Testes

Por André Schaun

O GMW Ora 03 é o primeiro carro elétrico da marca chinesa no Brasil e os preços vão de R$ 150 mil a R$ 184 mil. Sua missão não é nada fácil: desbancar a maior sensação do ano até aqui, o BYD Dolphin, que vendeu nada menos do que 1.036 carros em setembro e virou o modelo elétrico mais emplacado em um mês na história do Brasil. É muito provável que essa dupla inicie uma nova era no segmento de elétricos no país.

Nunca houve uma rivalidade representativa no Brasil entre os carros elétricos. Os modelos na faixa de R$ 150 mil a R$ 200 mil, como Renault Kwid E-Tech, Caoa Chery iCar e Jac EJS1, sempre tiveram vendas discretas. Já os mais luxuosos têm o mercado maior. Prova disso é o Volvo XC40, que foi o elétrico mais vendido de 2022, e este ano fechou o primeiro semestre no topo novamente com 904 emplacamentos.

Sim, em um mês o Dolphin vendeu mais do que o elétrico sueco em seis meses. E o hatch compacto da BYD acaba de ter mais uma versão revelada de 204 cv que custa R$ 179.800: a Plus, justamente para brigar com o Ora 03 GT, versão que testamos.

GMW Ora 03 tem a lanterna integrada no para-brisa — Foto: Divulgação
GMW Ora 03 tem a lanterna integrada no para-brisa — Foto: Divulgação

As primeiras unidades do Ora serão entregues somente no fim deste mês. O carro já estava disponível para venda no Mercado Livre, mas o interessado precisava dar uma entrada de R$ 9 mil. O modelo é vendido no Brasil em duas versões, chamadas de Skin e GT. A diferença entre elas está em alguns equipamentos e na bateria, que é de 48 kWh e 63 kWh, respectivamente.

No caso da versão GT, a autonomia é de 319 km, segundo o Inmetro. No ciclo europeu WLTP, o número considerado é de 400 km. Já a Skin, continua sem dados de alcance pelo ciclo brasileiro por ainda estar em homologação. Portanto, segue tendo como base os 300 km de autonomia do padrão WLTP, porém, o número "abrasileirado" deve ficar na casa dos 200 km.

Preços

  • Ora 03 Skin - R$ 150 mil
  • Ora 03 GT - R$ 184 mil

As duas configurações são equipadas com um motor dianteiro de 171 cv e 25,5 kgfm. A velocidade máxima é limitada em 160 km/h, enquanto o zero a 100 km/h é feito em 8,2 segundos.

Em comparação, o Dolphin de entrada é vendido com propulsor de 95 cv e 18,3 kgfm, já as baterias de 44,9 kWh garantem autonomia de 291 km. A velocidade máxima é de 150 km/h e a marca de zero a 100 km/h é feita em 10,9 segundos.

As duas versões do Ora 03 podem ser carregadas de 10% a 80% em até 5 horas com carregadores de corrente alternada (AC) ou 50 minutos na contínua (DC). Os compradores do hatch levam para casa um carregador portátil de 3,6 kW.

GMW Ora 03 GT vai de zero a 100 km/h é feito em 8,2 segundos — Foto: Divulgação
GMW Ora 03 GT vai de zero a 100 km/h é feito em 8,2 segundos — Foto: Divulgação

As dimensões externas do Ora 03 são um pouco maiores do que as do BYD. São 4,23 metros de comprimento, 1,82 m de largura, 1,60 m de altura e 228 litros de capacidade do porta-malas. Os 2,65 m de entre-eixos, no entanto, são um pouco menores do que os 2,70 m do Dolphin.

Sentado no banco do motorista, você se depara com uma cabine cheia de requintes e mais sofisticada do que a do Dolphin. Ela é muito parecida com a do Ballet Cat, outro modelo da Ora e que ficou conhecido pela similaridade com o Fusca. Assim, o design é retrô e minimalista, mas os equipamentos são bem tecnológicos. Sem falar no acabamento com materiais emborrachados e diferentes texturas de um material que imita couro. O que incomoda são os exagerados tons vermelhos.

Interior do GMW Ora 03 GT tem (estranhos) tons em vermelho — Foto: Divulgação
Interior do GMW Ora 03 GT tem (estranhos) tons em vermelho — Foto: Divulgação

duas telas de 10,25 polegadas que se unem por uma grande moldura no painel e funcionam como central multimídia (que tem conexão com Apple CarPlay, sem cabo, e Android Auto, via cabo) e painel de instrumentos.

