![O presidente da Câmara, Arthur Lira, e o presidente Jair Bolsonaro, após reunião no Palácio do Planalto](https://cdn.statically.io/img/s2.glbimg.com/cXvfBDq-tso318TNHI6lLLz_8p4=/645x388/i.glbimg.com/og/ig/infoglobo1/f/original/2021/10/27/x92176097_brazils-president-jair-bolsonaro-greets-brazils-lower-house-arthur-lira-after-a-meeti.jpg.pagespeed.ic.3vjtvusehq.jpg)
Todas as pesquisas de opinião disponíveis no Brasil mostram que, se as eleições presidenciais fossem hoje, teríamos um segundo turno entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. As projeções indicam ainda que o petista ganharia do presidente por larga margem. Nos últimos meses, os índices de popularidade de Bolsonaro têm derretido.
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Esses fatores estão orientando a estratégia da esquerda, que, assim como parte da opinião pública, calcula seus movimentos para 2022 baseando-se na presunção de que Bolsonaro já era. Parando para analisar com mais calma os fatos dos últimos dias, porém, a coisa muda de figura.
A CPI da Covid aprovou na terça-feira seu relatório pedindo o indiciamento de Bolsonaro por nove crimes, mas encontrará na Procuradoria-Geral da República uma barreira sólida — Augusto Aras, que já está bolando formas de postergar qualquer iniciativa a respeito.
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O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, deu sinais de que não pretende fazer avançar nenhum eventual pedido de impeachment decorrente da CPI.
Tudo indica que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) arquivará o pedido de cassação da chapa Bolsonaro-Mourão por disparo em massa de mensagens na campanha eleitoral de 2018.
No STF, o ministro Kassio Nunes Marques, nomeado por Bolsonaro, acaba de reconduzir ao cargo o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio Domingos Brazão, ex-deputado estadual investigado na CPI das Milícias e afastado por suspeita de corrupção.
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Isso depois de uma semana em que Paulo Guedes perdeu quatro auxiliares-chave, numa debandada contra a mudança de regras que permitirá ao governo extrapolar o teto de gastos. A saída fez o dólar registrar sua maior alta desde abril e a Bolsa, a maior queda em um ano.
Para completar, na noite de domingo vazou um áudio em que o controlador do BTG, André Esteves, se gabava de dar conselhos a Arthur Lira sobre como lidar com a crise na economia e contava, na maior naturalidade, sua troca de ideias com o presidente do Banco Central sobre o patamar ideal para a taxa de juros.
Em qualquer país sério, o episódio teria causado um furdunço. No Brasil, foi o contrário. O dólar e a Bolsa estabilizaram, no que observadores mais irônicos interpretaram como reação favorável do mercado ao constatar quem de fato está no comando.
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Com tudo isso acontecendo, os líderes dos principais partidos do Centrão, PL e PP, estão disputando a tapas a filiação de Jair Bolsonaro e sua trupe em suas legendas.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, divulgou um vídeo anunciando ter convidado Bolsonaro e seus filhos “e fiéis seguidores da causa brasileira”, esperando que o presidente da República anunciasse a filiação no dia seguinte, mas o PP de Lira e Ciro Nogueira atravessou a negociação.
Os dois prometeram a Bolsonaro mais espaço para seus candidatos e ouviram dele que tinham voltado ao primeiro posto na fila de suas preferências.
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Lira, Nogueira e Costa Neto não são neófitos na política, nem consta que se movam por paixões ideológicas. Quem abrigar Bolsonaro em seu partido terá de ir até a urna com ele. Portanto, se estão cortejando Bolsonaro com tamanha sofreguidão, é porque entendem que, mesmo com os péssimos prognósticos na economia e o cenário desanimador das pesquisas, estar colado ao presidente da República ainda vale mais que abandoná-lo e pular de canoa no meio da corrida eleitoral.
Para esses caciques, o jogo é usar as verbas e o apelo eleitoral que Bolsonaro ainda tem para engordar suas bancadas no Congresso no pleito de 2022 e ingressar com mais força no novo governo em 2023, qualquer que seja ele.
Isso mostra que as pesquisas estão erradas? Não necessariamente.
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Mas sugere que é muito cedo para considerar que Bolsonaro já era. O presidente ainda é forte na disputa. E se tornará um adversário ainda mais difícil de bater se souber usar a seu favor os R$ 5 bilhões previstos para o fundo eleitoral, mais os quase R$17 bilhões ainda disponíveis no orçamento secreto.
No fundo, a disputa para filiar o presidente é uma demonstração de que, para o Centrão, ele pode representar um risco à democracia, uma tragédia para a saúde pública e uma temeridade para a economia.
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Mas, enquanto esses caciques e suas necessidades estiverem bem contemplados, a sobrevivência política de Bolsonaro está assegurada. Por aí se calcula quanto custará mantê-lo vivo até o final de 2022. Será uma conta que todos vamos pagar.