Futuro do trabalho

Por Marc Tawil

Estrategista de Comunicação, palestrante e educador, Marc Tawil é N° 1 LinkedIn Top Voices, LinkedIn Creator e Instrutor Oficial do LinkedIn Learning


E, embora as contratações de profissionais trans e travestis tenham aumentado cerca de 40% em 2022, o percentual de vagas diminuiu em 5% — Foto: Getty Images
E, embora as contratações de profissionais trans e travestis tenham aumentado cerca de 40% em 2022, o percentual de vagas diminuiu em 5% — Foto: Getty Images

Guarde isso, porque é importante: “mulher trans” é a pessoa que, ao nascer, foi designada como sendo do gênero masculino e, atualmente, se identifica como mulher; “homem trans” é a pessoa que, ao nascer, foi designada como sendo do gênero feminino e, atualmente, se identifica como homem.

Com direitos negados historicamente, pessoas trans encontram (muitas) barreiras no mercado de trabalho – exponencialmente acima de homens e mulheres cisgênero (que se identificam com o mesmo gênero com que foram designadas ao nascer).

O estudo chamado “Demitindo o Preconceito 2.0” (2022), da Santo Caos, apontou que 49% das pessoas trans e travestis sentem que há barreiras para na hora de serem contratadas pelas empresas.

O mesmo levantamento também demonstrou que, entre as pessoas LGBT, trabalhadores(as) trans e travestis representam o menor grupo entre aqueles que recebem a partir de 4 salários-mínimos.

E, embora as contratações de profissionais trans e travestis tenham aumentado cerca de 40% em 2022, segundo levantamento da TransEmpregos, o percentual de vagas diminuiu em 5%, quando comparado a 2021.

“Os dados revelam alguns dos desafios enfrentados por pessoas que se identificam com as respectivas identidades de gênero”, me diz Vitor Martins, mulher trans formada em administração pela Fundação Getúlio Vargas e em psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina, com mestrado em Psicologia pela UFSC.

Premiada como Young Leader - título dado a pessoas com carreiras intraempreendedoras de destaque no Brasil - e um dos 10 perfis LGBTQIA+ mais seguidos do LinkedIn, Vitor atuou no Nubank e acaba de voltar da Inglaterra para assumir a posição de líder de diversidade e inclusão na Swap Financial.

“Talvez a primeira reflexão que deveríamos fazer é que a expectativa de vida de pessoas trans e travestis é menos da metade das expectativas de vida das pessoas cis. Ou seja, enquanto para algumas pessoas o auge da carreira começa aos 35 anos, para a maioria da população trans e travestis, isto significa o ápice da longevidade. Se considerarmos apenas esse elemento como análise central, fica evidente que há um abismo a ser corrigido. E que não podemos pensar na carreira a partir de um modelo universal que busque encaixar todas as pessoas”, afirma Vitor, 30 anos, uma das raras executivas trans do País.

Ela tem razão.

Outro elemento de análise relevante se refere ao fato de que 90% das pessoas trans e travestis trabalham nas ruas, especialmente com a prostituição.

“E a pergunta que fica é: quais as reais perspectivas de carreira em condições de existências tão precárias?”, questiona.

Jornada desafiadora

“O termo ‘carreira’, para mim, foi mudando ao longo dos anos. No início da minha jornada, eu tinha essa ideia de estabilidade, no sentido de entrar em uma empresa, ir crescendo e por lá mesmo ficar até a aposentadoria. Na prática, isso tem bem pouco a ver comigo, pensando em quão dinâmica sou no meu dia-dia. Pensar sobre carreira hoje ainda está ligado à estabilidade – mas não estabilidade de emprego, e sim à segurança financeira. Mas também está ligado a assumir desafios e ir aprendendo coisas novas que possam compor uma caixa de ferramentas multidisciplinar e multiprofissional”, diz.

Vitor Martins define hoje carreira a partir de três palavras-chave: estrada, caminho e crescimento. Estrada e caminho como sinônimos de percurso, uma ou mais direções a serem percorridas e que não precisas ser lineares ou exponenciais.

Crescimento porque, ainda que a carreira não se resuma a crescer, é comum que as pessoas apostem em sua própria jornada, depositando esforços orientados ao crescimento.

O reconhecimento como LinkedIn Brasil Top Voices Carreira, na maior plataforma corporativa do mundo (900 milhões de usuários e 63 milhões de brasileiros), foi importante para solidificar sua imagem como uma profissional de Diversidade e Inclusão.

“Quando percebi que poderia apoiar outras pessoas em suas jornadas profissionais, passei a investir parte do meu tempo mentorando outras mulheres negras, e pessoas trans e travestis, em diferentes momentos de carreira. Essa oportunidade de comparilhar meus aprendizados, conhecimentos e ensinamentos com outros(as) profissionais que se assemelham a mim tem sido um espaço de muita potência.”

Como o Brasil é uma sociedade desigual e que limita acesso, oportunidade e dignidade às pessoas trans e travestis, Vitor aposta no coletivo. “Superar essa desigualdade é responsabilidade da sociedade, das pessoas que se sentam nas mesas de tomada de decisão. No entanto, é primordial assumirmos o protagonismo das nossas carreiras, definir objetivos, encontrar estratégias e demarcar nossas responsabilidades, ainda que o contexto em que atuamos não seja justo. Ao longo da minha jornada, não me diziam que eu seria líder um dia. Hoje lidero a área de D&I da Swap Financial (criada em 2018 por Ury Rappaport, Douglas Storf e Marcelo Schucman). Talvez, se eu tivesse me apegado mais às expectativas dos outros em vez de priorizar as minhas, não teria chegado a esta posição”, declara Vitor.

“O importante é ser dono da sua própria carreira e responder à pergunta: ‘Quais os meus sonhos e objetivos?’. Esse é o primeiro passo para rascunhar o início dessa caminhada.”

*Marc Tawil é estrategista de Comunicação, palestrante e educador, Nº 1 LinkedIn Top Voices, LinkedIn Creator e Instrutor Oficial do LinkedIn Learning, com mais de 14 mil alunos treinados na plataforma. Integra o Reputation Council da Ipsos e dá palestras nas áreas de Futuro do Trabalho, Futuro da Comunicação, Web3, Autoridade Digital, Evolução das Marcas e Sociedade 5.0. Tawil é, ainda, quatro vezes TEDxSpeaker e mestre de cerimônia TEDx. Colunista de Época Negócios e da Eletromídia Out Of Home, atua como Master Expert (curador) na HSM University e LinkedIn Expert em O Novo Mercado. Em 2023, publica pela editora HarperCollins Brasil o livro “Seja Sua Própria Marca”.

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