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Por André Paixão

Tempra, Marea, Brava, Linea, Freemont. Não foram poucas as tentativas da Fiat de se desvincular da imagem de marca de carros populares nas últimas décadas. Mesmo em diferentes épocas, com produtos diversos e estratégias variadas, todas acabaram falhando.

A mais recente empreitada é com o Fastback, um SUV cupê derivado do Pulse que chega às lojas entre o fim de setembro e o começo de outubro para, quem sabe, convencer um público que normalmente não entraria em uma loja da Fiat a colocar um Fiat na garagem. Os preços vão de R$ 129.990 a R$ 149.990. Esse último é exatamente o valor pedido pela versão avaliada, Limited Edition.

A expectativa dos italianos é grande – vender de 2.500 a 3.000 unidades todo os meses. A concorrência também. Com um carro só, a Fiat espera combater desde a entrada do segmento, junto com o próprio Pulse e o Volkswagen Nivus, até a faixa principal, atualmente ocupada por T-Cross, Hyundai Creta, Jeep Renegade, Chevrolet Tracker, Nissan Kicks e os Renault Duster e Captur.

Para encarar tamanho desafio, o Fastback precisa ser grande. E é. São 4,43 metros, mais que qualquer outro SUV compacto à venda no Brasil atualmente. É maior até que o Compass, considerado um SUV médio.

Imagem lateral mostra que Fastback tem grandes balanço — Foto: Divulgação
Imagem lateral mostra que Fastback tem grandes balanço — Foto: Divulgação

Mas a realidade é que o Fastback é como aquelas massas que receberam fermento demais e recheio de menos. Quando sai do forno, o pão fica grande, mas com pouco conteúdo dentro. No caso do Fiat, isso acontece ao compararmos o comprimento generoso com o entre-eixos acanhado. São apenas 2,53 m, o menor da categoria, junto com o “irmão” Pulse. Quer ouvir outra comparação? Vamos lá. Até o hatch compacto Citroën C3 ganha do novo Fiat nesse quesito – ainda que por um mísero centímetro.

Essa discrepância de medidas tem uma explicação simples: redução de custos. É mais barato fazer um carro crescer nas extremidades do que entre as rodas. Por isso o Fastback tem o mesmo entre-eixos do Pulse, de quem “pega emprestado” a plataforma MLA, parte do visual e uma infinidade de peças.

Dianteira do Fiat Fastback é idêntica à do Pulse Abarth — Foto: Divulgação
Dianteira do Fiat Fastback é idêntica à do Pulse Abarth — Foto: Divulgação

Dissociar os dois modelos é uma tarefa praticamente impossível. As semelhanças estão na cara, literalmente. Até a coluna B, aquela logo após as portas dianteiras, são basicamente o mesmo carro. A dianteira do Fastback é idêntica à do Pulse Abarth. Na verdade, o SUV cupê foi desenhado primeiro e só então emprestou o visual para a versão esportiva que chega às lojas nos próximos meses.

Mas a primeira inspiração foi outra. Lá em 2018, a Fiat mostrou no Salão do Automóvel o conceito Fastback inspirado na Toro. As linhas de SUV cupê foram mantidas, mas tudo que fazia menção à picape acabou sendo deixado de lado. Assim, o conjunto óptico dividido em dois andares deu lugar a uma peça única com formato esguio. A grade com moldura grossa é hexagonal e preenchida com um padrão de colmeia e as tomadas de ar são verticais. É óbvio que o conjunto lembra o do Pulse, mas há muita personalidade – principalmente da lateral em diante.

Coluna C grossa e lanternas afiladas são marcantes na traseira do Fiat Fastback  — Foto: Divulgação
Coluna C grossa e lanternas afiladas são marcantes na traseira do Fiat Fastback — Foto: Divulgação

Os designers da Fiat acertaram em cheio na traseira do Fastback. O longo balanço poderia deixar o visual desproporcional, mas a larga coluna C com vincos e a queda prolongada do teto trouxeram um estilo marcante e inédito nesse segmento – nem mesmo o Nivus tem tanta personalidade. Guardadas as devidas proporções, a traseira lembra a do BMW X4.

Do ponto de vista racional, um SUV cupê ainda traz outra vantagem: porta-malas maior. E a Fiat aproveitou como poucas marcas esse estilo de carroceria e deu ao Fastback o maior bagageiro do segmento. São 516 litros – 100 a mais que o do Nivus, um dos rivais diretos. A desvantagem é que o teto arqueado limita o espaço para a cabeça dos ocupantes do banco traseiro – e nem sou das pessoas mais altas, com 1,73 m.

