• Bruna Martins
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O centro de São Paulo guarda grande parte da história da cidade. Em seus edifícios antigos e históricos, é possível observar nuances da arquitetura de décadas (ou séculos!) atrás e, até mesmo, do estilo de vida antes comum na sociedade. No entanto, é fato que muitos desses prédios vem sendo desprezados e sofrendo a ação do tempo, perdendo muito da sua história e de seu glamour.

O movimento de retrofit de edifícios históricos no Centro de São Paulo (Foto: Divulgação)

O movimento de retrofit de edifícios históricos no Centro de São Paulo (Foto: Divulgação)

Para contribuir com a regeneração urbana dessa região, o movimento de restauração de edifícios antigos e seu reposicionamento social é algo que vem crescendo a cada dia. O edifício Marajó é um exemplo: vizinho ao Minhocão e construído nos anos 1940, foi um dos símbolos da verticalização da cidade na época.

O retrofit, realizado após aquisição do prédio pela Ilion Partners, renovou os 21 apartamentos do edifício (de 45 a 90 m²), duas lojas térreas, fachada e áreas comuns, além do projeto de interiores para os apartamentos dos últimos andares e reforma dos terraços, que dão vista para os bairros da Barra Funda e Higienópolis.

O movimento de retrofit de edifícios históricos no Centro de São Paulo (Foto: Divulgação)

Resultado do retrofit realizado em uma das unidades do edifício Marajó, ao lado do Minhocão (Foto: Divulgação)

Segundo Maxime Barkatz, fundador da Ilion, o negócio foca na aquisição de edifícios antigos e que não receberam investimentos ao longo dos anos ou que, ainda, sofrem de um déficit de gestão. A elaboração do projeto de retrofit e o acompanhamento das obras ficam por conta de escritórios de arquitetura contratados pela instituição.

Processo de restauração

Camille Bianchi é arquiteta e fundadora do escritório Readymake, que atua há mais de sete anos na restauração de edifícios em São Paulo e na França. Além do próprio edifício Marajó, o negócio também foi responsável pelo retrofit do condomínio edifício Tangará, na Vila Clementino.

Entenda o movimento de retrofit de edifícios históricos no Centro de São Paulo (Foto: Divulgação)

Perspectiva artística do retrofit do edifício Tangará, na Vila Clementino (Foto: Divulgação)

Composto por dois prédios, o imóvel teve todo seu layout alterado com, inclusive, um aumento no número de apartamentos – chegando a 56 unidades residenciais e seis lojas, todos disponíveis exclusivamente para locação. Adição de elevadores, reforma de sistemas e fachadas, além da inclusão de áreas comuns como academia, coworking e lavanderia coletiva, também foram contemplados pelo projeto.

De acordo com Camille, o processo de revitalização é, em primeiro lugar, um processo de descoberta da história dos locais que, geralmente, sofreram diversas transformações que alteraram suas características iniciais.

O movimento de retrofit de edifícios históricos no Centro de São Paulo (Foto: Divulgação)

Fachada do edifício Marajó, um dos que já foram revitalizados no Centro da capital (Foto: Divulgação)

“Em um primeiro momento, estudamos os materiais, os revestimentos e as qualidades espaciais que podemos reutilizar e destacar, tais como pé-direito alto, ambientes amplos, janelões, pisos de madeira natural, caixilhos de ferro e outros”, conta a arquiteta.

Uma vez listados os elementos que serão preservados, o escritório trabalha com inspirações estéticas em conexão direta com a época da construção do edifício, tanto no trabalho dos espaços, quanto na pesquisa de materiais.

“Desse modo, conseguimos combinar tais elementos em um cenário mais contemporâneo no que diz respeito aos usos atuais dos ambientes como, dentre outras coisas, a abertura de cozinhas, transformação de áreas de serviços em quarto ou varanda e remanejamento de apartamentos de zeladores em coberturas”, complementa Camille.

Room under renovation with window. (Foto: Getty Images)

A reforma do imóvel sempre leva em conta referências arquitetônicas de sua época de construção (Foto: Getty Images)

Durante a revitalização, sempre procura-se manter ao máximo a arquitetura original do edifício – não somente na fachada, mas também nos ambientes internos. “Não faltam terrenos para empreendimentos novos em São Paulo, e acho que o retrofit tem que providenciar uma modernização de edifícios antigos, não reconstruir um prédio novo por dentro”, pontua Maxime, da Ilion.

No entanto, mudanças estruturais podem ser bem-vindas quando há desgaste interno ou, ainda, em situações específicas, como no caso de apartamentos enormes que acabam sendo divididos em dois, com intuito de atender a uma demanda maior por moradia e com preços mais em conta – como foi o caso do Tangará.

First lights on São Paulo in a clear, cloudless winter day. (Foto: Getty Images)

A revitalização de edifícios traz diversos benefícios ao município (Foto: Getty Images)

Segundo Maxime, o uso dado aos edifícios após a reforma varia de acordo com sua estrutura e as necessidades da região. “Nossa expertise está em imaginar o melhor destino para cada imóvel, caso por caso. Até agora, a maioria dos nossos projetos foi no segmento residencial, mas temos ambições no segmento comercial também”, ressalta.

Benefícios para a cidade

O momento atual, em que se vê o aumento desse movimento por restaurações de prédios antigos, representa uma terceira grande onda – na opinião de Maxime. “Houve uma primeira movimentação nos anos 1990, com empreendedores muito talentosos, e outra nos anos 2000 com outras empresas. Esta terceira onda, que vem desde 2015, começou a inspirar novos atores de alto nível. Tomara que seja uma movimentação profunda e duradoura”, diz o fundador da Ilion.

São Paulo downtown district of Republica and the Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Santa Ifigênia Catholic Church. (Foto: Getty Images)

Área central de São Paulo é principal foco da revitalização de edifícios antigos (Foto: Getty Images)

Para além da questão arquitetônica, reviver esses espaços, até então desassistidos, é de grande importância para a cidade. “Particularmente nas áreas centrais, onde se encontra a maioria dos nossos projetos, é de importância vital poder fortalecer o benefício da localização dinâmica e perto dos transportes, mantendo custos de moradias acessíveis e garantindo unidades residenciais de alta qualidade. Isso só pode ser feito através da revitalização do patrimônio da cidade”, destaca Camille.

Esse movimento também tem relevância pautada em um menor impacto ambiental, uma vez que a revitalização reutiliza a maioria dos componentes já existentes em uma construção, o que possibilita a economia de materiais e, portanto, o controle do consumo energético no decorrer da obra. “É um processo de reciclagem de grande escala e que tem infinitas possibilidades de transformações”, finaliza a arquiteta.

Entenda o movimento de retrofit de edifícios históricos no Centro de São Paulo (Foto: Divulgação)

Perspectiva artística do interior de uma das unidades do edifício Maria Magdalena, também em processo de revitalização pelo Ilion Partners e pelo escritório Readymake (Foto: Divulgação)

Atualmente, a Ilion Partners conta com três processos de revitalização em andamento na cidade de São Paulo. O primeiro deles é o edifício Maria Magdalena, construído em 1950 na Praça da Bandeira com projeto do arquiteto Francisco Beck. Ali, 28 grandes apartamentos serão colocados à venda com intuito de atender de forma acessível famílias da região central. Os outros dois ficam na região do Baixo Augusta e terão unidades para locação a partir de setembro.