360

Por Antonio Felix do Monte*


 Daniela Menique, presidente da Rhodia, a Empresa do Ano, discursa na cerimônia de premiação do 360º 2022 — Foto: Keiny Andrade/Época NEGÓCIOS
Daniela Menique, presidente da Rhodia, a Empresa do Ano, discursa na cerimônia de premiação do 360º 2022 — Foto: Keiny Andrade/Época NEGÓCIOS

Quatro empresas campeãs setoriais do Época NEGÓCIOS 360º são lideradas por mulheres – Rhodia, Lupo, Aché e Sabin. Um número ainda pequeno se considerados os 25 setores concorrentes na pesquisa conduzida pela Fundação Dom Cabral. Mas é o maior em todas as 11 edições do anuário. Muito importante, uma delas desta vez é a Empresa do Ano, a Rhodia de Daniela Menique, também presidente para a América Latina do grupo belga controlador, o Solvay. Primeira vez de uma mulher à frente de uma Empresa do Ano. Para chegar aí, a Rhodia foi campeã de Química e Petroquímica. Paralelamente, há um firme avanço de todas as 420 participantes da pesquisa em inovação, depois da melhora de resultado no balanço das 500 maiores empresas por receita líquida (veja o gráfico e o quadro).

Daniela, engenheira química pós-graduada em administração, preside um grupo de química com preocupação de “proteger o clima, preservar recursos e promover uma vida melhor”. Não por menos, Daniela foi condecorada em 2021 pelo rei da Bélgica, entre outros motivos, por “sua dedicação contínua aos temas sustentabilidade e responsabilidade social corporativa”.

Dos sete diretores da Rhodia, quatro são mulheres. Não é nenhum modismo, até porque a empresa tem muita tradição, está há 103 anos no Brasil. Centenária também é a Lupo – os cem anos foram comemorados em 2021. Liliana Aufiero, presidente em todas as seis vezes da empresa como campeã de Têxtil, Couro e Vestuário, é neta do fundador da Lupo. Mas é profissionalíssima. Trabalhou anos fora da Lupo como engenheira – foi da primeira turma com mulheres formada pela USP de São Carlos –, venceu preconceitos, chegou à direção da empresa quando a família pensava em vendê-la. Provocou uma reviravolta e hoje lidera uma empresa com receita ao redor de R$ 1,5 bilhão.

Lídia Abdalla Nery, executiva presidente do Sabin Medicina Diagnóstica, campeão setorial de Saúde, recebe prêmio  — Foto: Keiny Andrade/Época NEGÓCIOS
Lídia Abdalla Nery, executiva presidente do Sabin Medicina Diagnóstica, campeão setorial de Saúde, recebe prêmio — Foto: Keiny Andrade/Época NEGÓCIOS

Lídia Abdalla Nery é uma executiva presidente do Sabin Medicina Diagnóstica, campeão de Saúde. Bioquímica, assumiu em 2014 depois de 15 anos na empresa, conduzida pelas duas fundadoras, Janete Vaz e Sandra Costa. Chegou como trainee, e na presidência liderou uma fase de expansão territorial do laboratório – agora, para o atendimento de classes de renda mais baixa. O faturamento está perto de R$ 1,5 bilhão.

Na linha da ciência, Vânia Nogueira de Alcantara Machado, formada em administração, está há 14 anos no laboratório Aché, campeão de Indústria Farmacêutica e Cosméitos. Foi diretora de estratégia e desenvolvimento, da área comercial, liderou os negócios de genéricos e de remédios vendidos sob prescrição e está na presidência desde 2017. Comanda hoje um dos maiores laboratórios farmacêuticos do Brasil, com medicamentos de inovação radical como o de tratamento para vitiligo, prestes a ser lançado. Tem no forno, ainda em inovação radical, mais outros 13 projetos, oito deles com elementos da biodiversidade brasileira.

Na pesquisa, a presença de mulheres em cargos de direção é crescente, especialmente entre as TOP 30 do ranking. Relatos dos presidentes das empresas campeãs deixam isso evidente. Na Afya, de Educação, 40% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres. Em algumas das campeãs, a inclusão é objeto de compromissos ligados ao pagamento de juros nos títulos – os chamados sustainability-linked bonds (SLB). Se a meta não for batida, quem emite os papéis paga juros mais altos. A B3, de Serviços Financeiros, prometeu ter até 2026 35% dos cargos de liderança ocupados por mulheres. Hoje tem 28%. A Suzano, de Papel e Celulose, aumentar os 22,5% em 2021 para 30% até 2025 – eram 19% em 2020. Klabin, vencedora do desafio Inovação, aumentar dos atuais 21% para 30% até 2030.

Existe uma preocupação em ter diversidade, não só nas lideranças. “A diversidade traz valor, novos olhares, novos saberes, novos desafios que antes não estavam sendo percebidos”, afirma Daniela, da Rhodia. A Dexco, ex-Duratex, campeã de Construção, Materiais e Decoração, era uma empresa masculina e branca, como lembra o presidente, Antonio Joaquim de Oliveira. Hoje, do total de funcionários (13,6 mil em 2021), 30% são mulheres e perto de 50% negros ou pardos.

