Bela, de Pablo Neruda

Querendo ou não, eu tenho um fraco por romance e adulações amorosas. E isso é uma coisa que a gente encontra, e de monte, nos poemas do Neruda. Deixo aqui, só pra vocês, seus limds, mais um dos meus favoritos. ❤

Bela,
como na pedra fresca
da fonte, a água
abre um vasto relâmpago de espuma,
assim é o sorriso do teu rosto,
bela.

Bela,
de finas mãos e delicados pés
como um cavalinho de prata,
caminhando, flor do mundo,
assim te vejo,
bela.

Bela,
com um ninho de cobre enrolado
na cabeça, um ninho
da cor do mel sombrio
onde o meu coração arde e repousa,
bela.

Bela,
não te cabem os olhos na cara,
não te cabem os olhos na terra.
Há países, há rios
nos teus olhos,
a minha pátria está nos teus olhos,
eu caminho por eles,
eles dão luz ao mundo
por onde quer que eu vá,
bela.

Bela,
os teus seios são como dois pães feitos
de terra cereal e lua de ouro,
bela.

Bela,
a tua cintura
moldou-a o meu braço como um rio quando
passou mil anos por teu doce corpo,
bela.

Bela,
não há nada como as tuas coxas,
talvez a terra guarde
em algum lugar oculto
a curva e o aroma do teu corpo,
talvez em algum lugar,
bela.

Bela, minha bela,
a tua voz, a tua pele, as tuas unhas,
bela, minha bela,
o teu ser, a tua luz, a tua sombra,
bela,
tudo isso é meu, bela,
tudo isso é meu, minha,
quando caminhas ou repousas,
quando cantas ou dormes,
quando sofres ou sonhas,
sempre,
quando estás perto ou longe,
sempre,
és minha, minha bela,
sempre.

Poema retirado do livro Os Versos do Capitão. (Fonte)

Laís

Manhã de Inverno, de Machado de Assis

 

“Coroada de névoas, surge a aurora
Por detrás das montanhas do oriente;
Vê-se um resto de sono e de preguiça,
Nos olhos da fantástica indolente.

Névoas enchem de um lado e de outro os morros
Tristes como sinceras sepulturas,
Essas que têm por simples ornamento
Puras capelas, lágrimas mais puras.

A custo rompe o sol; a custo invade
O espaço todo branco; e a luz brilhante
Fulge através do espesso nevoeiro,
Como através de um véu fulge o diamante.

Vento frio, mas brando, agita as folhas
Das laranjeiras úmidas da chuva;
Erma de flores, curva a planta o colo,
E o chão recebe o pranto da viúva.

Gelo não cobre o dorso das montanhas,
Nem enche as folhas trêmulas a neve;
Galhardo moço, o inverno deste clima
Na verde palma a sua história escreve.

Pouco a pouco, dissipam-se no espaço
As névoas da manhã; já pelos montes
Vão subindo as que encheram todo o vale;
Já se vão descobrindo os horizontes.

Sobe de todo o pano; eis aparece
Da natureza o esplêndido cenário;
Tudo ali preparou co’os sábios olhos
A suprema ciência do empresário.

Canta a orquestra dos pássaros no mato
A sinfonia alpestre, — a voz serena
Acordo os ecos tímidos do vale;
E a divina comédia invade a cena.”


WINTER HAS COME!
Que vocês tenham um ótimo solstício de Inverno, muchachos.

Laís

Annabel Lee, de Edgar Allan Poe

Depois de algum tempinho sem atualizar o FTale, venho hoje postar procês um dos meus poemas favoritos: Annabel Lee.

Annabel Lee foi escrito em 1849 e publicado no mesmo ano, um pouco após a morte de Edgar Allan Poe, sendo seu último poema escrito por completo. Como muitos dos poemas desse escritor, tem como tema a morte de uma mulher adorada pelo relator e um amor incomumente forte. De acordo com o Poe, esse tema seria o “mais poético do mundo”.  Muitos dizem que a inspiração de Annabel Lee foi justamente a mulher dele, Virginia. Enfim, leiam atentamente e, claro, comentem o que acharam.

Há muitos, muitos anos, existia
num reino à beira-mar
uma virgem, que bem se poderia
Annabel Lee se chamar.

