatamente na intersecção das estruturas e isso não deixou que a caverna ficasse íntegra, desestabilizou a caverna e causou o que a gente está vendo no Pinheiro, a ruptura", explicou o assessor de Hidrologia e Gestão Territorial do CPRM, Thales Queiroz Sampaio, na audiência pública.

O problema começou em fevereiro de 2018, após fortes chuvas e um tremor de terra. Desde então, a situação só se agravou, obrigando centenas de famílias a deixarem suas moradias por causa dos riscos de desabamento.

Relatório aponta falhas nas minas de extração de sal-gema que já foram paralisadas pela Braskem — Foto: Reprodução/CPRM

Segundo o relatório, a exploração de sal-gema, feita de forma inadequada, desestabilizou as cavernas subterrâneas que já existiam nos bairros, causando o afundamento do solo e, consequentemente, as rachaduras.

Para concluir os estudos, os pesquisadores utilizaram vários métodos científicos que foram interpretados e integrados. Com base na análise subterrânea, os pesquisadores constataram um deslocamento da superfície compatível com a deformação das rochas das camadas geológicas na região de poços de extração de sal-gema.

Os estudos feitos na borda da Lagoa Mundaú, que margeia os bairros do Mutange e Pinheiro, também apontam deformações no local compatíveis com a extração extração do sal-gema.

Após análise do solo, os pesquisadores identificaram que a situação do bairro do Mutange é a mais crítica.

"Quando eu cheguei para fazer a análise do que está acontecendo, eu bati o olho na escarpa [falha geológica] do Mutange e perguntei aos técnicos [da Braskem] sobre essa falha, e eles disseram que não tinha. Eu insisti, e eles falaram que não. Ora, eu sou velho e não precisei de tantos estudos para identificar as falhas do Mutange. A gente entende que o quadro do Mutange é mais grave do que o registrado no bairro do Pinheiro", esclareceu Queiroz, do CPRM.

Ainda com base nos estudos, foi recomendado que sejam tomadas medidas de prevenção, na tentativa de estabilizar os processos erosivos, como saneamento básico, instalação de rede drenagem eficiente nos bairros e demais obras estruturantes.

Os pesquisadores descartaram a hipótese de afundamento causado por efeitos decorrentes da extração de água subterrânea. Entretanto, disseram que os danos foram agravados pela infiltração da água da chuva no solo, que provoca um fluxo forte em direção às águas subterrâneas.

O relatório foi elaborado durante 1 ano e envolveu mais de 50 profissionais nos estudos.

Assessor de Hidrologia e Gestão Territorial do CPRM, Thales Queiroz Sampaio, apresenta Relatório Técnico sobre as rachaduras — Foto: Michelle Farias/G1

Áreas de risco e indenizações

O relatório divulgado nesta manhã não traz a quantidade de pessoas afetadas pelas rachaduras, o objetivo era exclusivamente apontar as causas do problema e apontar possíveis soluções.

Contudo, o CPRM adiantou que a área de risco, que antes era concentrada apenas no bairro do Pinheiro, foi ampliada. Um novo mapa incluindo também o Mutange e Bebedouro deve ser divulgado, e só a partir daí é que haverá definição de quantas pessoas terão que deixar suas moradias.

Até o último levantamento da Defesa Civil Municipal, mais de 500 famílias no Pinheiro tiveram que se mudar por causa do risco de desabamento da estrutura dos imóveis afetados pelas rachaduras.

Em entrevista à TV Gazeta nesta tarde, o defensor público Ricardo Melro disse que o objetivo agora é conseguir com que os moradores afetados sejam indenizados.

"Agora temos a prova definitiva. Vamos pedir antecipação dos efeitos finais da sentença pra liquidar, saber o que cabe a cada morador e transferir as indenizações", afirmou Melro.

Após a divulgação do relatório, o prefeito Rui Palmeira (PSDB) disse que vai acionar a Braskem na Justiça. "Estou, junto à Procuradoria do Município, trabalhando nas ações que vamos entrar contra a empresa, buscando ressarcimento para os moradores e os cofres públicos”.

Confira a íntegra da nota da Braskem

A Braskem vem a público externar sua solidariedade a todas as famílias atingidas pelos eventos do bairro do Pinheiro, em Maceió. A empresa reafirma que continuará com as ações emergenciais que já executa no bairro, o que inclui a inspeção dos sistemas subterrâneos de drenagem, a instalação de estação meteorológica e de equipamentos de GPS de alta precisão para detecção da movimentação do solo, entre outras medidas, a fim de evitar o agravamento dos problemas no bairro frente ao ciclo chuvoso e com vistas a proteger a segurança das pessoas.

A empresa tomou conhecimento com a sociedade alagoana do laudo divulgado na manhã de hoje (08/05) pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e analisará os resultados apresentados frente aos dados coletados por geólogos e especialistas independentes. Desde o início do agravamento das rachaduras e fissuras no bairro, em março de 2018, a Braskem vem colaborando com as autoridades na identificação das causas e informando com transparência e responsabilidade os estudos realizados por empresas de renome internacional.

A Braskem tem compromisso com a segurança das pessoas, tanto de seus integrantes quanto das comunidades em que atua, e analisará juntamente com as autoridades a melhor orientação sobre suas operações locais. A empresa possui laços com Alagoas há mais de quatro décadas e mantém seu compromisso inegociável com a sociedade alagoana.

Braskem

Rachaduras no solo afetam imóveis no Pinheiro, no Mutange, e em Bebedouro, em Maceió — Foto: TV Gazeta/Reprodução

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