• Camila Santos | Fotos Getty Images
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Certamente, você se lembra de ter visto algo a respeito dos ecossistemas brasileiros durante o período escolar. Caso não se recorde, cada um desses conjuntos faz parte de um bioma, termo utilizado para descrever espaços geográficos com homogeneidade entre a fauna e flora destes locais. Ou seja, animais e plantas que estão adaptados a diversos fatores regionais, como clima, solo, altitude, pluviosidade, entre outros.

No Brasil, país com ampla diversidade, encontram-se seis biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. Mas você sabe qual é a situação e a importância de cada um deles? A seguir, o doutorando do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, Alvaro Doria dos Santos, detalha o cenário atual e explica como a ação humana pode interferir e prejudicar o meio ambiente. Confira!

Amazônia

Raio-X dos biomas: qual é a importância dos ecossistemas e como podemos preservá-los (Foto: Getty Images)

Ocupando quase metade do território nacional, figura entre os maiores biomas brasileiros. Presente em três regiões do nosso país (Centro-oeste, Norte e Nordeste), ele se estende a outras localidades, como Bolívia, Colômbia, Equador, Guianas, Suriname, Peru e Venezuela.

A Amazônia é lembrada por abrigar a maior floresta tropical do mundo e toda sua a grandiosidade é refletida em biodiversidade: ela conta com mais de 40 mil espécies – com estimativas de que sejam até 100 mil – entre as quais destacam-se o açaí, cupuaçu, castanha-do-brasil e a seringueira. Além disso, calcula-se que aproximadamente 20% de todas as espécies de animais do mundo estejam situadas neste bioma. Os seus rios são lar do boto-cor-de-rosa, o maior golfinho de água doce, e do pirarucu, um dos maiores peixes de água doce do Brasil.

Entretanto, apesar da exuberância, a Amazônia sofre diariamente com diversas ações de desmatamento, que danificam o sistema de ‘rios voadores’, responsável por abastecer outras regiões do continente. Esses rios são formados através do fenômeno de evapotranspiração, no qual a água captada pelo solo é liberada pelas plantas como vapor, na atmosfera. Então, a água volta para a própria floresta em forma de chuva ou segue para outros lugares da América do Sul, impactando o sistema pluvial.

Caatinga

Raio-X dos biomas: qual é a importância dos ecossistemas e como podemos preservá-los (Foto: Getty Images)

Ela se estende por cerca de 70% do Nordeste e também se encontra no Norte de Minas Gerais. É caracterizada por possuir longos períodos sem chuva com médias térmicas elevadas. Devido ao clima quente e seco, predominam em sua flora as plantas xerófitas, ou seja, vegetais adaptados a pouca umidade (em geral, essas plantas possuem folhas modificadas em espinhos e com fisiologia própria que evitam a perda excessiva de água).

Bioma do semiárido mais diverso do mundo, a Caatinga possui mais de mil espécies de vegetais, destacando-se a carnaúba e o cumaru e quase duas mil espécies de animais, incluindo o veado-catingueiro, o tatu-peba e a asa branca. Outro animal símbolo deste bioma é a ararinha-azul, extinta na natureza desde 2000. Atualmente, cerca de 180 representantes da ave existem em cativeiro.

Segundo Alvaro, este bioma é altamente afetado por queimadas causadas por seres humanos. Como consequência dos incêndios, pode haver a desertificação do local, o que leva à extinção de espécies endêmicas, que são aquelas que aparecem apenas na Caatinga. De acordo com dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), 42,3% da sua cobertura vegetal original já sofreu algum tipo de modificação e 52% do bioma sofre com problemas de degradação. Entretanto, cerca de 4% da área da Caatinga é protegida pelo Governo.

Cerrado

Raio-X dos biomas: qual é a importância dos ecossistemas e como podemos preservá-los (Foto: Getty Images)

O Cerrado – também conhecido como savana brasileira – é o segundo maior bioma do país e ocupa uma área significativa do Centro-oeste. Ele possui clima tropical sazonal com duas estações bem definidas: período das secas e das chuvas. Por causa do longo tempo de estiagem somado às altas temperaturas, é comum o aparecimento de chamas que atingem o local.

As queimadas naturais são muito importantes para o bioma, pois além de fertilizarem o solo com as suas cinzas, são responsáveis por germinar plantas com sementes duras que racham apenas em contato com o fogo e, assim brotam no solo. Apesar da alta adaptabilidade do Cerrado ao calor, a alta frequência das queimadas resultantes da ação humana se torna um grave problema, pois algumas espécies necessitam de um intervalo de tempo após o fogo para que possam germinar. Desta maneira, os incêndios e o desmatamento, resultantes das atividades do agronegócio, afetam a capacidade de resiliência deste bioma.

