Einstein e BID projetam ferramenta de IA para detectar doenças tropicais por imagem

Modelo será utilizado por centros de saúde na região amazônica, com pouco acesso a especialistas

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audima
— Foto: Pixabay

O Hospital Albert Einstein e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) estão desenvolvendo um aplicativo que poderá detectar potenciais doenças tropicais por meio de imagens e análise de Inteligência Artificial (IA). A ferramenta será lançada em agosto para a fase de testes e irá identificar, a princípio, casos de Leishmaniose. A doença atinge cerca de 20 mil novas pessoas por ano, a maior parte delas no Norte do país, região amazônica.

O aplicativo, porém, não estará disponível para todos. O profissional de saúde de um posto regional, por exemplo, é que poderá utilizar a ferramenta no auxílio a identificação de determinada ferida na pele dos pacientes. A Leishmaniose é uma infecção por protozoário (parasitas) transmitida por meio da picada de insetos conhecidos como mosquito palha. É grave e hoje 90% dos casos acabam em morte, principalmente pelo diagnóstico tardio.

A identificação costuma ser demorada porque, na maioria das vezes, a identificação das feridas se confunde com outras infecções, ou picadas de insetos menos graves. Com isso, a população passa a ter acesso ao tratamento apenas com a doença avançada, dificultando a sobrevivência.

— Essa tecnologia para ampliar a capacidade do profissional de saúde, e não substituí-lo. Ela também não vai fazer um diagnóstico propriamente dito, até porque é necessário uma raspagem e biópsia. Mas ela ajuda a ponta do sistema de saúde a fazer um rastreamento mais eficiente e evitar exames desnecessários e você consegue encaminhar esse paciente com maior precisão – disse o médico e diretor-executivo de Inovação do Einstein, Rodrigo Demarch.

A IA do aplicativo terá acesso apenas a um banco de dados de fotos de pacientes com a Leishmaniose, selecionadas por profissionais do Einstein e da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas. A expectativa é que os testes durem até dezembro, exclusivamente em pacientes atendidos na Fundação. Depois, se funcionar, a ferramenta terá escala para funcionar em demais centros de saúde no interior do país.

— A Fundação está nos ajudando com imagens que realmente, após raspagem, houve certeza de que eram casos de Leishmaniose. E estamos treinando o modelo com outras variáveis para ele conseguir diferenciar as doenças — disse a gerente de Inovação do Einstein em Manaus, Gabriela Xavier.

O diretor-geral do Hospital Albert Einstein, Henrique Neves, explica que o uso de IA passar por etapas de aprovação.

— Existem duas fases na IA, uma é a validação e a outra é a verificação. A validação é para dizer que o algoritmo é capaz de fazer a identificação. A segunda é quando se checa que a ferramenta é capaz de entregar os resultados.

O BID Invest, braço do banco que reúne financiamentos privados, vai investir inicialmente R$ 450 milhões no trabalho de estruturação da ferramenta.

– Esse tipo de doença está localizada em áreas remotas e atinge uma população vulnerável. O problema é que o diagnóstico vem muito tarde. Vimos uma oportunidade de aproveitar a inteligência artificial. O diagnóstico poderá ser feito de forma mais rápida. Os benefícios para a população serão enormes – disse a diretora do Conselho do BID Invest, Milagros Rivas.

Os pesquisadores estimam ainda que a inteligência artificial poderá avançar, nos próximos anos, para construção de um banco de dados único de pacientes do SUS e rede privada, o que pode auxiliar, inclusive, na previsão de pandemias. Isso porque os dados podem apontar tendências de contaminação por região e velocidade.

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