• 27/08/2015
  • Texto e fotos por Paul Clemence; da Suíça
Atualizado em
Cidade natal de Le Corbusier  (Foto: Paul Clemence )

Vista da cidade de La Chaux-de-Fonds, na Suíça

O dia de hoje (27/8) marca os 50 anos da morte de Charles Edouard-Jeanneret-Gris, mais conhecido como Le Corbusier, o homem que revolucionou a arquitetura mundial, disseminando ideias que influenciam até hoje a nossa forma de viver. Apesar de não ter sido o único mestre do Movimento Moderno, o arquiteto suíço certamente alcançou um reconhecimento que nenhum outro conseguiu.

  (Foto: Reprodução )

Retrato do arquiteto Le Corbusier, que nasceu em La Chaux-de-Fonds, no dia 6 de Outubro de 1887, e faleceu em Roquebrune-Cap-Martin, no dia 27 de Agosto de 1965 

Pode-se inclusive dizer que ele foi o primeiro "starchitect", ou seja, o primeiro arquiteto a ser cultuado como uma celebridade, mesmo atuando muitas décadas antes da internet, em um tempo em que uma travessia pelo oceano Atlântico durava duas semanas. Ao longo de sua carreira (e mesmo depois de falecido) Corbu foi idolatrado, odiado, debatido, polêmico, e muitas vezes incompreendido. 

Cidade natal de Le Corbusier  (Foto: Paul Clemence )

Placa comemorativa da cidade registra a data de nascimento de Le Corbusier 

Cidade natal de Le Corbusier  (Foto: Paul Clemence )

Fachada posterior original do Cinéma Scala, em La Chaux-de-Fonds, um dos primeiros projetos de Le Corbusier 


Ao visitar sua pequena cidade natal, La Chaux-de-Fonds, no cantão suíço de Neuchâtel, é possível encontrar pistas e origens de muitas das ideias radicais que se tornaram base de seus conceitos arquitetônicos. Afinal, foi neste endereço que o arquiteto nasceu, estudou e viveu até os 29 anos de idade. Ele também abriu ali seu primeiro escritório de arquitetura.

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  (Foto: Paul Clemence )

Entrada do edificio onde o visionário arquiteto Le Corbusier cresceu, em La Chaux-de-Fonds. Hoje, uma loja de aluguel de fantasias ocupa o piso térreo 

Cidade natal de Le Corbusier  (Foto: Paul Clemence )

Placa comemorativa, em La Chaux-de-Fonds, no endereço do primeiro escritório do arquiteto

A cidadezinha ficou conhecida no começo do século passado como a capital mundial dos relógios, por ser responsável pela produção e exportação de cerca de metade de todos os relógios existentes ao redor do globo. Em La Chaux-de-Fonds tais itens extrapolavam a mera função de marcar a passagem do tempo. Antes de mais nada, eles eram tratados como uma obra de arte: cada peça trabalhada artesanalmente ganhava desenhos gravados tão sofisticados quanto seus mecanismos funcionais. 

Cidade natal de Le Corbusier  (Foto: Paul Clemence )

A indústria relojoeira ainda tem influência na cidade. Neste projeto contemporâneo, sede da sofisticada marca Greubel Forsey, obra do arquiteto Pierre Studer na área vizinha a  La Chaux-de-Fonds


Foi justamente nessa indústria que Le Corbusier trabalhou antes de se enveredar pelo caminho da arquitetura. É importante conhecer tal fato para compreender por que, anos mais tarde, ele definiu a casa como "uma máquina de morar". Para ele, máquinas vão além da função utilitária e adquirem o significado de expressão artística.

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Cidade natal de Le Corbusier  (Foto: Paul Clemence )

Le Corbusier nasceu e viveu no primeiro edifício à esquerda, em La Chaux-de-Fonds

Provavelmente a indústria de relojoaria teve também certa influência (mesmo que indireta) em um importante e muito controverso ponto da visão urbana de Le Corbusier. Na reconstrução de sua cidade natal após um devastador incêndio, as ruas foram alinhadas de forma que os prédios tivessem maior exposição à luz natural, condição que beneficiava o trabalho dos artesãos fabricantes de relógios. Foram projetadas também largas vias, ideais para permitir que o sol alcançasse as grandes janelas em abundância. Tendo nascido e vivido em tal ambiente, nada mais natural que levar tais referências para o próprio trabalho.