Fiat Fastback tem o maior porta-malas da categoria — Foto: Divulgação
Fiat Fastback tem o maior porta-malas da categoria — Foto: Divulgação

Mas o Fastback deve compensar o espaço limitado com desempenho e equipamentos. A versão avaliada, Limited Edition Powered by Abarth (sim, esse é o nome oficial), é a única a oferecer a combinação de motor 1.3 turbo de 185 cv e 27,5 kgfm com câmbio automático de seis marchas já disponível em outros carros da Stellantis, como Renegade, Compass e Commander e a Toro.

A grande sacada é que o SUV cupê é o mais leve dos modelos a receber esse conjunto. Com 1.304 kg, não chega a ser um peso-pena, mas apresenta melhor forma que seus pares. A consequência é que o Fastback vai de 0 a 100 km/h em 8,1 segundos e chega aos 210 km/h.

No rápido contato com o Fastback, em um trajeto de aproximadamente 100 km por rodovias de asfalto liso e poucas curvas, foi possível perceber que o SUV cupê roda mais “solto” que o Renegade, por exemplo. Isso pode ser explicado pelos 176 kg que separam os dois modelos – o Jeep é mais pesado, apesar de ser menor.

Fiat Fastback com motor 1.3 passa de 200 km/h — Foto: Divulgação
Fiat Fastback com motor 1.3 passa de 200 km/h — Foto: Divulgação

Essa característica também contribui para o bom funcionamento da caixa automática de seis marchas. Vale lembrar que a relação de marcha é a mesma nos dois SUVs – o que muda é o diferencial, um pouco mais curto no Fiat.

Lembra daquela história de tentar mudar o perfil da marca com carros melhores? O Fastback, segundo a Fiat, é o último capítulo dessa transformação. E mais do que design ou marketing, a engenharia também teve de trabalhar para diferenciar o SUV cupê do Pulse. E do Argo. E do resto da linha.

Alguns pequenos detalhes comprovam essa preocupação. As rodas são fixadas com cinco parafusos – contra quatro do Pulse. Usando o mesmo modelo como comparação, a caixa de ar-condicionado é inédita e há saídas de ventilação para os bancos traseiros.

Freio de mão eletrônico é inédito no Fiat Fastback — Foto: Divulgação
Freio de mão eletrônico é inédito no Fiat Fastback — Foto: Divulgação

A estrutura dos assentos está fixada nos mesmos pontos de ancoragem, mas há estofamento exclusivo, mais confortável e melhor acabado. O freio de mão deu lugar ao sistema eletrônico acionado por botão e a suspensão, que preserva a arquitetura do Pulse – McPherson na frente e eixo de torção atrás, teve barra estabilizadora, molas e amortecedores trocados em nome de uma tocada mais precisa.

Ao volante, o Fastback comprova ser ligeiramente superior ao Pulse nos ajustes de direção e suspensão. Mas fica um degrau abaixo do Renegade. Chamou a atenção negativamente o ruído de vento invadindo a cabine em velocidades acima de 100 km/h.

Interior do Fiat Fastback topo de linha traz bancos de couro e quadro de instrumentos digital  — Foto: Divulgação
Interior do Fiat Fastback topo de linha traz bancos de couro e quadro de instrumentos digital — Foto: Divulgação

Nos equipamentos, a versão topo de linha está entre as mais bem posicionadas no segmento. Há frenagem automática de emergência, airbags laterais, alerta de saída de faixa com correção no volante, quadro de instrumentos digital com tela de 7 polegadas, central multimídia de 10,1" com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, bancos de couro, rodas de 18 polegadas, faróis e lanternas full LED, carregamento de celular por indução e ar-condicionado digital. Teto solar, airbags de cortina e alerta de ponto cego não são oferecidos nem como opcionais.

O Fastback vai conseguir mudar o status da Fiat? Ou será mais uma incursão frustrada no segmento superior?

É cedo para cravar uma resposta. Mas considerando o produto e o mercado, não seria espantoso ver o Fastback entre os mais vendidos desse segmento. Mesmo sendo menos espaçoso e nem tão refinado quanto alguns de seus pares. Seria uma forma justa de honrar a memória de Tempra e cia.

Fiat Fastback 2023 — Foto: Divulgação
Fiat Fastback 2023 — Foto: Divulgação

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