Batalha judicial entre ex-diretor da Record e jornalista ganha novo capítulo. MP instaura inquérito contra Márcio Santos, que assediou Elian Matte sexualmente
Publicado em 08/07/2024, às 15h06
O processo judicial entre Márcio Santos e Elian Matte acaba de ganhar mais um capítulo. O Ministério Público instaurou um inquérito contra o ex-diretor de Recursos Humanos da Record que assediou sexualmente o jornalista. Em junho deste ano, o ex-funcionário da emissora de Edir Macedo havia conseguido mais uma vitória na ação ao obrigarem que a empresa o recontratasse. Dias depois, uma nova decisão impediu que ele voltasse para a função.
A coluna teve acesso aos novos protocolos, que instituem a abertura de um inquérito policial para apurar o crime de assédio sexual praticado por Márcio Santos contra Elian Matte. Em dezembro de 2020, o jornalista foi contratado para trabalhar como editor de texto na Record. Cerca de três anos depois, foi promovido e recebeu uma ligação do ex-diretor de Recursos Humanos.
Após comparecer à sala de Márcio Santos, "este teria lhe falado do seu poder na empresa e que tinha poder para demitir até grandes nomes da TV". A aproximação do ex-diretor fez com que ele fosse chamado diversos vezes em sua sala "com pretexto de estabelecer conversas sobre demissão de funcionários, até que, em certa ocasião, pegou no braço de Elian e lhe disse 'Nossa, como você é forte'". O ex-membro da equipe de Roberto Cabrini passou a desconfiar dos convites e evitou ir ao ambiente.
O ex-diretor de Recursos Humanos ainda enfatizou que estava arrependido de ter assinado a promoção de Elian Matte, uma vez que ele "não tinha mais tempo para 'os cafés'". Márcio Santos passou a vigiá-lo pelas câmeras de segurança da empresa e enviou mensagem o assediando. "Espero que o Raphael não fique muito perto de você, já foi ficar com raiva dele! (...) Oi, está tão concentrado, que nem vou ficar lhe atrapalhando! Só para dizer que mesmo no escuro você se destaca, seu lindo! (...) Preciso mais que nunca de um psicólogo. Que ciúmes desse povo grudado em você com esses músculos a amostra!".
Diante da qualidade da denúncia e das provas arroladas ao processo, o Ministério Público determinou que o inquérito policial deve ser aberto, "considerando que os fatos ora apurados se amoldam a figura típica do crime de assédio sexual". Os promotores ainda reiteram que, caso seja confirmado o crime, o ex-diretor pode vir a ser preso, com pena máxima de dois anos.
No dia 10 de abril deste ano, Márcio Santos foi demitido. Elian Matte foi deligado treze dia depois, seis meses após denunciar o crime à alta cúpula da Record. Na mesma época, uma reportagem da revista Piauí expôs o escanda-lo. Antes disso, o jornalista havia conseguido um afastamento após ser constatado que ele sofria com "esforço excessivo" de trabalho. Logo depois, ele foi diagnosticado com Síndrome de Bournout, mas conseguiu retomar suas atividades em regime de home office.
Em maio deste ano, a 31ª Vara do Trabalho de São Paulo definiu que a Record deveria recontratar Elian Matte, sob pena de multa diária de R$ 100 mil. No mês seguinte, a emissora conseguiu reverter a decisão imposta. Ou seja, a empresa não é mais obrigada e colocá-lo de volta em seu quadro de funcionários e tão pouco na equipe de Roberto Cabrini, onde atuava até então.
"Fiquei extremamente surpreso, pois apresentei mais de dez relatórios médicos atestando o burnout. Inclusive, aval da médica do trabalho da Record para que eu trabalhasse em home office enquanto estivesse em tratamento. É uma decisão que me causa tristeza e desesperança na Justiça desse país (...) Eu fui demitido estando doente e a Justiça foi conivente. Vou recorrer até as últimas instâncias", lamentou à coluna.
