• 08/03/2019
  • texto andreas kühnlein | fotos luis ridao
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Por dentro do apartamento-estúdio de Le Corbusier, recém reaberto ao público (Foto: Luis Ridao)

O pequeno escritório de Le Corbusier, com a cadeira 209, design Gebrüder Thonet

Como uma paisagem, os telhados de Paris se espalham em camadas diante do observador maravilhado que sobe ao terraço do edifício Molitor, projetado por Le Corbusier em 1931 e onde ele morou até a morte, em 1965. “Como construímos para pessoas felizes?” era a pergunta que se fazia o tempo todo. Ele próprio descobriu a resposta e a experimentou intensamente ao longo da vida. Aos 44 anos, Charles-Edouard Jeanneret-Gris, conhecido como Le Corbusier (sobrenome do avô), recebeu a encomenda de um prédio moderno com 15 apartamentos em localização privilegiada.

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Por dentro do apartamento-estúdio de Le Corbusier, recém reaberto ao público (Foto: Luis Ridao)

O tijolo cerâmico perfurado, no nicho, é um dos objetos que serviam de inspiração visual para o morador

Por dentro do apartamento-estúdio de Le Corbusier, recém reaberto ao público (Foto: Luis Ridao)

Na sala de estar, o sofá de três lugares LC5, design Le Corbusier, e a escultura Femme dansant, também assinada por ele, sobre tapete de couro de vaca, uma paixão do arquiteto

Alguns dos cinco princípios elementares de sua arquitetura estão presentes na estreita construção no número 24 da rua Nungesser et Coli, no 16º arrondissement, declarada Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco em 2016: as colunas de concreto substituem as paredes, tornando a planta aberta e flexível; a fachada-cortina, que pode ser inserida livremente sem qualquer prejuízo estrutural; e o terraço-jardim, um espaço de convivência recorrente em seus trabalhos.

Por dentro do apartamento-estúdio de Le Corbusier, recém reaberto ao público (Foto: Luis Ridao)

A parede vermelha (à dir.), fica de frente para a poltrona LC1 e a luminária Applique de Marseille, desenvolvida para este espaço, e os tabourets LC14 – em primeiro plano, parte da mesa de tronco de árvore maciço desenhada por Pierre Jeanneret

Por dentro do apartamento-estúdio de Le Corbusier, recém reaberto ao público (Foto: Luis Ridao)

A escada caracol sem corrimão conecta os dois andares do apartamento-estúdio

O projeto era impactante, mas financeiramente precário: a obra foi interrompida inúmeras vezes. Um ano após a conclusão, o cliente faliu, resultando em anos de disputas sobre a propriedade. Mesmo assim, o arquiteto recém-casado havia reservado os dois últimos andares e a cobertura, sob a condição de arcar com os custos da empreitada.

Por dentro do apartamento-estúdio de Le Corbusier, recém reaberto ao público (Foto: Luis Ridao)

Pa sala de estar, a porta pivotante de grandes proporções ao lado do sofá LC5

Em 1934, ele se mudou para o local com sua mulher Yvonne Gailis e o cão schnauzer Pinceau. Enquanto seu trabalho arquitetônico se concentrava no ateliê da rua des Sèvres, a criação artística acontecia no apartamento-estúdio de 240 m² banhado por luz natural, e de modo bem peculiar, como se tivesse duas personalidades diferentes. Uma vez, atendeu um cliente pela manhã e disse que “o Le Corbusier” estaria em casa depois do almoço. Mais tarde, quando ele voltou, o arquiteto o tratou como se fosse a primeira vez.

Por dentro do apartamento-estúdio de Le Corbusier, recém reaberto ao público (Foto: Luis Ridao)

Na divisão entre as salas de estar e jantar, em meio aos painéis folheados de carvalho, a arte de Le Corbusier aparece

Por dentro do apartamento-estúdio de Le Corbusier, recém reaberto ao público (Foto: Luis Ridao)

Detalhe da luminária Lampe Gras

Do quarto, cujo layout é inspirado nas modernas cabines de navios transatlânticos, até as instalações da cozinha, tudo era artístico e funcionalmente moderno, à frente do seu tempo. Se hoje quisermos ter uma ideia de como Le Corbusier imaginou o jeito de morar, não existe lugar melhor que este apartamento, reaberto à visitação pública após dois anos de restauro. O maior desafio foi recuperar a aparência original – ele estava sempre experimentando coisas novas em seu lar, alterando a disposição dos móveis, trocando a cor das paredes, instalando painéis de proteção contra a luz, produzindo, adquirindo e expondo obras de arte.

Por dentro do apartamento-estúdio de Le Corbusier, recém reaberto ao público (Foto: Luis Ridao)

O acesso ao terraço-jardim tem poltrona LC1 ao lado do tabouret e da luminária Lampe Gras, tudo desenhado pelo mestre)

Por dentro do apartamento-estúdio de Le Corbusier, recém reaberto ao público (Foto: Luis Ridao)

Na sala de jantar, ao lado das cadeiras 209, design Gebrüder Thonet, surge a mesa de mármore LC11-P, design Le Corbusier, Charlotte Perriand e Pierre Jeannere

Toda a mobília é original, e quase tudo foi desenhado pelo mestre. Os dois andares da cobertura se conectam por uma escada caracol sem corrimão. No andar de cima, ao lado do terraço-jardim, o quarto de hóspedes tem vista panorâmica da cidade. No passado, era reservado para a mãe de Le Corbusier, que amava apreciar a paisagem. Um privilégio agora acessível a todos os admiradores do arquiteto. E de Paris. 

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Por dentro do apartamento-estúdio de Le Corbusier, recém reaberto ao público (Foto: Luis Ridao)

O quarto simula a cabine de um navio transatlântico, incluindo a cama de casal de altura incomum, projetada para ter vista panorâmica da região de Boulogne Billancourt por cima do guarda-corpo da varanda

Por dentro do apartamento-estúdio de Le Corbusier, recém reaberto ao público (Foto: Luis Ridao)

O banheiro do apartamento-estúdio

Por dentro do apartamento-estúdio de Le Corbusier, recém reaberto ao público (Foto: Luis Ridao)

Mais um ângulo do banheiro

Por dentro do apartamento-estúdio de Le Corbusier, recém reaberto ao público (Foto: Luis Ridao)

O mobiliário fixo na cozinha foi uma inovação no início da década de 1930