• 10/12/2020
  • RAFAEL BELÉM
Atualizado em

A floricultura é um dos mercados mais dinâmicos e promissores do Brasil. Com 8,2 mil produtores, 15 mil hectares de área cultivada e mais de três mil variedades produzidas em todo o país, o mercado de plantas e flores é um setor bilionário, responsável por 200 mil empregos em toda a cadeia, segundo dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor). Mas será que tamanho crescimento é acompanhado por práticas sustentáveis a altura?

Quais os caminhos para um mercado de plantas mais sustentável? (Foto: Divulgação)

Quais os caminhos para um mercado de plantas mais sustentável? (Foto: Divulgação)

Para Gabriela Nora, sócia da Galeria Botânica, há ainda um longo caminho a ser percorrido e barreiras a serem derrubadas em prol da sustentabilidade nos campos, estufas e jardins. A começar pelo uso do plástico, presente na fabricação de inúmeros acessórios e, principalmente, vasos.

"O vaso de plástico é uma questão bem séria na produção de plantas, porque eles sequer  podem ser reutilizados", diz. "Eles precisam ser esterilizados num processo muito mais caro e trabalhoso do que a compra de vasos novos...Ou seja, ao mesmo tempo que o setor cria um 'mundo verde', ele também enche nosso planeta de plástico e outros resíduos. É algo muito contraditório", afirma a cenógrafa botânica. 

Plantas e flores secas: aprenda a prepará-las e usá-las na decoração (Foto: WESLEY DIEGO GOMES)

Plantas e flores secas: aprenda a prepará-las e usá-las na decoração (Foto: WESLEY DIEGO GOMES)

Em entrevista para Casa Vogue, Gabriela Nora aponta caminhos possíveis para um mercado de plantas e flores mais sustentável, humano e consciente. Confira a íntegra a seguir:

Qual a sua avaliação sobre sustentabilidade pelo viés da botânica? Como você insere a Galeria Botânica nesse contexo?
O mercado de flores passou por um processo horrível na pandemia. Toneladas foram jogadas fora e queimadas, até porque flor é algo muito difícil de fazer compostagem. Na Galeria, nós já trabalhávamos com arranjos de flores e folhas secas, mas agora conseguimos reaproveitar 100% do que temos. Percebemos que é possível fazer com praticamente qualquer espécie.

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Sempre tivemos aversão ao plástico, por isso, desde o início, pensamos em soluções para reduzir o uso desse material. Nunca utilizamos embalagens com celofane, por exemplo, além de substituirmos os vasos de plástico por bambu. Mas, mais do que pequenas ações, acredito que a sustentabilidade também passa por relações sustentáveis baseadas num pensamento maior, coletivo e colaborativo. 

Para além das questões que estão na ponta do iceberg, como o fim do uso de plástico, de que forma é possível traçar iniciativas sustentáveis nesse mercado cada vez mais disputado?
Importante é pensar em sustentabilidade como algo mais amplo do que 'somente' não usar plástico. Deve ser encarado com um pensamento de vida que vai desde como tratamos as pessoas, os clientes, os funcionários, os parceiros... Essa é a minha grande questão. Sustentabilidade fala de vida, de relações sustentáveis de trabalho e de procedimentos. Não usar plástico é o básico.

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Por isso, nosso trabalho tem como preocupação engajar toda a cadeia produtiva que nos cerca. Isso passa pela valorização de quem está com a gente, do indivíduo, mas também por um clima organizacional feliz e com propósito. A Galeria Botânica é mais do que uma loja de plantas e flores, por exemplo. Também somos uma galeria para artistas e pequenos artesãos que dificilmente teriam a oportunidade de projetar o próprio trabalho e ser dignamente remunerado por isso. E isso também passa por práticas sustentáveis. 

Você falou sobre a importância de engajar toda a cadeia produtiva. Como é a relação com a sua? Como você insere princípios sustentáveis nela?
De fato, não adianta só eu mudar. Temos que impactar o entorno e toda a cadeia que nos cerca. Como fazer isso? Com uma série de discussões com produtores, fornecedores e parceiros. Precisamos criar pontes, pesquisar muito e colocar todo mundo no mesmo barco. Um exemplo prático é que muitos dos produtores ainda usam vasos de plástico. Uma das alternativas que propusemos foi a substituição por vasos biodegradáveis, que é algo que já existe no mercado, mas pouco adotado. 

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O vaso de plástico é uma questão bem séria na produção de plantas, porque eles sequer  podem ser reutilizados. Eles precisam ser esterilizados num processo muito mais caro e trabalhoso do que a compra de vasos novos...Ou seja, ao mesmo tempo que o setor cria um 'mundo verde', ele também enche nosso planeta de plástico e outros resíduos. É algo muito contraditório e que só é possível de ser revertido diante de uma mudança em cadeia. 

Nosso caminho é o da proposição de discussões, criar um circuito de pensamento que permeie toda a cadeia, com soluções coletivas e colaborativas no mercado de plantas e flores. Não é algo tão simples, é uma mudança de paradigma. Mas sinto que é uma transformação em curso e que hoje temos uma voz, um espaço de fala.