A descontraída casa do fotógrafo Ruy Teixeira e da artista Paula Juchem (Foto: Ruy Teixeira)

Sobre o sofá da Ovo, no living, repousa um tecido pintado por Paula Juchem e Elisa von Randow para o projeto Monaloca, iniciado pela dupla na Europa – o quadro (à esq.) também foi feito pelas duas, e o pendente é daMoooi, na Firma Casa

Entre Milão e São Paulo, ao longo de duas décadas de união, a artista gaúcha Paula Juchem e o fotógrafo paulistano Ruy Teixeira mudaram seis vezes de endereço. Há dois anos, trocaram a Vila Madalena por Perdizes. A proximidade da escola dos filhos – o casal tem duas meninas, de 4 e 12 anos, e um rapaz, de 17 – influenciou a escolha do bairro, onde elegeram um sobrado de 1957 para viver. “A originalidade do imóvel nos agradou. Ele ainda conserva a mesma porta de entrada, o parquet na sala, o granilite na cozinha e caquinhos no piso da frente da casa”, conta Paula. “Aqui, eu sinto sabor de infância”, afirma Ruy.

A descontraída casa do fotógrafo Ruy Teixeira e da artista Paula Juchem (Foto: Ruy Teixeira)

Ceramista de mão cheia, Paula ensinou as crianças a moldar e esmaltar o barro, e algumas esculturas dela e dos filhos ficam expostas sobre o aparador herdado do avô de Ruy: a peça em formato de cabeça (na parede, à dir.) é de Paula e
recebeu colar da ceramista baiana Damares – o décor também exibe fotografias de Elisa von Randow, Leonardo Finotti, Lorenzo Tricoli, escultura de Artur Lescher, quadro de Pedro Teixeira e obras do paraibano Antonio Dias

Com 120 m² (30 a menos do que a morada anterior), o novo lar obrigou a família a manter apenas o essencial. Nenhuma das obras de arte, porém, foi deixada de lado. Pinturas, gravuras, fotos e esculturas de renomados artistas ocupam as paredes da sala na companhia de móveis ícones do design: poltrona Paulistano, de Paulo Mendes da Rocha, mesa lateral de Ettore Sottsass, aparador atribuído a Joaquim Tenreiro, sofás das marcas Ovo e Edra. “É a coleção das nossas vidas e desperta memórias afetivas. Quase nada foi comprado, mas adquirido em troca do nosso trabalho”, revela Ruy. Paula complementa: “São obras de amigos e parceiros de diferentes épocas e lugares. Gosto da sensação de tê-los por perto.”

A descontraída casa do fotógrafo Ruy Teixeira e da artista Paula Juchem (Foto: Ruy Teixeira)

Banquinhos são uma das paixões de Ruy, que costuma espalhá-los pela casa: este, no quarto do casal, funciona como mesa lateral – a luminária pendente tem cordão de cerâmica moldado por Paula, que também pintou, com a amiga Elisa von Randow, a roupa de cama

A descontraída casa do fotógrafo Ruy Teixeira e da artista Paula Juchem (Foto: Ruy Teixeira)

Bia, de 12 anos, brinca com slime no quarto que divide com a irmã – na parede fica exposta a coleção de bonecas assinada pela artista Cássia Macieira e o exemplar da indiazinha produzida por indígenas da ONG Mulheres Bonequeiras

A rotina da família é intensa, mas nem por isso eles deixam de honrar o compromisso de se sentarem juntos à mesa ao menos no jantar. Na maioria das vezes, Paula se incumbe das refeições e já inspira Eva, a caçula, a fazer seus próprios bolos. Talento, deve-se dizer, não falta para esse quinteto. Pedro, o mais velho, também cozinha, além de tocar divinamente o violão. “Ele ainda não decidiu se quer prestar vestibular para música ou arquitetura”, explica a mãe. A filha do meio, Bia, como muitas das pré-adolescentes de sua idade, está na fase dos slimes. “Nossa casa funciona como um instrumento de arte. Mais do que aconchego, oferecemos estímulos a nossos filhos”, diz Paula.

A descontraída casa do fotógrafo Ruy Teixeira e da artista Paula Juchem (Foto: Ruy Teixeira)

Na cozinha, o coração da casa, a mesa e as cadeiras de design escandinavo foram compradas em um antiquário de Lugano, na Suíça – todas as peças de cerâmica são assinadas  por Paula, comexceção da fruteira de vidro, da marca italiana Dovetusai

Nos fins de semana, chegam os amigos. “Reunimos todos na cozinha para experimentar e recordar receitas que fazíamos na Itália. Assim, conseguimos manter vivas as lembranças de Pedro e Bia, que nasceram lá.” De 2004 a 2012, o casal com os dois filhos morou em um parque florestal próximo a Milão. Segundo eles, a vida mais simples daqueles tempos está de certa forma representada no atual bairro da capital paulista. “Adoramos nossa vizinhança. Perdizes ainda é um bairro pitoresco, tema oficina da costureira, a loja de salame, o barbeiro baratinho, o mecânico... essa atmosfera nos faz bem.”

A descontraída casa do fotógrafo Ruy Teixeira e da artista Paula Juchem (Foto: Ruy Teixeira)

Juntos há 20 anos, Paula e Ruy mantêm os amigos sempre próximos, mesmo que seja por intermédio das obras de arte: neste autorretrato no living, eles posam diante da foto de Elisa von Randow e obras de Lenora de Barros, madrinha de casamento do casal

O contato amistoso como entorno traz a eles uma sensação de segurança mesmo vivendo em uma residência de muros e portão baixinhos. “Não temos medo e não queremos que as crianças tenham. Nossa relação com a cidade é de afeto”, assegura Paula.

A descontraída casa do fotógrafo Ruy Teixeira e da artista Paula Juchem (Foto: Ruy Teixeira)

De volta à sala, sobre o bufê garimpado em um antiquário na Suíça, cerâmicas de Paula, cobogó de Fernando e Humberto Campana e escultura de Ettore Sottsass – banquinho de Gilberto Pacheco Medeiros, na Passado Composto Século XX,e tapeçaria de Kennedy Bahia, um presente da avó de Paula (“Ela tinha 26 netos e, antes de morrer, pediu para cada um de nós escolher algo de sua casa”) – à esq. dela, fotografia de José Bassit, e, à dir., outra, de Fernando Lombardi

De qualquer maneira, mantêm uma Santa Isabel da Hungria fincada no canteiro do jardim frontal. “É uma imagem que nos acompanha desde o primeiro imóvel no Brasil”, explica Ruy. Habituado a fotografar a casa dos outros para publicações nacionais e internacionais, ele confessa se sentir feliz ao reconhecer a história de sua família na morada que escolheram para viver. “Nosso retrato está registrado com exatidão neste lugar”, arremata.

A descontraída casa do fotógrafo Ruy Teixeira e da artista Paula Juchem (Foto: Ruy Teixeira)

O estúdio do fotógrafo tem retrato da artista Lenora de Barros, e o gatinho sobre a mesa foi adquirido no mercado de pulgas de San Donato, em Milão