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Por dentro do apartamento-estúdio de Le Corbusier, recém-reaberto ao público
Um passeio instigante pelo modo de viver do arquiteto em Paris
2 min de leituraComo uma paisagem, os telhados de Paris se espalham em camadas diante do observador maravilhado que sobe ao terraço do edifício Molitor, projetado por Le Corbusier em 1931 e onde ele morou até a morte, em 1965. “Como construímos para pessoas felizes?” era a pergunta que se fazia o tempo todo. Ele próprio descobriu a resposta e a experimentou intensamente ao longo da vida. Aos 44 anos, Charles-Edouard Jeanneret-Gris, conhecido como Le Corbusier (sobrenome do avô), recebeu a encomenda de um prédio moderno com 15 apartamentos em localização privilegiada.
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Alguns dos cinco princípios elementares de sua arquitetura estão presentes na estreita construção no número 24 da rua Nungesser et Coli, no 16º arrondissement, declarada Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco em 2016: as colunas de concreto substituem as paredes, tornando a planta aberta e flexível; a fachada-cortina, que pode ser inserida livremente sem qualquer prejuízo estrutural; e o terraço-jardim, um espaço de convivência recorrente em seus trabalhos.
O projeto era impactante, mas financeiramente precário: a obra foi interrompida inúmeras vezes. Um ano após a conclusão, o cliente faliu, resultando em anos de disputas sobre a propriedade. Mesmo assim, o arquiteto recém-casado havia reservado os dois últimos andares e a cobertura, sob a condição de arcar com os custos da empreitada.
Em 1934, ele se mudou para o local com sua mulher Yvonne Gailis e o cão schnauzer Pinceau. Enquanto seu trabalho arquitetônico se concentrava no ateliê da rua des Sèvres, a criação artística acontecia no apartamento-estúdio de 240 m² banhado por luz natural, e de modo bem peculiar, como se tivesse duas personalidades diferentes. Uma vez, atendeu um cliente pela manhã e disse que “o Le Corbusier” estaria em casa depois do almoço. Mais tarde, quando ele voltou, o arquiteto o tratou como se fosse a primeira vez.
Do quarto, cujo layout é inspirado nas modernas cabines de navios transatlânticos, até as instalações da cozinha, tudo era artístico e funcionalmente moderno, à frente do seu tempo. Se hoje quisermos ter uma ideia de como Le Corbusier imaginou o jeito de morar, não existe lugar melhor que este apartamento, reaberto à visitação pública após dois anos de restauro. O maior desafio foi recuperar a aparência original – ele estava sempre experimentando coisas novas em seu lar, alterando a disposição dos móveis, trocando a cor das paredes, instalando painéis de proteção contra a luz, produzindo, adquirindo e expondo obras de arte.
Toda a mobília é original, e quase tudo foi desenhado pelo mestre. Os dois andares da cobertura se conectam por uma escada caracol sem corrimão. No andar de cima, ao lado do terraço-jardim, o quarto de hóspedes tem vista panorâmica da cidade. No passado, era reservado para a mãe de Le Corbusier, que amava apreciar a paisagem. Um privilégio agora acessível a todos os admiradores do arquiteto. E de Paris.
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