Inovadores


Robson Privado — Foto: Divulgação MadeiraMadeira
Robson Privado — Foto: Divulgação MadeiraMadeira

"Às vezes, se o mar está muito agitado, não adianta ficar nervoso. O ideal é respirar fundo e buscar ter calma", diz Robson Privado, cofundador e Chief Growth Officer da MadeiraMadeira. O executivo não está falando do ambiente de negócios -- mas poderia. Privado se refere ao surfe, um dos esportes que pratica regularmente e em que busca inspiração para se manter resiliente e seguir inovando na empresa que ajudou a fundar, há cerca de 12 anos. "O surfe traz muitas analogias com o dia a dia do empreendedor. Você não sabe o que a natureza vai oferecer: se muito vento, se poucas ou muitas ondas. Acontece o mesmo dentro de uma empresa. Às vezes, você se prepara, e o imprevisível acontece", observa.

Nascido em Curitiba e filho de pais empreendedores, cuja atividade principal era um cursinho de informática, que depois evoluiu para uma faculdade particular, Privado sempre foi fã de esportes. Aos 40 anos, continua: além do surfe, pratica corrida, faz musculação, eventualmente joga tênis e, na juventude, chegou a pensar em seguir carreira como atleta profissional de basquete. "Não sei se pela falta de altura ou de habilidade, acabou não dando certo", relata, com bom-humor. "Mas sempre quis fazer algo relacionado à atividade física". Aos 18 anos, ingressou na faculdade de Educação Física da Universidade Federal do Paraná, que cursou junto com Administração, na instituição privada comandada pelos pais.

Ao fim do primeiro ano de estudos, criou sua primeira empresa, que era resultado de uma mistura entre as duas áreas. Privado oferecia uma espécie de "otimização" para as academias, do acompanhamento regular da evolução física dos alunos, que, tradicionalmente, era realizado uma vez por ano. Com uma planilha de Excel e anexando algumas fotos, o jovem empreendedor reduzia esse intervalo para de três em três meses. O negócio evoluiu para um sistema automatizado e durou cinco anos, até que ele e o sócio decidiram vender o código e encerrar a operação.

Privado, então, passou por um hiato de três anos na vida empreendedora. Aprovado no primeiro trainee da Leroy Merlin no Brasil, trabalhou na área comercial da empresa durante esse período. "Mas já estava pensando em empreender de novo, quando o Daniel e o Marcelo me encontraram por meio de uma consultoria de executive search", relata. Privado se refere aos irmãos Daniel e Marcelo Scandian, que fundaram a MadeiraMadeira, inicialmente uma empresa familiar, em meados de 2010.

A família tentava levantar uma rodada de investimento série A para transformar o negócio em uma startup de alta tecnologia, mas os investidores, apesar de gostarem do projeto, cobraram a presença de um executivo de fora. Foi aí que Daniel e Marcelo chegaram no nome de Privado. "Inicialmente, me acharam muito novo, eu tinha pouco mais do que 20 anos", recorda o executivo, que literalmente bateu na porta de um galpão ocupado pela MadeiraMadeira em São José dos Pinhais, município limítrofe a Curitiba. "Não estou procurando emprego, estou procurando um projeto", disse Privado na ocasião. "Eu sabia que havia alto risco de dar errado, mas também apostava que o futuro das empresas seria no e-commerce", relata.

Privado entrou como sócio da empresa em 2012, e hoje também leva o título de cofundador, uma decisão que Daniel e Marcelo tomaram em razão do papel de Privado na construção e formação da empresa. "As pessoas estranham, mas esse é um modelo de negócios comum no Vale do Silício, de estender a posição de cofundador aos sócios que estiveram desde o início". Ao longo de 12 anos na MadeiraMadeira, Privado só não atuou em duas posições: CEO (cargo sempre ocupado por Daniel) e à frente da área financeira. Em todas as outras -- vendas, marketing, logística, RH, tecnologia, novos negócios -- esteve presente, ou construindo a área, ou atuando como head.

Em janeiro de 2021, a MadeiraMadeira anunciou ao mercado um aporte de US$ 190 milhões em uma rodada série E coliderada pelo SoftBank Latin America Fund e a Dynamo, o que levou a plataforma de móveis e itens de decoração a alcançar o valuation de US$ 1 bilhão e se tornar o primeiro unicórnio da América Latina naquele ano.

Inspiração para inovar

Livros e viagens. Essa são as duas maiores fontes de ideias para Privado quando precisa de inspiração para inovar. Em 2015, ele e Daniel viajaram à China para entender como funcionava o ecossistema de tecnologia no país. "Não se falava ainda da China como se fala hoje, em termos de estrutura tecnológica. Íamos muito aos Estados Unidos, onde todo mundo tenta ser especialista em um nicho. Vimos que na China não, que as empresas funcionavam mais como um ecossistema, e entendemos que era isso que queríamos para a Madeira", relata. Mais tarde, em 2019, os sócios buscaram em uma viagem à Índia inspiração para o modelo das lojas físicas da empresa.

Depois de crescer no digital, a MadeiraMadeira abriu a primeira loja física em 2020, em Curitiba, onde fica a sede da empresa. Chamadas de guide shops, as lojas não têm estoque e são mais parecidas com um showroom. Os clientes podem experimentar os produtos, e há consultores disponíveis para auxílio e escolha dos itens, mas os clientes não levam as compras para casa diretamente da loja física.

Há dois anos, a MadeiraMadeira vem implementando uma mudança em seu sistema de gestão inspirada por um livro lido por Privado: "Working backwards: Obsessão pelo cliente", escrito por Colin Bryar e Bill Carr, e baseado na história da gigante Amazon. "É uma empresa única, que conseguiu fazer duas coisas muito complicadas ao mesmo tempo: ganhar eficiência operacional e se manter inovadora. Indiquei o livro ao Daniel e contratamos os dois autores do livro para serem nossos advisors e nos ajudarem a implementar o mesmo sistema da Amazon aqui dentro", relata o executivo.

Privado cita Jeff Bezos, fundador da Amazon, como uma de suas inspirações, além de Steve Jobs, Simon Sinek (autor de "Comece pelo porquê: Como grandes líderes inspiram pessoas e equipes a agir") e Jim Collins (autor de "Feitas Para Durar: Práticas Bem-sucedidas de Empresas Visionárias").

Único negro a integrar o time de cofundadores de um unicórnio no Brasil, Privado apoia e desenvolve projetos em prol de seu sonho maior: ver mais negros ocupando posições de destaque na indústria de tecnologia. "Sei que é um objetivo de longo prazo. Daqui a 10 ou 20 anos, quero olhar para o setor e ver mais negros empreendedores e líderes, refletindo nas empresas a real proporção da população negra no Brasil", diz.

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