25/06/2016 20h08 - Atualizado em 28/06/2016 22h39

Rio Acre deve atingir nível mais baixo em 45 anos, dizem Bombeiros

Órgão estima que em setembro rio atinja 1,50 metros, menor marca registrada.
Águas chegaram a 2,04 m neste sábado (25), menor nível para o mês de junho.

Caio FulgêncioDo G1 AC

Quem lembra do nível das águas do Rio Acre, em Rio Branco, há pouco mais de um ano, quando atingiu a marca histórica de 18,40 metros, custa a acreditar nos 2,04 metros deste sábado (25). Trata-se do mais baixo nível para o mês de junho já registrado pelo Corpo de Bombeiros desde 1971, ano em que o manancial começou a ser monitorado.

Só para se ter uma ideia, segundo boletim da Defesa Civil, o Rio Acre está 2,27 metros abaixo da média para o mês, que é de 4,31 metros. O órgão aponta que, desde o primeiro dia deste mês, as águas sofreram uma queda gradual. No início de junho deste ano, o nível era de 2,71 metros - diminuindo 65 centímetros.

Com auxílio dos bombeiros, o G1 navegou por um trecho do rio no Centro da capital acreana. Segundo o órgão, o cuidado precisa ser redobrado, sobretudo por causa dos chamados "balseiros" - restos de madeira que ficam encalhados no fundo e que acabam dificultando o tráfego das embarcações, com risco até de acidentes.

A tendência é que a situação piore, uma vez que o estado ainda deve enfrentar meses mais secos. Diferente de 2015, a pouca quantidade de chuvas é o que ocasiona a seca. Segundo o major Cláudio Falcão, do Corpo de Bombeiros, a probabilidade de melhores níveis pluviométricos é de apenas 5% para essa época.

"Não tivemos muitas chuvas e o nível do rio não se elevou tanto e, agora, essa água está fazendo falta. Temos meses mais críticos, que são julho, agosto e setembro, quando teremos um nível ainda mais baixo. Em 2011, tivemos 1,50 metro, foi o nível mais crítico. Esperamos que nesse ano possamos alcançar esse mesmo nível", explica.

Baixo nível da água possibilita ver as base das pontes no Centro de Rio Branco (Foto: Caio Fulgêncio/G1)Baixo nível da água possibilita ver as base das pontes no Centro de Rio Branco (Foto: Caio Fulgêncio/G1)

O cenário, apesar de bonito, revela as marcas da seca do manancial. No percurso, é possível encontrar diversas "praias", aglomerados de areia ocasionados pelo baixo volume de água. A diferença é sentida por quem usa o local para pesca, como é o caso do motorista Valmir Lopes, de 43 anos, morador do bairro Cadeia Velha. Ele diz que pesca no Rio Acre há 20 anos.

"Uso o rio para pescar por esporte, quase todo dia. Para mim, que tenho canoa é mais fácil, mas para barco grande é difícil. Senti muito a diferença [em relação a outros anos], o rio está muito seco e para a pesca também está difícil. O peixe foi embora e ninguém sabe para ele foi", fala Lopes.

Produtora rural Maria do Socorro de Araújo diz que nível da rio dificulta escoamento de produção (Foto: Caio Fulgêncio/G1)Produtora rural Maria do Socorro de Araújo diz que nível da rio dificulta escoamento de produção (Foto: Caio Fulgêncio/G1)

A dificuldade da produtora rural Maria do Socorro Araújo, de 51 anos, que vive no Ramal Beira Rio, às margens do rio, é o escoamento da produção, além da safra ruim. Na areia do barranco, pequenas mudas de maxixe, quiabo, milho e feijão tentam sobreviver apesar do sol forte e da terra seca.

"Tem ano que dá muita coisa, mas este ano, as coisas não estão saindo legais e ainda não chegou bem o verão [amazônico], agosto e setembro, meses que o rio baixa bastante. Para navegar tem que tentar desviar, procurar os locais mais fundos, porque fica muita praia e aparece muito toco. Fica bem perigoso", revela.

Realmente, os baixos níveis são preocupantes e requerem experiência no manuseio de embarcações, conforme o major Cláudio Falcão. "Pedimos que os cuidados sejam redobrados, por causa dos bancos de areia. É importante navegar em velocidade menor, tendo cuidado para não topar em coisas que podem causar naufrágio", acrescenta.

Rio Acre atingiu 2,06 metros nesta sexta-feira (24) (Foto: Caio Fulgêncio/G1)Rio Acre atingiu 2,06 metros nesta sexta-feira (24) (Foto: Caio Fulgêncio/G1)

Desabastecimento de água
O Departamento de Pavimentação e Saneamento (Depasa) afirmou que existem problemas para captação tendo em vista o baixo nível do rio. Durante esse período, o sistema para coletar a água é feito por meio de plataformas flutuantes, segundo superintendente do órgão, Miguel Felix.

"Temos duas estações de tratamento que funcionam por captação por torres que ficam dentro do leito do rio. Pelas dificuldades da baixa do rio, atuamos hoje em dia com a captação por sistema de flutuantes", falou.

Motorista Valmir Lopes pesca há 20 anos e também reclama da navegação (Foto: Caio Fulgêncio/G1)Motorista Valmir Lopes pesca há 20 anos e também reclama da navegação (Foto: Caio Fulgêncio/G1)

No entanto, Felix garantiu que ainda não há problemas para o abastecimento. "Estamos tendo condições de manter a captação, o volume e tratamento para distribuição à população. Temos o conhecimento técnico para, mesmo nesse momento de crise de seca, continuar conseguindo bombear água", diz.

Além disso, o gestor orientou sobre o uso consciente da água. "É da nossa cultura desperdiçar água com lavagem de calçada, rua e carro. Nesse período que é complicado tirar a água do rio, porque está muito seco para atender minimamente à necessidade, se as pessoas puderem colaborar é de grande valia", finaliza.

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