Arte

Por Maria Mesquita


Fragmento de pintura mural: mulher com tapa-boca (padam) de Rogers Fund, 1945  — Foto: Divulgação
Fragmento de pintura mural: mulher com tapa-boca (padam) de Rogers Fund, 1945 — Foto: Divulgação

O acervo do Metropolitan Museum of Art é um dos mais proeminentes do mundo, com diversas sessões de arte espalhadas por ele, principalmente de artes nativas. Grande parte das obras presentes no The Met são doadas ou emprestadas por colecionadores, e os principais doadores são Valerie e Charles Diker, referências na curadoria e colecionismo de arte moderna, contemporânea e nativa.

Com uma enorme coleção, os Dikers fazem doações para o museu desde 1933. Em 2017, um presente de 91 obras de arte nativas foi enviado e, pela primeira vez, colocado na ala americana – uma vez que as artes nativas usualmente eram colocadas nos departamentos de Arte da África, Oceania e Américas – com informações incompletas. Por esse motivo, em 2020, o The Met contratou sua primeira curadora da Arte Nativa Americana.

Coleção de arte nativa no The Met: 85% não possui a documentação histórica registrada  — Foto: Divulgação
Coleção de arte nativa no The Met: 85% não possui a documentação histórica registrada — Foto: Divulgação

Patricia Marroquin Norby, curadora do Met, é de uma comunidade indígena mexicana, a Purépecha. Patricia conta em um artigo de opinião sobre a dificuldade da repatriação dos objetos nativos e investiga o foco crescente das artes nativas no Met.Algumas tribos buscam a repatriação, enquanto outras preferem uma abordagem de co-administração ou preferem que as obras permaneçam no museu. As necessidades da comunidade são diversas, mas muito específicas”, afirma a curadora no texto publicado pela revista Hyperallergic.

Túnica, Legado de Jane Costello Goldberg, da coleção de Arnold I. Goldberg, 1986 — Foto: Divulgação
Túnica, Legado de Jane Costello Goldberg, da coleção de Arnold I. Goldberg, 1986 — Foto: Divulgação

Em levantamento feito pela agência de jornalismo investigativo ProPublica, registros confirmam que cerca de 85% dos 139 objetos doados ou emprestados ao museu pelo casal Diker não têm informações completas da sua proveniência, o que contempla artigos de 200 a 2000 anos. Além disso, os presentes possuem uma falta de históricos documentados, sinal de que as obras podem ser falsas ou roubadas.

Outra questão polêmica gira em torno das descrições dos objetos nas fichas do museu e materiais online. Quando comparados a contextualização histórica, muitos apresentam uma grande divergência de informações. O mesmo relatório aponta que o The Met não informou as comunidades nativas em tempo hábil, ou seja, em seis meses, a posse dos artefatos. Decretado pela Lei de Proteção e Repatriação de Túmulos dos Nativos Americanos (NAGPRA) de 1990, museus financiados pelo governo federal têm o dever de notificar e consultar as tribos quando adquirem um objeto de sua cultura, seja ele sagrado ou funerário.

 Shakhùkwiàn (casaco masculino), empréstimo da Coleção Charles e Valerie Diker — Foto: Divulgação
Shakhùkwiàn (casaco masculino), empréstimo da Coleção Charles e Valerie Diker — Foto: Divulgação

Um dos objetos destacados é um conjunto de flechas e aljavas, que foram exibidas em 2019 no The Met e estão listados como Apache, mas o relatório da investigação alega que essa caracterização dada foi falta de diligência às comunidades indígenas, uma vez que, questionadas, poderiam responder qual grupo Apache criou os itens. Na década de 1870, um dos líderes militares dos Estados Unidos, William Tecumseh Sherman, foi perseguidor dos Apaches - o que leva à hipótese de que este artefato pode ter sido saqueado ou levado sob a mira de uma arma.

Tira de cobertor, The Charles and Valerie Diker Collection of Native American Art, presente prometido de Charles e Valerie Diker — Foto: Divulgação
Tira de cobertor, The Charles and Valerie Diker Collection of Native American Art, presente prometido de Charles e Valerie Diker — Foto: Divulgação

Fora essa antiguidade, existem outras com falta de informação clara. Um exemplo é uma máscara Alutiiq, da década de 1870. Adquirida pelo Metropolitan Museum of Art em 2017, está listada apenas como “A Família Horner, Mill Valley, CA”, que foi o seu último paradeiro antes de 2003. Porém, a linha histórica dos objetos Alutiiq estão bem listados desde 1800 até 2008, quando os Dikers compraram a máscara.

Chocalho do Xamã, empréstimo da Coleção Charles e Valerie Diker — Foto: Divulgação
Chocalho do Xamã, empréstimo da Coleção Charles e Valerie Diker — Foto: Divulgação

Além da falta de pesquisas profundas, o roubo de alguns objetos estão ligados a séculos de massacre, apagamento cultural indígena e abuso das artes. No The Met, a explicação não apresenta esses fatos, apenas o significado espiritual da obra apresentada.

Short Bull Falls from Wounded Horse, The Charles and Valerie Diker Collection of Native American Art, presente prometido de Charles e Valerie Diker — Foto: Divulgação
Short Bull Falls from Wounded Horse, The Charles and Valerie Diker Collection of Native American Art, presente prometido de Charles e Valerie Diker — Foto: Divulgação

Outra obra que segue na mesma vertente é o “Modelo Tipi Cover”, de 1885, e dado ao museu em 2018. A peça exibe guerreiros triunfantes a cavalo, segurando escudos que representam suas sociedades masculinas e foi representado como objetos para venda a militares visitantes, funcionários do governo durante o início da vida da reserva. Desde que o museu aceitou o presente, há 5 anos, os responsáveis não entraram em contato com as autoridades tribais, indo contra as leis impostas pelo NAGPRA.

Coleção de arte nativa no The Met: 85% não possui a documentação histórica registrada  — Foto: Divulgação
Coleção de arte nativa no The Met: 85% não possui a documentação histórica registrada — Foto: Divulgação
Casal de colecionadores Valerie e Charles Diker — Foto: Getty Images
Casal de colecionadores Valerie e Charles Diker — Foto: Getty Images

Quando questionado pelo ProPublica, sobre as informações históricas das artes, os Diker disseram que foram atrás de “toda a informação disponível relativa à proveniência” e que inspirar a apreciação da arte nativa tem sido a maior paixão deles.

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