• 16/07/2018
  • Texto Cristina Dantas | Fotos Fernando Guerra/divulgação
Atualizado em
Casa no interior de SP tem teto verde e paredes vazadas (Foto: Fernando Guerra/Divulgação)

A extremidade que concentra as áreas sociais – tijolos fazem as vezes de cobogó e compõem a sinuosidade do muro da casa

O nome veio antes mesmo do esboço. O pedido inicial dos proprietários para o terreno de 7 mil m² em Porto Feliz, interior de São Paulo, era justamente uma casa plana. Assim começou a nascer o traçado de uma moradia retangular de mil m² e um telhado verde que se mimetiza na paisagem.

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Casa no interior de SP tem teto verde e paredes vazadas (Foto: Fernando Guerra/Divulgação)

No jantar, rodeando a mesa Guarujá, de Jorge Zalszupin, na Loja Teo, cadeiras Oscar, de Sergio Rodrigues, na Dpot – os tijolos queimados aquecem o ambiente

Desenhada pelo Studio MK27, a Casa Plana teve concepção conduzida por Marcio Kogan em coautoria com Lair Reis, que discorre sobre a simplicidade estrutural da construção: “Ela não tem viga – é uma plataforma de concreto sustentada por leves pilares”. Para Kogan, “o projeto faz uma referência direta à arquitetura miesiana [de Ludwig Mies van der Rohe]. Além do rigor e da depuração formal, usamos o pilar metálico cruciforme, uma assinatura do mestre do minimalismo”.

Casa no interior de SP tem teto verde e paredes vazadas (Foto: Fernando Guerra/Divulgação)

A sala de TV, que fica no extremo oposto ao espaço de estar e jantar, tem poltronas Mole, de Sergio Rodrigues, na Dpot, e sofá Lovers, na Micasa, sobre tapete Siena, da Designer Rugs, na Oka Tapetes

No interior, a residência divide-se horizontalmente ao meio por uma galeria, na qual o dono expõe sua coleção de fotografias. Na ala voltada para o poente, foram distribuídas cinco suítes. No outro lado concentram-se os serviços: cozinha, alojamento do caseiro, academia de ginástica e quarto de brinquedos. Forrada de painéis de freijó ripado, a galeria não tem portas. E não há como ficar indiferente a essa falta de ruídos visuais. “Existe uma poética baseada na emoção que a arquitetura pode causar, essa surpresa que não é óbvia”, diz Lair.

Casa no interior de SP tem teto verde e paredes vazadas (Foto: Fernando Guerra/Divulgação)

No living, o mobiliário solto composto por sofá Matriz, de Jader Almeida para a Sollos, na Dpot, mesas de centro Wooden, de Ronan e Erwan Bouroullec, da Vitra, e banco Mucki, de Sergio Rodrigues, da Dpot, garante uma circulação mais livre e fluida – aqui, nota-se ainda a presença dos trilhos que delimitam o espaço fechado pelos painéis de vidro e os leves pilares em forma de cruz

Casa no interior de SP tem teto verde e paredes vazadas (Foto: Fernando Guerra/Divulgação)

Na suíte máster, onde a poltrona Esfera, de Ricardo Fasanello, na Loja Teo, faz as honras, veem-se os mesmos elementos do restante da casa: teto de concreto ripado, piso de basalto flameado e painel de freijó que, quando fechado, oculta totalmente o banheiro – a cama tem desenho do Studio MK27 e o tapete é o Siena, da Designer Rugs, na Oka Tapetes

Os materiais comuns característicos do repertório do estúdio estão todos reunidos na Casa Plana – concreto, madeira, pedra, vidro e tijolo. “Com exceção do vidro, são matérias-primas em seu estado bruto”, lembra Lair. O tijolo queimado, um pedido dos clientes, dá o clima aconchegante do campo ao estar, localizado em uma das extremidades da casa; na outra fica a sala de TV. Ambas são fechadas por painéis de vidro, o que permite que essas áreas se transforme em grandes terraços quando abertas. Nestes ambientes, o teto exibe o concreto aparente ripado, e o piso de basalto, pedra empregada pela primeira vez pelo escritório, ganha certa rusticidade após o tratamento flameado.

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Casa no interior de SP tem teto verde e paredes vazadas (Foto: Fernando Guerra/Divulgação)

Priorizando a horizontalidade, o projeto reverencia o minimalismo de Ludwig Mies van der Rohe, com uma plataforma retangular de milm² de concreto sustentada por leves pilares – a simplicidade estrutural é de se admirar

Diferente da versão de concreto, um cobogó de outra natureza surge para formar o muro que envolve a morada. “Utilizamos o tijolo como cobogó”, conta Kogan. “Seu emprego como elemento vazado é um marco forte no projeto, não só pela textura e pela cor, mas também pela sinuosidade da estrutura em que foi utilizado.” Colocá-la de pé, serpenteando a edificação, exigiu uma maneira especial de amarração. Os pontos onde os tijolos se apoiam uns sobre os outros receberam um vergalhão metálico preenchido com concreto, que desce até uma sapata capaz de fixá-los no terreno. Esta costura invisível está em tudo, até mesmo na disposição do mobiliário, tarefa a cargo da sócia Diana Radomysler, outro talento do Studio MK27. Todas as peças, incluindo sofás, foram posicionadas afastadas das paredes, para que o espaço pudesse fluir sem interferências.

Casa no interior de SP tem teto verde e paredes vazadas (Foto: Fernando Guerra/Divulgação)

A vista lateral revela a integração de living, jantar e cozinha com a piscina com deque de ipê, por meio do recolhimento dos painéis de vidro – o balanço Cocoon, de Patricia Urquiola para a Moroso, na Micasa, é o ponto de cor ideal para o ambiente fresco

Tudo tem um propósito e uma solução tão estética quanto ética. Volte a olhar para o telhado verde. Afora o considerável isolamento térmico que proporciona, ele abriga ainda aberturas zenitais e placas solares. Por sua posição no lote, essa extensa cobertura viva dá a impressão de continuar o terreno. É a “quinta fachada do edifício”, resume Kogan. Vista de cima, parece ser a única. Mágica de arquiteto.

Casa no interior de SP tem teto verde e paredes vazadas (Foto: Fernando Guerra/Divulgação)

O telhado verde com aberturas zenitais e placas solares auxilia no isolamento térmico da casa

*Esta reportagem foi originalmente publicada na edição de julho da Casa Vogue