Por fim, o Cerrado abriga cerca de seis mil espécies de plantas e quase quatro mil espécies de animais. Esse bioma é lar do mais raro tatu do mundo: o tatu-canastra, espécie ameaçada de extinção. Cerca de 8,21% da área total do Cerrado é legalmente protegida com unidades de conservação.

Mata Atlântica     

Raio-X dos biomas: qual é a importância dos ecossistemas e como podemos preservá-los (Foto: Getty Images)

A Mata Atlântica se estende por 17 estados, vindo desde o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul. Alvo de desmatamento, principalmente, no século 20, cerca de 15% de sua cobertura original ainda existe em pequenos fragmentos. Possui clima tropical mais úmido e clima de altitude nas serras (conhecidas como mar de morros). 

Ela abriga diversas espécies únicas deste bioma e, assim como a Amazônia, é conhecida como um hotspot, ou seja, um lugar com grande diversidade, mas que se encontra em risco de degradação. Devido à grande fragmentação e perda da sua cobertura original, a Mata Atlântica está fragilizada, sendo a sua preservação extremamente importante para a manutenção deste bioma.

A preocupação com a saúde da localidade se dá pelo fato de cerca de 20 mil espécies de plantas e duas mil espécies de animais viverem por lá. Em relação à flora, o bioma apresenta jequitibás, pau-brasil e a araucária, árvore símbolo da Mata Atlântica e do estado do Paraná. Um dos animais característicos deste bioma, o mico-leão-dourado, está ameaçado de extinção.

Pampa

Raio-X dos biomas: qual é a importância dos ecossistemas e como podemos preservá-los (Foto: Getty Images)

Restrito ao Rio Grande do Sul, o Pampa – conhecido como pradaria ou campos do Sul –  corresponde a cerca de 2,5% dos biomas brasileiros e é reconhecido pelas terras baixas com colinas arredondadas. Com clima subtropical, essa área é marcada pelo frio e chuvas pouco intensas.

Possui cerca de três mil espécies de plantas, com ênfase para as 450 espécies de gramíneas, como o capim-das-pampas. Quanto aos animais, existem cerca de 700 espécies que vivem no bioma, entre elas, o gato-dos-pampas, que está ameaçado de extinção.

Atualmente, resta apenas 36% da vegetação nativa da região, já que boa parte foi desmatada para a criação de monoculturas de soja e arroz. No Pampa, há apenas uma Área de Proteção Ambiental, que é a APA do Ibirapuitã.

Pantanal

Raio-X dos biomas: qual é a importância dos ecossistemas e como podemos preservá-los (Foto: Getty Images)

Presente no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, é uma planície que está sob influência hídrica direta de biomas adjacentes como Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Chaco (do Paraguai e Bolívia). Um ponto interessante é que possui clima tropical, com o seu verão chuvoso e o inverno seco. Sendo que, no período de calor, até 80% de sua planície chega a ficar alagada. Por volta de cinco mil espécies de animais e plantas estão neste bioma, com destaque para o tuiuiú, ave símbolo do Pantanal.

Deve-se citar que 2020 foi um marco terrível para este bioma, pois cerca de 26% de sua vegetação foi devastada em incêndios derivados de ações humanas para atividades de agropecuária. Além disso, o uso de agrotóxicos também afeta diretamente o solo do Pantanal. No entanto, segundo o ICMBio, somente 4.4% de seu território está protegido por unidades de conservação.

Por que devemos preservar esses biomas?

Alvaro salienta que cada ecossistema exerce um papel primordial na vida das pessoas, seja como fonte de alimento ou produto. “Isso vai desde o látex que utilizamos na produção de borracha até as frutas que ingerimos no café da manhã”, diz. O especialista acrescenta que a prospecção de novos medicamentos e outras substâncias só é viável por meio de estudos da fauna e flora locais. “Isso faz dos nossos biomas verdadeiros cofres do nosso patrimônio natural que salvaguardam a nossa existência. Quando perdemos parte deste patrimônio estamos perdendo possíveis novas espécies que poderiam ajudar a responder perguntas científicas importantes para o nosso próprio progresso como civilização.”

Conforme o professor Magno Botelho, ecologista da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a sociedade pode contribuir com a preservação dos biomas por meio de melhores escolhas de consumo. “Devemos verificar se as empresas são ambientalmente e socialmente responsáveis. Também precisamos conferir se as organizações têm a cadeia de matéria-prima localizadas nesses biomas e como elas se comportam em relação a eles”, explica. Somado a isso, ele pontua que a escolha dos governantes possui relação direta com a situação do meio ambiente.


Já a bióloga especialista Andréia Celso, ressalta que tanto poder público quanto a população precisam se conscientizar e inserir a educação ambiental no dia a dia. “Leis rígidas e fiscalização efetiva, atendendo às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras também são fundamentais para que os seres humanos respeitem os limites da natureza, em vez de destruírem seus ecossistemas”, finaliza.