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AVIAÇÃO

O voo de galinha da ITA Transportes Aéreos

Primeiro Airbus A320 da Itapemirim pousa em Natal (RN)

A ITA Transportes Aéreos suspendeu as operações na noite desta sexta-feira, menos de seis meses após a sua primeira decolagem, numa trajetória marcada por polêmicas, promessas frustradas, disputas judiciais e atrasos no pagamento de colaboradores e fornecedores.

Fundada por Sidnei Piva de Jesus, controlador do Grupo Itapemirim, a empresa é um raro caso de uma companhia aérea a se lançar no mercado em meio a maior crise da história da aviação provocada pela pandemia do coronavírus. Além disso, a empresa foi financiada com recursos de um grupo econômico que está em recuperação judicial e que não tem honrado o pagamento a credores. 

Até setembro, a ITA havia consumido pelo menos R$ 40 milhões do caixa do Grupo Itapemirim, recursos levantados com a venda de terrenos do grupo de transporte rodoviário e que, pelo plano aprovado pelos credores em assembleia, deveriam ser usados para pagar credores e cobrir o déficit da operação de transporte rodoviário. Embora a Justiça inicialmente não tenha visto problemas com o desvio de recursos das recuperandas para a companhia aérea, decisão judicial recente determinou que o empresário comprove pagamentos a credores em atraso.

Piva de Jesus nasceu no interior do Paraná em 1965 e não tem curso superior. O empresário fez fortuna adquirindo empresas em recuperação judicial, primeiro no setor de transporte ferroviário e depois rodoviário. Recentemente, abriu uma empresa em Londres com capital social de R$ 6 bilhões, conforme revelou reportagem do portal Congresso em Foco.

Sem experiência prévia em transporte aéreo, Sidnei aproveitou o momento de super oferta de aviões devido à baixa demanda na aviação para negociar contratos de leasing mais baratos. Conseguiu montar uma frota com uma média de 15 anos de uso, com contratos relativamente baratos, mas com aeronaves pouco eficientes e com custos de operação e manutenção altos.

Mas as polêmicas envolvendo a ITA começaram muito antes da decolagem. Na primeira onda de recrutamento de tripulantes, no ano passado, a empresa direcionou os candidatos para um site pertencente a um de seus executivos — e que cobrava uma taxa de R$ 1 mil para os candidatos apresentarem seus currículos. A manobra foi denunciada pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas e a cobrança interrompida.

A empresa também começou a vender passagem antes de obter a autorização formal da Anac, em maio. E duas semanas antes da estreia, em 29 de junho, teve que promover uma alteração na malha de voos provocando uma série de cancelamentos devido a contratempos na importação de aviões.

Nas últimas semanas, a ITA vinha atrasando o pagamento de salários, diárias e plano de saúde dos colaboradores. A empresa também estava inadimplente com FGTS e devendo para os mais diversos fornecedores, de agência de publicidade a empresas de manuseio de bagagem nos aeroportos.

Sidnei Piva de Jesus já foi denunciado por portar diferentes CPFs e trava uma batalha judicial com a família Cola, do fundador do Grupo Itapemirim, cujo negócio ele adquiriu por R$ 1 dentro da recuperação judicial. 

O Grupo Itapemirim tem mais de R$ 200 milhões em dívidas reconhecidas no plano de recuperação, e deve outros R$ 2 bilhões para o fisco — valores que o empresário tenta contestar na Justiça.

Quando anunciou os planos ambiciosos para lançar a companhia aérea, Sidnei dizia ter assegurado US$ 500 milhões com investidores árabes que conheceu quando integrou uma comitiva de empresários que acompanhou o governador paulista João Dória em uma viagem a Dubai. Na época, dizia que iria quitar as dívidas do Grupo Itapemirim e emergir da recuperação judicial como um grande grupo de transportes, integrando modais rodoviário e aéreo e também entrando em licitações de metrôs e aeroportos. O dinheiro árabe nunca apareceu.

SAIBA MAIS:

Anac suspende o Certificado de Operador Aéreo da ITA | Capital - O Globo

Investimento da Itapemirim em aviação daria para quitar quase metade da dívida trabalhista | Capital - O Globo

Empresa aérea da Itapemirim alça voo em meio a disputa judicial entre dono e fundadores do grupo | Capital - O Globo 

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