• Por Annalisa Rosso; Fotos Filippo Bamberghi
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CV372 Casa Celine Marcato Hall de Entrada (Foto: Filippo Bamberghi)

O hall de entrada da Villa La Quieta, coração da propriedade de Céline Marcato, brinda quem chega com a visão de um armário Settimio e uma mesa Basoli, ambos designs dos irmãos Campana para Galleria O. Roma – o quadro na parede é de Angela Glajcar e as esculturas sobre a mesa, de Jean-Michel Folon (ao fundo) e Lorenzo Perrone (à frente), enquanto a luminária no piso de granilite é da FontanaArte

Dos terraços da Villa La Quieta, há uns 50 anos, teria sido possível ver Le Corbusier nadando no mar. Seu célebre Cabanon, onde costumava passar férias, fica bem ali embaixo, junto a outra construção famosa, a Villa E-1027, de Eileen Gray. Situado na Costa Azul, o pequeno vilarejo de Roquebrune-Cap-Martin atraiu, ao longo do tempo, inúmeros personagens, incluindo os irmãos Wright, pioneiros da aviação – que mandaram construir esta casa ainda no início do século 20. Hoje, quem mora aqui é Céline Marcato, curadora e galerista de design que mantém vivo o espírito desbravador e irrequieto do local. “Nunca parei em lugar algum”, diz. “Em 20 anos, eu vivi em todos os cantos, rodei o mundo.” Sua referência, porém, não são os célebres aviadores.

CV372 Casa Celine Marcato Sala de Jantar (Foto: Filippo Bamberghi)

Uma luminária de Johanna Grawunder encabeça a sala de jantar, composta por cadeiras de Gio Ponti, da Cassina, em volta de mesa feita sob encomenda, sobre a qual repousam esculturas de Violaine Ulmer (à esq.) e Andrea Branzi (à dir.) – o quadro na parede é de Enrico Baj

A poucos passos do edifício principal se avistam as paredes vermelhas da Villa Auziera, a outra casa que faz parte da propriedade. “É um tributo a Le Corbusier. A sala com a lareira ao ar livre remete à que Corbu havia feito para Charles de Beistegui, na Champs Élysées, em Paris.” Céline hospeda, na Auziera, designers internacionais num programa de residência artística em que os visitantes são tomados pelo genius loci, o espírito local. O chileno Sebastian Errazuriz foi o último a estar presente. No jardim, cuidado pela paisagista Anna Peyron, Winston Churchill vinha pintar suas telas tal qual um impressionista tardio.

CV372 Casa Celine Marcato Retrato (Foto: Filippo Bamberghi)

Céline Marcato, dona da galeria Gate 5, em Mônaco, posa no hall de entrada sobre a poltrona Rococó, exibida pelos irmãos Campana em mostra na David Gill Gallery, de Londres 

"Muito antes dos outros, os irmãos Campana souberam enxergar os cruzamentos culturais do mundo de hoje""

Céline Marcato, galerista

A Villa La Quieta, por sua vez, é frequentada regularmente por designers de fama internacional. Johanna Grawunder, por exemplo. “É uma amiga”, conta Céline. “Recentemente, uma ideia para uma nova peça – um lustre espetacular – lhe ocorreu justamente quando estávamos no terraço.” Os irmãos Campana também já estiveram aqui em inúmeras ocasiões. “Na minha opinião, são simplesmente geniais – e nem estou levando em consideração meu afeto por eles”, continua a galerista. “As criações deles têm poesia, inteligência, beleza – diante delas, sorrimos sempre. Muito antes de tantos outros, os designers souberam enxergar e interpretar os cruzamentos culturais do mundo contemporâneo.” No piso superior, no quarto da filha de Céline, um toque de doçura: o armário Ripado, dos Campana, guarda os bichos de pelúcia da menina, cuja multiplicidade de cores se vê através das lascas de madeira.

CV372 Casa Celine Marcato Living (Foto: Filippo Bamberghi)

Dois sofás do célebre designer italiano Luigi Caccia Dominioni ficam frente a frente no living, que abre espaço para o desenho autoral da poltrona Alligator, de Fernando e Humberto Campana para Galleria O. Roma, da mesa de centro Artefact, de Martin Szekely e da luminária Magic Mirror, de Johanna Grawunder (acima da lareira), além de exibir a pintura de Enzo Cucchi (à dir.)

A casa em si é fonte de inspiração: se alternam peças históricas do design italiano, de Gio Ponti a Gino Sarfatti, e itens contemporâneos, de Andrea Branzi, Martin Szekely e dos Formafantasma. São parte do trabalho da proprietária, que cuida de tudo em período integral; em junho, sua galeria Gate 5, que fica em Mônaco, participou pela primeira vez do Design Miami/Basel. O escritório de Céline fica escondido no jardim, na antiga capela, com uma vista de perder o fôlego.

CV372 Casa Celine Marcato Banheiro (Foto: Filippo Bamberghi)

Com vista para o mar da Costa Azul, a sala de banho é decorada com um retrato de Serge Gainsbourg, de quem a proprietária é fã


A restauração da construção principal e da vizinha Villa Auziera leva a assinatura do arquiteto italiano Lorenzo Berni, professor de restauro arquitetônico no Politécnico de Milão e grande admirador da obra do pai do modernismo. Como se não bastasse, a galerista conta: “Duas vezes por semana eu corro até o cemitério de Roquebrune, e depois do exercício visito o túmulo de Le Corbusier”. O santo protetor da morada, portanto, parece óbvio. Não fosse por um detalhe: as notas musicais desenhadas na escadaria de entrada, no jardim. “É a Ballade de Johnny-Jane, de Serge Gainsbourg”, explica Céline. “Minha filha de 5 anos se chama Jony Jane. Esta casa é para ela.”

CV372 Casa Celine Marcato Quarto (Foto: Filippo Bamberghi)

O quarto de Jony Jane, a filha de Céline, recebeu duas edições limitadas dos irmãos Campana: a versão Teddy Bear da poltrona Banquete e o armário Ripado, onde a pequena armazena suas pelúcias 

CV372 Casa Celine Marcato Cozinha (Foto: Filippo Bamberghi)

A cozinha de estilo industrial combina elementos antigos, como o sofá, o relógio e a mesa garimpada em um mercado de pulgas de Paris, com cadeiras dos anos 1950 e lustre original da casa

CV372 Casa Celine Marcato Escritorio (Foto: Filippo Bamberghi)

A antiga capela da Villa Auziera, parte da propriedade, foi transformada em escritório e recebeu mesa de Eero Saarinen e foto de Mick Jagger clicada por Bob Gruen

CV372 Casa Celine Marcato Jardim (Foto: Filippo Bamberghi)

O jardim de Villa La Quieta dá para a vista da Baía de Roquebrune