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Comida japonesa — Foto: Foto de Frans van Heerden/Pexels
Comida japonesa — Foto: Foto de Frans van Heerden/Pexels

É mais gostoso olhar nos olhos, conversar e dar risada durante o jantar ou ficar grudado na tela do celular? A resposta pode parecer óbvia, mas a realidade está longe disso. É cada vez mais comum ver pessoas mexendo no smartphone durante as refeições, mesmo quando estão acompanhadas, seja para rolar o feed de rede social, saber do que se trata a notificação que acabou de pipocar na tela ou continuar uma conversa no Whastapp.

Para tentar dissuadir os clientes desse hábito ruim que não só prejudica as relações humanas interpessoais mas também traz riscos para quem o pratica, restaurantes começam a oferecer benefícios aos clientes que aceitam se desconectar do mundo digital.

Em Verona, na Itália, o recém-inaugurado restaurante Al Condominio oferece uma garrafa de vinho para os casais (e grupos) que aceitam abrir mão do celular durante a refeição. Mas não basta prometer que não vai usar o celular. Para ter acesso ao benefício é preciso literalmente deixar o aparelho trancado em uma das gavetas disponíveis na entrada do restaurante e mostrar a chave ao garçom.

Angelo Lella, um dos proprietários do Al Condominio, conta que o formato foi criado como “resposta a uma necessidade cada vez mais frequente”, que é justamente fazer uma pausa nos nossos celulares.

— A ideia de refletir sobre o uso consciente de um meio envolve também um momento de desapego. E que melhor momento para o fazer do que num jantar com amigos, colegas ou com as pessoas mais importantes das nossas vidas? — diz Lella.

De acordo com ele, essa não é apenas uma iniciativa isolada. O local foi todo criado em torno de um conceito “tech free” para oferecer uma experiência que “ajuda a lembrar que a tecnologia é muito útil, mas que não pode substituir o calor humano e o prazer de compartilhar momentos agradáveis diante de um bom prato italiano e de uma taça de vinho”.

A iniciativa não é isolada. Em Marina di Cecina, na Toscana, o Separè 1968 oferece vouchers aos clientes que se desconectam dos seus telefones. O restaurante La Putea, em Buccino, na província de Salerno, realizou durante alguns dias de junho o “Jantar offline”, uma ação os clientes que aceitassem entregar o celular na entrada eram recompensados com uma garrafa de vinho a cada duas pessoas.

Em São Paulo, a pizzaria A Tal da Pizza tem uma iniciativa semelhante, mas com foco nas crianças. Em “troca” de sair do celular ou do tablet, elas ganham uma pizza de sobremesa e realizam outra atividade, como brincar com algum jogo ou colorir.

— Os pais falam que não conseguem comer pizza em outro lugar porque as crianças querem sempre ir na pizzaria do “tio Carlos” (o gerente do local) para poder comer chocolate e brincar — conta Miriam Freitas, proprietária do A Tal da Pizza.

Também em São Paulo, o bar Salve Jorge disponibiliza para os clientes o “copo offline”. O objeto foi criado em 2013 pela agência de publicidade Fischer&Friends e tem um recorte especial em sua base que exige que o cliente “encaixe” o celular no copo para não tombar. Isso deixa o aparelho fora do campo de visão do dono. Fausto Saez Salomão, sócio do estabelecimento, afirma que o copo faz sucesso entre os clientes.

A inciativa desses estabelecimentos é cada vez mais necessária em um mundo onde o uso excessivo do celular é praticamente onipresente nos ambientes.

Riscos à saúde

Não desgrudar do telefone, sobretudo na hora de comer, está associado a uma série de prejuízos para a saúde física e mental. Um estudo publicado na revista científica Physiology & Behavior mostrou que usar aparelhos eletrônicos, assistir TV, trabalhar ou estudar enquanto come contribui para o aumento da quantidade ingerida e altera a percepção do sabor dos alimentos.

A nutricionistra Priscilla Primi, colunista do GLOBO e mestre pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, explica que há uma demora de cerca de 20 minutos entre a primeira garfada e o estímulo ao sinal de saciedade.

— Quando a gente come muito rápido e sem prestar atenção naquilo que está comendo, que é o que acontece na frente das telas, a gente acaba comendo mais do que o nosso corpo precisa. Isso vai ter uma consequência no peso e a digestão vai ficar sobrecarregada — explica a nutricionista.

Não conseguir se desconectar nem para comer também aumenta o risco de sobrecarga mental.

— Aumenta o risco de uma mente estressada e superestimulada. A gente não consegue mais estar com a mente no mesmo lugar do corpo. Isso prejudica muito a concentração e a capacidade de manter o foco numa mesma atividade por mais tempo — alerta a psiquiatra Julia Khoury, mestre e doutora em dependências tecnológicas.

Além disso, o hábito prejudica as relações interpessoais, já que a refeição também é um momento de interação, quando nos conectamos com familiares e amigos, por exemplo.

— As pessoas não focam mais em conversar com as outras e isso está prejudicando nossa capacidade de empatia porque empatia se desenvolve com as relações. Se você está se relacionando menos, você não consegue mais interpretar as emoções das outras pessoas ou se colocar no lugar do outro. Isso é um risco em especial para crianças e adolescentes que ainda não têm isso formado — afirma Khoury.

No caso das crianças especificamente, o hábito de comer em frente às telas envolve riscos como o comprometimento do desenvolvimento da coordenação motora fina, da formação do paladar e do sinal de saciedade.

— Na frente da tela, a criança vai comendo automaticamente. Isso atrapalha conhecer a textura. Ela comer sozinha é importante para o desenvolvimento da coordenação motora fina, por exemplo. A gente deveria fazer exatamente o inverso, que é deixar mexer no alimento, se lambuzar e comer com calma, até se sentir satisfeita — diz Primi.

Também é preciso lembrar que o uso de telas pode prejudicar o desenvolvimento infantil. Para evitar que isso aconteça, há orientações bem definidas sobre o tempo recomendado para cada faixa etária.

Para quem está na dúvida se está passando dos limites no uso do celular, um dos sinais de alerta é não conseguir fazer outras atividades — como uma simples refeição — sem usar o aparelho. Uma das dicas para reduzir esse uso abusivo é justamente encontrar atividades prazerosas que não envolvam o uso do celular, usar aplicativos que bloqueiam ou limitam o acesso, aumentar a interação com outras pessoas e implementar “zonas livres de celular” em casa, sendo a mesa da refeição uma das principais. Por isso, mesmo que você não ganhe uma garrafa de vinho, a recomendação é deixar o celular de lado, pelo menos na hora da comida.

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