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 — Foto: Getty Images
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Nos últimos anos, o mercado de tecnologia educacional (edtech) na América Latina e, especialmente, no Brasil, tem passado por transformações significativas. Em 2023, o mercado de edtechs na América Latina enfrentou um desafio significativo, com uma redução de 73% nos aportes de capital de risco, de acordo com dados do Crunchbase. Em comparação, o VC [venture capital] como um todo experimentou uma queda de 38%.

Essa disparidade destaca uma preocupação específica com o setor de edtech, refletindo, talvez, uma cautela maior dos investidores após o pico de investimentos visto em 2021. No entanto, essa queda não diminui o potencial intrínseco do mercado, que continua a atrair atenção devido à sua capacidade de inovar e transformar a educação na região.

Apesar da redução nos investimentos, o Brasil se destaca como o principal mercado de edtechs na América Latina, segundo estudos do Distrito. O país concentra quase 70% do total de startups de educação na região, 80% do volume de investimentos e 76,7% das rodadas de financiamento. Entre 2015 e o primeiro trimestre de 2024, o Brasil movimentou US$ 475,6 milhões em 280 deals, destacando-se significativamente em relação a outros países da região, como Colômbia, Argentina, Peru, Chile e México. Exemplos notáveis de rodadas incluem a Descomplica, que levantou significativos aportes em 2018 e 2021, e a Digital House, que também captou grandes investimentos em 2017 e 2021.

Diversos fundos de capital de risco continuam a apostar no potencial das edtechs brasileiras. Entre os principais investidores estão tanto fundos agnósticos, como Kaszek e Monashees, quanto fundos especializados em edtechs, como Potencia, Crescera e Square.

As maiores rodadas de investimento na América Latina frequentemente contam com a liderança ou participação de grandes fundos agnósticos e, em geral, são destinadas a empresas que oferecem serviços de educação voltados para adultos, com foco em ensino de tecnologia, seja para formação complementar ou para cursos de nível superior.

Os fundos especializados demonstram interesse em uma gama maior de edtechs, investindo em soluções que variam desde aplicações para professores da educação básica até infraestrutura para diferentes tipos de instituições de ensino. Por exemplo, Letrus e Árvore, do portfólio da Potencia, que trabalham com letramento e engajamento na leitura na educação básica. Já a Layers, do portfólio da Square, está desenvolvendo a integração de diferentes edtechs para permitir a interoperabilidade de dados entre gestores educacionais.

Acompanhando mais de perto o mercado de edtechs há pouco mais de 2 anos, tenho investigado as razões por trás da sua menor atratividade para investidores tradicionais, comparativamente a outras verticais, como fintechs e retail techs. O que tenho descoberto é que essa aparente indiferença não se deve à escassez de soluções inovadoras, que continuam a prosperar em grande número. Em vez disso, parece estar mais relacionada ao histórico de retorno sobre investimento, que geralmente não alcança os níveis estratosféricos que os VCs procuram.

As histórias de sucesso também dependem muito do ambiente para um exit favorável, e a atividade de IPOs e M&As na América Latina, com 66 transações registradas entre 2019 e março de 2024, com uma forte preferência por soluções que entregam cursos e aulas, especialmente para adultos.

Além disso, no contexto específico do Brasil, 80% das escolas de ensino básico são públicas, o que torna soluções voltadas para esse segmento menos atraentes para investidores privados. Isso ocorre porque tais soluções frequentemente dependem de vendas para secretarias e governos (B2G), podendo sofrer flutuações significativas durante as transições de gestão. No entanto, é importante destacar que este mercado é vasto: os governos federal, estaduais e municipais brasileiros gastaram R$ 385 bilhões em educação em 2022. Estima-se que cerca de 5% desse montante seja destinado à tecnologia educacional.

O mercado de edtechs na América Latina e no Brasil demonstra uma resiliência notável e um potencial significativo para o crescimento. Apesar da redução dos aportes de capital de risco em 2023, a maturidade do ecossistema brasileiro, a presença de investidores dedicados e as oportunidades no setor público indicam um futuro promissor. Para empreendedores e investidores, este é o momento de explorar e investir em inovação e impacto positivo na educação.

* Itali Collini é economista, investidora-anjo e diretora da Potencia Ventures

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