Opinião

Opinião: o outro lado do imediatismo também precisa ser levado a sério

Abel Ferreira é exceção, mas técnicos no Brasil costumam deixar trabalhos pela metade em caso de propostas vantajosas, como foi com Luís Castro.

Foto: Cesar Greco/Palmeiras

É o fim da linha para Luís Castro no Botafogo. O “GE” confirmou a saída do português, que aceitou uma proposta milionária do Al-Nassr, onde treinará Cristiano Ronaldo, entre outros craques. O técnico deixa o Glorioso na liderança do Campeonato Brasileiro, com sete pontos de vantagem para o segundo colocado.

A discussão do imediatismo no futebol brasileiro sempre focou nas demissões dos treinadores que, de fato, são exageradas. No entanto, apesar do número de casos ser muito inferior ao de comandantes demitidos, é preciso começar a olhar para o outro lado: quantos técnicos permanecem em seus respectivos cargos após receberem ofertas mais vantajosas financeiramente de outros clubes, mesmo com contrato a cumprir?

Fora Luís Castro, o caso recente mais famoso no Brasil, provavelmente, é o de Rogério
Ceni, duas vezes. Primeiro, ele deixou um trabalho promissor para trás no Fortaleza para tentar salvar o Cruzeiro do rebaixamento, sem sucesso. Pouco tempo depois, o ex-goleiro voltou a rescindir com o mesmo clube cearense, desta vez para assumir o Flamengo.

O caso de Eduardo Coudet, em 2020, tem algumas semelhanças com o que houve com o Botafogo hoje. O argentino era líder do Brasileirão pelo Internacional naquele ano, e também estava vivo na Libertadores e na Copa do Brasil. Porém, o treinador decidiu pedir demissão para assumir o Celta de Vigo, da Espanha. O Colorado terminou aquela temporada sem títulos.

Após um ano mágico de 2019, Jorge Jesus decidiu rescindir com o Flamengo para retornar ao futebol português. No final do ano passado, Vitor Pereira deixou um trabalho pela metade no Corinthians para tentar a sorte no próprio clube carioca. E por aí vai.

Em meio a muitos casos do tipo, Abel Ferreira se tornou uma exceção no comando do Palmeiras. Com quase três anos de trabalho, o treinador coleciona títulos pelo Alviverde e recusou, mais de uma vez, propostas milionárias do futebol árabe.

A demissão desenfreada de treinadores no futebol brasileiro ainda precisa ser combatida. Mas de quê adianta nos casos em que os comandantes recebem a confiança da diretoria para manter o trabalho, mas abandonam o barco na primeira oportunidade de ganhar mais dinheiro?

Luís Castro toma suas próprias decisões, e não merece ser condenado pela decisão. Se os números estiverem corretos, ele será um dos técnicos mais bem pagos no mundo inteiro, e terá a chance de treinar o maior ídolo da história do seu país de origem. Da mesma forma, nomes como Jorge Jesus e Eduardo Coudet também perseguiram sonhos pessoais ao deixar seus clubes.

Da mesma forma também, a indignação dos torcedores precisa ser respeitada e levada a sério. Luís Castro provavelmente ainda comandará o Botafogo no jogo de logo mais, contra o Magallanes, e deve ser bastante hostilizado. Com razão, desde que as críticas fiquem apenas nos gritos nas arquibancadas.

O imediatismo no futebol brasileiro tem dois lados, e ambos precisam ser levados a sério.

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