Amava-me, e seu sonho consistia
em ter-me para a amar.
Eu era criança, ela era uma criança
no reino à beira-mar;

mas nosso amor chegava, ó Annabel Lee
o amor a ultrapassar,
o amor que os próprios serafins celestes
vieram a invejar.

Foi por isso que há muitos, muitos anos,
no reino à beira-mar,
de uma nuvem soprou um vento e veio
Annabel Lee gelar.

E seus nobres parentes se apressaram
em de mim a afastar,
para encerrá-la numa sepultura,
no reino à beira-mar.

Os anjos, que não eram tão felizes,
nos vieram a invejar.
Sim! Foi por isso (como todos sabem
no reino à beira-mar)
que um vento veio, à noite, de uma nuvem
Annabel Lee matar.

Mas nosso amor, o amor dos mais idosos,
de mais firme pensar, podia ultrapassar.

E nem anjos que vieram nas alturas,
nem demônios do mar,
jamais minha alma da de Annabel Lee
poderão separar.

Pois, quando surge a lua, há um sonho que flutua,
de Annabel Lee, no luar;
e, quando se ergue a estrela, o seu fulgor revela
de Annabel Lee o olhar;

assim, a noite inteira, eu passo junto a ela,
a minha vida, aquela que amo, a companheira,
na tumba à beira-mar,
junto ao clamor do mar.


Encontrei essa tradução do Annabel Lee no blog Panorama. Deem uma checada lá!


‘Tava com saudade, muchachos! Hasta luego,
Laís


Uma Criança da Primavera, de Ellen Robena Field

Buttercup Gold and Other Stories, obra da escritora americana Ellen Robena Field, usa a Natureza como metamorfose para a vida, a morte, o crescimento e  as mudanças, com o objetivo de falar para as crianças sobre a vida de um jeito simples, mas, mesmo assim, mágico. Um dos textos desse livro, A Child of Spring (acredito eu que a tradução seja Uma Criança da Primavera), é um poema sobre a Primavera, que a levou a uma grande aclamação crítica, lá pelo final do século XIX. (A tradução fui eu que fiz -bem porcamente, devo dizer-, portanto existem algumas chances de o texto estar completamente errado e um tanto tosco.)

“Conheço uma pequena donzela,
Muito justa e doce,
Quando tropeça entre a grama
Que beija seus delicados pés;
Seus braços estão cheios de flores,
Gotas-de-neve, brancas e puras,
Tímidas violetas de olhos azuis,
E esplendorosos narcisos.

Ela ama sua querida Mãe Natureza,
E vaga sempre ao seu lado;
Ela acena para os pequenos pássaros
Que se reúnem ao longe.
Ela acorda os pequenos ribeiros,
E brisas suaves ouvem seu chamado;
Ela conta às crianças
Os mais doces contos de todos.

Sua fronte é às vezes obscurecida ,
E ela suspira com uma graça gentil,
Até que os raios de sol, amantes ousados,
Beijem as lágrimas de seu rosto.
Conhecemos bem essa moça delicada,
Abril é seu nome;
E a recebemos com alegria,
Quando a Primavera vem novamente.”

Sei que a Primavera está longe de nos dar o ar de sua graça, porém, com esse poema, eu fico esperando ansiosamente pela sua chegada (como sempre).

Laís

A estória da gata Sofia

A estória da gata Sofia é um poeminha que eu escrevi em 2009, a pedido da minha professora de Redação. Escrevi rápido, quase sem querer, usando palavras que eu e outros colegas de classe colocamos na lousa durante uma lição sobre rima. Quando a professora o elogiou (chegou, inclusive, a perguntar se eu tinha copiado de algum outro lugar), estranhei, mas hoje eu a entendo – modéstia à parte rs -, e queria compartilhar com vocês. Espero que gostem!

Muito se dizia
de uma menina
chamada Sofia.

A menina Sofia
Só ria e sorria,
Para total agonia
De sua tia.

Mas sua tia,
ninguém sabia,
tinha poder
sobre a magia
e logo acabaria
A felicidade de Sofia.

Então, em um dia,
A má tia
transformou a sobrinha
numa gatinha…

Mas, para a má sorte
de sua tia
gata não ri,
Mas mia.

Emily