Entre os principais itens de série estão: sete airbags, carregador de celular por indução, câmera com visão 360º, frenagem de emergência com reconhecimento de pedestres e ciclistas, frenagem de emergência com reconhecimento de pedestres, ciclistas e carros incluindo tráfego cruzado, piloto automático com Stop&Go e alerta de ponto cego.

A GT ainda traz detalhes externos exclusivos, como para-choque que imita fibra de carbono, detalhes vermelhos na carroceria, mais modos de visualização da câmera 360º, massagens e ventilação nos bancos e memória do banco do motorista.

GWM Ora 03 GT tem detalhes vermelhos na carroceria — Foto: Divulgação
GWM Ora 03 GT tem detalhes vermelhos na carroceria — Foto: Divulgação

O que o Dolphin tem de mais conservador no visual, o Ora 03 tem de ousado. Nosso teste com o hatch durou poucos quilômetros, mas olhares e registros fotográficos não faltaram. A dianteira é marcada pelos faróis de LED redondos, ao estilo Porsche e Mini, enquanto a traseira não tem lanternas embutidas na carroceria, mas sim no próprio para-brisa que dá um charme legal ao carro.

Para o motorista, a posição de dirigir é boa com banco confortável, mas você não tem visão alguma da parte central do capô, apenas das laterais que são mais pronunciadas, algo semelhante ao que acontece com carros esportivos. E olha que eu tenho 1,87 m de altura. Isso atrapalha em certo ponto, principalmente na hora de fazer uma manobra, entretanto, a câmera 360º está lá para isso e ameniza o problema.

Em movimento, o Ora 03 é muito ligeiro e mais gostoso de dirigir do que o Dolphin, pelo menos a versão de 95 cv do BYD, porque a de 204 cv eu não dirigi. O hatch é muito mais arisco do que o rival e a direção é mais precisa, porém, temos que levar em consideração que tem quase o dobro de potência. O carro tem ótima estabilidade e bem menos rolagem de carroceria do que o Dolphin com seu corpo arredondado.

Quando a via chegou a velocidade máxima de 90 km/h, o Ora 03 disparou e mostrou todo o seu vigor partindo dos 40 km/h. Essa diversão durou pouco tempo e logo voltei para o anda e para da cidade. Senti melhoria nos freios em relação ao GWM Haval H6, que tem uma calibragem com modulação imprecisa que acaba não transmitindo muita confiança. No hatch, o pedal parece estar bem mais acertado.

GWM Ora 03 parece um carro mais completo do que o BYD Dolphin — Foto: Divulgação
GWM Ora 03 parece um carro mais completo do que o BYD Dolphin — Foto: Divulgação

Dois detalhes negativos chamaram a atenção e são sobre a mesma coisa: a seta. Como o lançamento foi para um grupo de jornalistas, andamos em comboio pelas ruas e confesso que a sensibilidade da seta me incomodou. Você sinaliza para um lado e a seta não desliga. Quando tenta desligar manualmente, acaba acionando para a direção oposta. Isso aconteceu inúmeras vezes até pegar o jeito milimétrico de como funciona o movimento para desligar e não parecer um maluco no trânsito dando seta de um lado para o outro sem sentido.

Quando terminamos o teste outros jornalistas disseram a mesma coisa, em tom de brincadeira: "Quem aí também apanhou da seta?".

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A segunda queixa é que as luzes de indicação da seta traseira ficam no para-choque, semelhantes as do Hyundai HB20. Isso é péssimo para o trânsito, pois em muitos casos não é possível ver quando o carro da frente está indicando uma conversão ou troca de faixa.

Neste rápido contato, o Ora 03 se saiu mais completo do que o Dolphin: é mais rápido, melhor de dirigir e mais sofisticado. E isso significa que o reinado do modelo da BYD entre os elétricos será bem concorrido daqui em diante.

Em breve vamos colocá-los lado a lado para um comparativo e tirar a prova de quem é melhor. Mas nessa rivalidade quem sai ganhando é o mercado brasileiro, que, enfim, parece ter uma disputa de verdade entre dois ótimos carros elétricos e faz o segmento ser visto com outros olhos.

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