Cidade natal de Le Corbusier  (Foto: Paul Clemence )

Este edifício com fachada no estilo Art Nouveau, em La Chaux-de-Fonds, já existia na época em que Corbusier viveu por ali


Observando hoje essas ruas espaçosas, é possível entender melhor o desejo de Corbusier de ter amplas e arejadas vias como elemento básico do urbanismo moderno. Não seria nenhum absurdo arriscar dizer também que este ambiente urbano, formado por uma orientação arquitetônica relacionada aos aspectos naturais, tem uma influência na relação especial entre interior e exterior observada nos projetos de Corbu. A vida por tantos anos nesse ambiente de planejamento altamente racional com certeza lhe serviu como referência. 

Cidade natal de Le Corbusier  (Foto: Paul Clemence )

A escultura busto invertido, do artista Christian Gonzenbach, homenageia Louis Chevrolet, outro ilustre nativo de La Chaux-de-Fonds

Foi  também em La Chaux (como os suíços chamam a cidade) que Le Corbusier fez seu primeiro projeto residencial, projetado para seus pais e construído em 1912. Na casa, batizada como Villa Jeanneret-Perret, ou Maison Blanche, Corbu experimentou várias idéias que mais tarde amadureceram como parte integral de seu vocabulário arquitetônico. Muitos desses conceitos foram aprendidos por ele durante viagens pela Europa e o Oriente Médio.

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Cidade natal de Le Corbusier  (Foto: Paul Clemence )
Cidade natal de Le Corbusier  (Foto: Paul Clemence )
Cidade natal de Le Corbusier  (Foto: Paul Clemence )

Na sequência de fotos acima, fachada e detalhes da casa batizada como Villa Jeanneret-Perret, ou Maison Blanche, criada por Le Corbusier para seus pais, em La Chaux. A obra foi seu primeiro projeto residencial

Na casa dos seus pais, já se começa a perceber seu desejo de integrar exterior e interior. As janelas em linha ao longo do último andar não são muito diferentes do longo corte horizontal na fachada livre da icónica Villa Savoye. Com apenas quatro pilares internos, a planta oferece grande flexibilidade, e as paredes internas já desde este projeto foram consideradas partições capazes de serem facilmente alteradas conforme a necessidade - um conceito estrutural similar ao que desenvolveria mais tarde com os pilotis. 

Cidade natal de Le Corbusier  (Foto: Paul Clemence )
Cidade natal de Le Corbusier  (Foto: Paul Clemence )
Cidade natal de Le Corbusier  (Foto: Paul Clemence )

A sequência de fotos acima revela o interior da Villa Jeanneret-Perret, ou Maison Blanche, projetada pelo mestre


No design do jardim, Corbusier desenvolveu elaborados caminhos que conduzem até a arquitetura. Após subir uma escada, se chega ao jardim superior: é necessário atravessá-lo para atingir o pergolado que, finalmente, conclui o percurso por toda a lateral da casa e chega até a porta de entrada.

Cidade natal de Le Corbusier  (Foto: Paul Clemence )
Cidade natal de Le Corbusier  (Foto: Paul Clemence )
Cidade natal de Le Corbusier  (Foto: Paul Clemence )
Cidade natal de Le Corbusier  (Foto: Paul Clemence )

Na sequência de fotos acima, os vários percursos que ligam área externa e interna, idealizados por Le Corbusier, no projeto da casa dos seus pais

Os acessos quase processionais se tornaram marca registrada de sua obra. Ao delimitar o jardim com a treliça de madeira, Corbu ensaiava outra característica marcante de seus projetos: o emolduramento das vistas. Cortes ovais demarcam visões da floresta vizinha e a estrutura do pequeno pavilhão erguido no vale.

Cidade natal de Le Corbusier  (Foto: Paul Clemence )

Detalhe da estrutura idealizada por Le Corbusier, capaz de emoldurar o jardim

Aparentemente, depois de partir de La Chaux, Le Corbusier afirmou que detestava a cidade. Mesmo assim, como foi em tal endereço que ele se formou e iníciou sua trajetória profissional, é inegável e interessante o exercício de traçar um paralelo entre as memórias e condições do local e sua carreira. 

Cidade natal de Le Corbusier  (Foto: Paul Clemence )

Para finalizar, outra vista panorâmica da cidade natal de Le Corbusier, na Suíça