Ciência e Saúde
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A vida pessoal e acadêmica do americano Randy Schekman, professor da Universidade da Califórnia e vencedor do Prêmio Nobel de Medicina em 2013, mudou de maneira radical em 2017. Naquele ano, sua esposa, Nancy, morreu aos 68 anos, após quase duas décadas sofrendo os sintomas da doença de Parkinson. Logo depois, ele foi procurado por um representante de Sergey Brin, um dos fundadores do Google – Brin é portador de uma das mutações mais comuns que levam ao Parkinson, no gene LRRK2. Ele já doou, em conjunto com sua fundação, mais de US$ 1,3 bilhão para pesquisas a respeito da doença. É um dos maiores financiadores da fundação do ator Michael J. Fox, cuja razão de ser é promover estudos sobre o tema.

Desde então, Schekman comanda a principal iniciativa da dupla Brin e Michael J. Fox: a Aligning Science Across Parkinson’s (ASAP), uma rede colaborativa de pesquisa, com orçamento de US$ 290 milhões, que envolve equipes de 35 laboratórios. Ele se tornou um dos maiores especialistas do mundo na doença que compromete o tempo e a qualidade de vida de pessoas mais velhas e, assim como o Alzheimer, não possui cura. Alguns especialistas afirmam que os doentes só costumam viver de dez a 20 anos após o diagnóstico. Atualmente, 8,5 milhões de pessoas padecem da doença, cuja prevalência duplicou nos últimos 25 anos, por causa do aumento da expectativa de vida no mundo.

Em entrevista a Época NEGÓCIOS, Schekman falou sobre o trabalho da entidade e os avanços científicos que podem favorecer a longevidade.

ÉPOCA NEGÓCIOS Ao longo do último século, a humanidade avançou muito em expectativa de vida, mas pouco na proporção de anos saudáveis ao longo da vida. Deveríamos dedicar mais tempo a resolver o segundo desafio?
Randy Schekman
 Alguns querem viver para sempre. Acho uma ideia ruim. E não gostaria que algumas pessoas, cujos nomes não vou mencionar, vivessem eternamente. É cruel dizer isso, mas acho a renovação positiva. Fazer com que as pessoas vivam muito mais tempo poderá tirar oportunidades dos mais jovens. Defendo estender a vida útil saudável e normal de um indivíduo. Meu pai morreu aos 93 anos, e ele ficou doente só no dia em que partiu. Acho uma boa maneira de ir embora.

NEGÓCIOS Em quais enfermidades devemos focar, se quisermos estender a existência saudável das pessoas, à medida que a expectativa de vida avança?
Schekman 
O Parkinson é uma doença relacionada, principalmente, ao envelhecimento, embora haja casos de início precoce. Michael J. Fox foi diagnosticado aos 29 anos. E é notável que ele esteja vivendo há mais de 30 anos com a doença. No entanto, ele e aqueles envolvidos em pesquisas sobre o tema estão esperançosos e até confiantes de que progressos serão feitos. À medida que as pessoas envelhecem, a doença se torna cada vez mais frequente.

NEGÓCIOS Quão importante é o esforço do setor privado para debelar doenças sem cura que afetam tanto o tempo como a qualidade de vida?
Schekman
 É o que poderá fazer a diferença. Além de novos estudos sobre o diagnóstico, ainda não temos nada para oferecer para quem tem Parkinson. Mas miramos o longo prazo. Meu interesse no assunto se deve à doença da minha esposa. Quando ela foi diagnosticada, descobri o quão lastimável era a pesquisa ligada ao tema e que não haveria nada que a beneficiasse em vida. Lidei com a progressão da doença dela de maneira muito resignada. Mas foi muito frustrante. Como os pacientes apresentam progressões muito diferentes, ninguém pôde me dar uma mensagem clara sobre o que esperar. Não tenho como fazer promessas para um futuro próximo, mas estou confiante de que nossas descobertas vão apontar para novos tipos de tratamento.

LUTA - Diagnosticado aos 29 anos, o ator Michael J. Fox dedica-se há décadas a fomentar pesquisas sobre o Parkinson — Foto: Getty Images
LUTA - Diagnosticado aos 29 anos, o ator Michael J. Fox dedica-se há décadas a fomentar pesquisas sobre o Parkinson — Foto: Getty Images

NEGÓCIOS Um pilar fundamental da ASAP é sua rede colaborativa de 35 equipes de laboratórios – que normalmente competem entre si. Qual é o papel da colaboração no avanço de novas terapias?
Schekman
 É fundamental. A estrutura de recompensas da ciência acadêmica tende a favorecer o cientista individual. É o nome de um ou outro que aparece nas revistas científicas. Por isso, estimulamos que todos os artigos relacionados às iniciativas da ASAP sejam disponibilizados online e com livre acesso, para que o mundo todo possa fazer uso deles. A colaboração teria acelerado, por exemplo, o desenvolvimento das pesquisas relacionadas ao Alzheimer. Mas optou-se por outro caminho.

NEGÓCIOS Já podemos sonhar com a descoberta da causa da doença de Parkinson?
Schekman
 Provavelmente, não há uma única causa e sim várias. Todas elas, pelo menos em parte, provocam danos ao conjunto de células nervosas que produzem a dopamina. Quando mais da metade das células associadas a esse neurotransmissor morre, os pacientes apresentam distúrbios de movimento. E daí a doença progride até que todas essas células estejam mortas.

Não estamos falando de uma doença só, mas de um espectro. A ASAP concentra esforços em alvos diversos associados aos mais de 20 genes ligados às variedades da doença. Deve haver um elemento comum a todas elas. Mas estamos preparados para a possibilidade de que para cada tipo de Parkinson seja necessário um tratamento diferente. O desafio, portanto, pode ser maior do que se pensava.

NEGÓCIOS No que se refere ao diagnóstico precoce e ao tratamento do Parkinson, quais são as principais conquistas do mundo científico até agora?
Schekman
 Um dos estudos que apoiamos já coletou dados genéticos, genômicos e fisiológicos, incluindo amostras de sangue, saliva e líquor, de milhares de pacientes. Esse esforço ajudou a descobrir sintomas anômalos que parecem preceder o diagnóstico. Muitos pacientes, por exemplo, relatam perda de olfato e problemas intestinais. Outros têm distúrbios do sono – em meio a pesadelos, às vezes se jogam da cama, debatem-se. Ao identificar esses indícios, as farmacêuticas podem focar no desenvolvimento de tratamentos para retardar a progressão desses sintomas e talvez revertê-los.

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