Empresas com funções exercidas tradicionalmente por homens tratam de mudar. Na Romagnole, de Eletroeletrônica, fabricante de material de eletricidade (desde postes para fios de energia a componentes de redes inteligentes), 30% do pessoal é de mulheres e, no caminho da diversidade, lançou programa para contratar profissionais, não importa o gênero, acima de 50 anos. Estreante como a Romagnole no rol das campeãs, a Coopercarga, uma ex-cooperativa de transportadores, desde 2020 uma S.A., fecha parcerias com marcas de peso para combinar inclusão feminina com sustentabilidade. Uma das mais recentes é um acordo com a Natura, nome para lá de conhecido por iniciativas socioambientais. Seis carretas da Coopercarga, com motores menos poluentes, começaram a circular dirigidas por mulheres.

No geral, a pesquisa mostra, para o conjunto das 420 participantes, bom desempenho em ESG/Governança, em Pessoas e, especialmente, em Inovação. Aqui, as empresas obtiveram a maior pontuação na história do anuário, igual à da primeira edição. Agora, o nível de exigência é mais acentuado. É possível verificar como as empresas evoluíram em ambiente mais difícil com a chegada do coronavírus, a partir dos dados apurados pela estatística Ana Denise Ceolin, a quem coube aplicar a pesquisa e processar os dados para esta edição. À pergunta sobre qual tipo de inovação mais teve impacto na receita líquida, a maior parte das respostas (32%, na mediana) foi para “revisão de processos que contribuíram para otimização de recursos e/ou redução de custos”. Em segundo lugar, “novos produtos”, 25%. À pergunta sobre qual percentual de inovação foi desenvolvido com a participação de vários stakeholders, o maior número de respostas (32%) foi para “clientes”, seguido de “fornecedores” (25%).

Algumas das boas ferramentas usadas pelas participantes do Época NEGÓCIOS 360º e pelas maiores empresas do país ajudaram a reverter o quadro mais difícil retratado pelos balanços de 2020. Basta ver os números consolidados das 500 maiores empresas desta edição. A receita líquida cresceu 37,3%, o lucro, 260,1%. Os índices melhoraram bem. A margem Ebitda subiu de 15,4% para 20,3% e a rentabilidade do patrimônio, de 7,6% para 23,9%. São números obtidos a partir de dados agregados, e aí existe um porém. Grandes empresas no topo do ranking tiveram desempenho excepcional, em especial as vendedoras de commodities e de derivados de petróleo. O lucro de Petrobras cresceu 1,6 mil por cento. O de Vale, 387,3%. Os lucros de Petrobras e de Vale equivalem, juntos, a 62,9% da soma de todas as outras 498 companhias integrantes do ranking. Sem Petrobras e sem Vale, a receita do conjunto teria aumentado 30,9% e o lucro 183,3%, números ainda respeitáveis.

Houve avanços e resta a expectativa sobre 2023. Presidentes das companhias premiadas falaram à reportagem de Época NEGÓCIOS 360º a respeito. A pandemia da Covid-19 antecipou em cinco anos, para todas as empresas e para os bancos em especial, o salto tecnológico, segundo Octavio de Lazari Junior, presidente do Bradesco, campeão de Bancos. “O país tem capacidade de entrar em rota de crescimento, mas é necessário domar o fantasma muito severo da inflação. Com isso, os investimentos virão.”

Agronegócio está na mente de vários dos executivos quando o assunto é futuro do país. “O Brasil certamente vai bater recorde de safra no ano que vem”, diz Lazari. “O agronegócio funciona bem e tem capacidade de crescer sem derrubar nenhuma árvore.” Aurélio Pavinato, da SLC Agrícola, campeã de Agronegócio, é do ramo. “Agro é emocionante porque todo ano é diferente do anterior”, diz ele. “O próximo será desafiante.” Os custos dos insumos devem subir, embora as commodties esstejam em alta. “Mas até o clima promete ajuda: será o ano de La Ninã, com chuva no Nordeste, e isso é bom para as nossas operações.”

Segundo Jefferson De Paula, presidente da ArcelorMittal, campeã de Mineração e Siderurgia e outra empresa centenária, “o Brasil é uma potência agropecuária e pode se tornar líder mundial de geração de energia verde e sustentável”. Há oportunidade de investimentos em infraestrutura. “Por acreditar nesse potencial, estamos investindo R$ 7,8 bilhões nos próximos três anos.”

Energia limpa e muito dinheiro está na pauta da EDP, campeã de Energia. O presidente João Manuel Marques da Cruz fala de investimento recorde no R$ 10 bilhões de 2021 a 2025. E Walter Schalka, da Suzano, campeã de Papel e Celulose, lembra do megainvestimento da empresa, de R$ 19,3 bilhões em fábrica a ser inaugurada em 2024, quando a empresa completa 100 anos. São companhias com planejamento de longo prazo, imunes a oscilações de momento.

 — Foto: Época NEGÓCIOS
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*Colaboraram: Caroline Marino, Lizete Teles de Menezes, Márcio Ferrari, Paulo de Vasconcellos, Rosangela Capozoli, Soraia Duarte

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