Novo nome no samba, Darlan mostra bom humor ao falar de sua história e do álbum 'Tô te vendo, hein!': 'Nos shows, falo que sou cego do olho vivo'

Sambando na cara do preconceito, cantor carioca repassa sua trajetória e se mostra empolgado com os rumos da carreira: "Sou cego de nascença, mas nunca tive crise com isso"

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Darlan contou com a participação de Marvvila no novo projeto, 'Tô te vendo, hein!' Divulgação

Cria da Zona Oeste do Rio, Darlan nunca se deixou abater por ser cego. Desde criança, o sambista, que tem feito cada vez mais sucesso nas rodas pelo país, se adaptou ao mundo, enxergando a vida de uma forma única e com muita alegria.

— Sou cego de nascença, mas nunca tive crise com isso. Sempre brinquei com isso. Quando participei do programa “Esquenta!” (em 2012, ao lado do também sambista deficiente visual Gabrielzinho de Irajá), ouvi uma pessoa cega na plateia e achei muito maneira a forma que ela brincava com a deficiência. A partir daí, comecei a usar algumas expressões. Hoje, quando me apresento no show, falo que sou o cego do olho vivo, parece que eu tô vendo, mas eu não tô vendo nada (risos) — diz o artista, de 30 anos.

O nome do novo trabalho de Darlan tem tudo a ver com esse jeito bem-humorado: “Tô te vendo, hein”, projeto audiovisual da Deck que é lançado nesta sexta-feira (24), com 16 músicas e seus clipes. Nele, o sambista carioca contou com as participações de Mumuzinho, Marvilla e do grupo Vou Pro Sereno. Animado, ele conta:

— Passa um filme na minha cabeça toda vez que eu falo sobre esse trabalho, que gravamos há quase um ano. A gente já lançou algumas músicas nos últimos meses e agora estamos lançando o DVD completo.

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O sambista Darlan — Foto: Divulgação

Darlan se apaixonou pela música ainda criança, aos 6 anos, quando ouviu uma pessoa no banjo acompanhando uma faixa do Exaltasamba que tocava no rádio. Na adolescência, ele entrou numa escola para ter aulas, começando pelo cavaquinho. Não demorou, e ele logo integrou dois grupos que percorria rodas de samba da Zona Oeste. Até que, em 2016, decidiu focar em sua carreira solo.

— Fiquei com medo. Era inseguro, porque não tinha confiança no que a galera falava para mim. Sempre fui meio perdido — relembra o cantor, que nasceu em Senador Camará, passou a infância e a adolescência na Vila Aliança e hoje mora em Santíssimo.

Com Ferrugem e Péricles como suas maiores inspirações, Darlan já soma cerca de 130 mil seguidores no Instagram e se mostra empolgado com os rumos que sua carreira está tomando. Sobre o título bem-humorado de seu novo trabalho, ele conta:

— O nome veio justamente pela frase que uso sempre, “eu tô te vendo”, que se espalhou nas redes sociais. “Nunca te vi, sempre te amei”, também brinco. São bordões que sempre usei nos meus shows e com os amigos. Aí o pessoal do meu escritório teve a ideia de colocar esse título no DVD.

Darlan com Mumuzinho na gravação de seu novo trabalho — Foto: Divulgação

De bem com a vida desde sempre

Darlan nasceu com glaucoma congênito e chegou a fazer uma cirurgia nos dois olhos. Depois, foi diagnosticado com tumor em uma das vistas, e a doença se espalhou para o outro lado, fazendo-o perder totalmente a visão. Hoje, o músico usa próteses. Mas não faz disso um empecilho para seguir em frente. Apaixonado por alta velocidade, ele chegava a pedalar sua bicicleta pelas ruas da Vila Aliança. Foi naquela época que ele criou um método próprio de reconhecer modelos de veículos.

— Descubro pela maçaneta! — conta ele, que completa: — Sempre gostei muito de carros, tanto que meu sonho é ir a uma pista de corrida.

O artista vive hoje com a mulher, Melissa, e o enteado, Cauã, que considera como filho mais velho — ele é pai de Ilan Samuel, de 9 anos, que mora com a mãe, ex de Darlan. A rotina, ele diz tirar de letra, contando com o apoio da família e dos amigos:

— Convivo muito bem sendo deficiente visual. Às vezes, a galera até esquece que sou cego. Acontece de eu estar num lugar e a galera me deixar lá. Depois, percebem que se esqueceram do cego (risos). Essa forma com que eu enxergo o mundo foi por conta da criação que tive. Minha família não teve esse lance de me criar cheio de dedos — afirma ele, sambando na cara do preconceito.

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