Futuro do dinheiro

Por Stephanie Tondo


Mercado Bitcoin lança modalidade de tokens de renda fixa no Brasil — Foto: Getty Images
Mercado Bitcoin lança modalidade de tokens de renda fixa no Brasil — Foto: Getty Images

O mercado de criptomoedas não parece ter dificuldades em atrair novos investidores no Brasil. Adeptos das novas tecnologias, os brasileiros já aplicam seus recursos mais em moedas digitais do que ações na Bolsa de Valores. Mas reter esses investidores tem sido um desafio. Em meio ao cenário de volatilidade e juros altos no Brasil e nos Estados Unidos, os clientes têm migrado de volta para aplicações mais conservadoras. Para reverter esse movimento, as plataformas de cripto estão apostando em uma nova modalidade: os tokens de renda fixa.

“O brasileiro gosta do juros garantidos que a poupança e a renda fixa trazem. Nesses momentos de instabilidade de mercado, as pessoas correm logo para aquilo a que estavam acostumadas”, afirma Reinaldo Rabelo, CEO do Mercado Bitcoin (MB).

A proposta dos novos tokens é unir a inovação e a tecnologia que tanto atraem os brasileiros com a segurança da renda fixa, oferecendo produtos digitais, mas menos voláteis. O princípio é o mesmo de produtos como os certificados de depósitos bancários (CDBs), que são títulos de dívidas emitidos por instituições financeiras, e o Tesouro Direto, que são títulos de dívida emitidos pelo governo federal.

Reinaldo Rabelo, CEO do Mercado Bitcoin — Foto: Divulgação
Reinaldo Rabelo, CEO do Mercado Bitcoin — Foto: Divulgação

No caso dos tokens, há opções de investimento que vão de recebíveis de empresas até precatórios - que são títulos de dívidas de um ente público, como a União, com pessoas ou empresas, após decisões judiciais.

“Nossa primeiro ideia foi tokenizar precatórios, porque era mais fácil de entender. É um ativo semelhante a um título público, como os do Tesouro, só que com retorno muito maior. E aí fomos tokenizando outros tipos de dívidas, não só públicas, como privadas. A gente tokenizou recebíveis de cartão de crédito, do setor imobiliário, de clubes de futebol”, conta Rabelo.

Pagamento com tokens

O próximo passo, segundo o executivo, é permitir que o investidor use esses tokens para fazer pagamentos, como se fossem uma espécie de moeda digital. Recentemente, o Banco Central autorizou o Mercado Bitcoin a funcionar como uma instituição financeira, e por isso a empresa planeja oferecer aos seus clientes cartões de crédito da bandeira Mastercard. No futuro, a ideia é que os tokens possam ser usados para pagar compras no cartão, por exemplo.

“Nosso objetivo é que qualquer ativo do MB seja convertido para pagamentos. Então, se eu tenho R$ 100 mil em precatórios investidos e quero comprar uma bicicleta de R$ 1 mil, eu vou poder usar o meu cartão de crédito e o MB vai converter o precatório em pagamento para a loja”, diz o CEO do MB.

Além das soluções que passarão a ser oferecidas pelas empresas em termos de utilização de tokens para pagamentos, Rabelo acredita que os próprios usuários com o tempo começarão a encontrar suas próprias soluções, negociando entre si. Isso é possível porque, ao contrário dos investimentos tradicionais, em que os ativos são “guardados” nas contas dos bancos e corretoras, no caso dos tokens, o indivíduo pode guardá-los em suas carteiras digitais dentro do universo blockchain. Com isso, é possível usar os tokens como se fossem moedas, negociando diretamente com outros usuários.

Aversão a risco

Um dos desafios para a retenção dos investidores no mercado de criptomoedas no Brasil é que boa parte deles é novata no universo da renda variável. Estudo realizado pelo Mosaiclab e divulgado pelo MB recentemente apontou que o número de brasileiros que investem em moedas digitais fica atrás apenas da poupança.

Do total de investidores brasileiros que responderam ao questionário, 35% aplicam em criptomoedas, mesmo percentual daqueles que alocam seus recursos em renda fixa. A poupança corresponde a 73% e a Bolsa de Valores, a 30%. Esses números revelam que há investidores que partiram diretamente de aplicações conservadoras para as criptomoedas, sem passar por um processo de amadurecimento e educação financeira. E sem que tenham se acostumado com a volatilidade da Bolsa.

Muitos deles podem estar até mesmo colocando seus recursos em moedas digitais sem que tenham um perfil de investidor compatível com o risco que esse tipo de aplicação oferece. Para Rabelo, o interesse dos brasileiros nas criptomoedas está mais relacionado à novidade tecnológica do que à confiança na tese de investimentos em si, fazendo com que, em momentos de crise, as pessoas se desesperem e vendam.

Analista de criptomoedas da VG Research, Felipe Martorano afirma que dois fatores são particulares ao Brasil quando se trata do interesse por moedas digitais. O primeiro é o fato de que os brasileiros são conhecidos por serem “early adpoters”. Ou seja, sempre que um novo aplicativo ou ferramenta é lançado no mercado, os usuários brasileiros estão entre maioria. Foi o caso do TikTok e do ChatGPT, por exemplo, mas também das moedas digitais.

A outra questão é o histórico de hiperinflação e de confisco da poupança no Brasil no início dos anos 1990, o que faz com que os brasileiros vejam com bons olhos a possibilidade de proteger os seus recursos com criptomoedas, avalia Martorano. “Mesmo assim, muitos ainda fogem dessa possibilidade, por meio de golpes”, explica o analista. "Mas os avanços regulatórios nesse mercado devem ajudar a tornar esse tipo de aplicação mais segura."

É o caso do Marco Regulatório das Criptomoedas, que entrou em vigor em junho, e criou novos mecanismos de proteção aos investidores, como a inclusão do crime de estelionato ligado a criptomoedas no Código Penal e as regras mais rígidas para fiscalização das empresas do setor.

Grandes players

O analista acredita que, além da regulação, o interesse de grandes players do mercado financeiro é outro aspecto que pode ajudar a popularizar as criptomoedas. Uma das principais gestoras de investimentos do mundo, a BlackRock lançou recentemente um ETF de Bitcoin. Trata-se de um fundo que acompanhará a variação do índice relacionado à moeda digital.

A nova modalidade ainda precisa ser aprovada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) dos Estados Unidos, mas a expectativa é que, quando isso ocorrer, ajudará a alavancar o valor do Bitcoin, que tem se desvalorizado em meio às altas de juros nos EUA.

Outra novidade recente foi o lançamento de uma bolsa de valores exclusiva para criptoativos, a EDX Markets, que recebeu o apoio de gigantes de Wall Street como Citadel Securities, Fidelity Investments e Charles Schwab.

Para Reinaldo Rabelo, CEO do Mercado Bitcoin, a entrada desses players mais robustos, tanto no exterior quanto no Brasil, com os bancos tradicionais e a própria Bolsa de São Paulo (B3), valida a tese de que cripto é um ativo de longo prazo, que vai valorizar conforme essa rede se consolida. “Boa parte da liderança do MB veio da B3 e do mercado de capitais tradicional", afirma.

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