A professora, filósofa e ativista norte-americana Angela Davis classificou como "retrocesso" a suspensão do livro "O Menino Marrom", do cartunista Ziraldo, pela Prefeitura de Conselheiro Lafaiete, no interior de Minas Gerais. A obra aborda a história de dois meninos, um negro e um branco, que tentam compreender melhor as cores no mundo. Ouça a reportagem completa abaixo:
'O menino marrom', de Ziraldo, é suspenso de escolas em cidade de MG — Foto: Reprodução
Na abertura do Festival LED, realizado pela TV Globo e pela Fundação Roberto Marinho, com apoio da Editora Globo, Angela disse que a atitude reflete a expansão do conservadorismo no mundo e uma tentativa de sobrepor conquistas referentes à igualdade racial.
"Certamente isso reflete a ascensão do conservadorismo que estamos vivendo em todo o mundo. O que eu gostaria de dizer sobre esse conservadorismo do século 21 é que é uma resposta às vitórias que nós ganhamos em nossos esforços de ir na direção do futuro sem racismo", destacou.
'Conhecimento é oposto absoluto da escravidão'
Angela participou do painel "Educação como caminho para a liberdade", mediado pela jornalista Aline Midlej, da GloboNews, no Museu do Amanhã. A ativista destacou que todas as sociedades deveriam ter a educação como prioridade, com investimento e qualidade para todas as pessoas.
"O conhecimento é um oposto absoluto da escravidão. Nós devemos viver vidas dedicadas à educação. Nós não devemos nunca parar de aprender. A conhecimento é libertação. Libertação traz conhecimento", declarou.
'Eterna aprendiz'
Questionada do porquê ainda dá aulas mesmo aposentada, Angela classificou a si própria como "eterna aprendiz", porque aprende enquanto ensina.
"Eu não sei o que mais eu faria. E como eu disse antes, ensinar também é aprender. Eu me considero uma eterna aprendiz. À medida em que eu ensino, eu aprendo. Eu acho que essa é a lição mais importante que eu aprendi de Paulo Freire: que você não pode ensinar de uma posição de superioridade. Você sempre tem que ensinar em uma posição igualitária", reforçou.
Angela Davis fez parte dos Panteras Negras, partido que surgiu nos Estados Unidos na década de 1960 em defesa da comunidade negra. Ela ainda foi perseguida pelo FBI, por causa do conteúdo dos livros, e presa em 1970, sendo absolvida dois anos depois e libertada.
Terceira edição do Festival LED
Programação da terceira edição do Festival LED — Foto: Mariene Lino/CBN
Outros palestrantes confirmados na 3ª edição do LED são o ativista indígena Ailton Krenak, da Academia Brasileira de Letras; o rapper Criolo; e o professor Mário Sérgio Cortella, comentarista da CBN, além dos influenciadores Felipe Neto e Pequena Lo; do apresentador Marcos Mion; e do humorista Fábio Porchat. Jornalistas da TV Globo também participam de painéis sobre o papel do jornalismo em tempos de fake news, inteligência artificial e mudanças climáticas.
O Festival LED é voltado para debates e discussões sobre diferentes assuntos no universo da educação, como ensino básico, educação digital e antirracismo. Entre as novidades dessa edição, estão novos palcos e o LEDinho, espaço dedicado para atividade com as crianças.
No Museu de Arte do Rio, a programação inclui oficinas, aulas, palestras, brincadeiras e rodas de conversas sobre assuntos como empregabilidade, bullying nas escolas e primeira infância. Os vencedores da última edição do Prêmio LED vão fazer pequenas apresentações sobre os projetos deles nos intervalos dos painéis.
Ao final dos dois dias de Festival LED - 21 e 22 de junho -, o público poderá acompanhar shows gratuitos no Palco Multishow, com apresentações da banda Os Garotin e do cantor Simoninha.
As inscrições para participar presencialmente do LED já estão encerradas, mas as principais mesas de debate podem ser acompanhadas ao vivo pelo Canal Futura e pelo Globoplay, com transmissão aberta para não assinantes.