Testes

Por Thiago Tanji

Há momentos na vida em que desapegar é necessário. Que o diga aquela cueca de estimação tão maltratada pelo tempo, mas que você resiste a jogar na lata do lixo. Nem sempre é preciso descartar o velho em oposição ao novo, entretanto. E esse parece ser o caso do antigo Nissan Versa. Ou melhor, do agora rebatizado Nissan Versa V-Drive.

Seguindo os passos do Chevrolet Joy Plus (ex-Prisma), que mudou de nome para conviver com o Onix Plus, o sedã da Nissan recebeu uma nova identidade de marca para conviver com o Versa de segunda geração, importado do México. E, convenhamos, é desnecessário levantar dúvidas se essa coexistência confundirá a cabeça do cliente: o sucessor está naquele tal “outro patamar” em relação ao V-Drive, tanto no aspecto visual quanto no que tange aos recursos tecnológicos oferecidos.

O porta-malas de 460 litros e o espaço interno são diferenciais para quem procura um modelo novo para transporte de passageiros — Foto: Divulgação
O porta-malas de 460 litros e o espaço interno são diferenciais para quem procura um modelo novo para transporte de passageiros — Foto: Divulgação

Por que, então, insistir em comercializar o sedã veterano? Certamente há questões de planejamento da Nissan; afinal, a linha de montagem de Resende (RJ) continuará a produzir o modelo. Mas o bolso dos consumidores também é um ponto fundamental para entender a estratégia da fabricante: com a saída de linha do March, o V-Drive será o carro mais barato da empresa no país — o basicão, manual e com motor 1.0, é vendido a R$ 61.990. Como comparação, a versão de entrada do novo Versa custa R$ 75.390.

Preço é uma questão primordial para o público que é consumidor fiel desse modelo e utiliza o V-Drive como instrumento de trabalho como táxi ou carro de aplicativo. E aqui não há nenhum estigma ou pré-conceito: basta visitar os fóruns de motoristas na internet para conferir as recomendações de que o sedã é um dos melhores modelos para o transporte de passageiros — no caso da Uber, por exemplo, o V-Drive pode aceitar corridas nas categorias X, Comfort e Bag.

Sem atualizações visuais ou mecânicas, o V-Drive pode até não ser tão atraente quanto o seu irmão importado do México. Mas é só abrir o porta-malas para observar o pequeno latifúndio que comporta um volume de 460 litros de bagagem e entender as recomendações positivas dos motoristas profissionais. O entre-eixos de 2,60 metros também é mais do que suficiente para levar passageiros no banco de trás com conforto — dois adultos, no máximo. O problema está mais no espaço para cabeças do que o vão disponível para as pernas. Se você leva pessoas com mais de 1,80 m, terá um problema.

Com exceção do modelo de entrada, todas as versões são equipadas com o conhecido motor 1.6 16V flex, com 111 cv e 15,1 kgfm, além do câmbio automático CVT. Não espere fortes emoções ao volante, mas o conjunto não deixará você na mão em subidas mais íngremes ou nas retomadas (a prova de 40 a 100 km/h foi realizada em 6,6 segundos, tempo inferior aos 7 s do novo Versa).

O interior é basicão e a tela multimídia, defasada. Ao menos a transmissão é automática — Foto: Divulgação
O interior é basicão e a tela multimídia, defasada. Ao menos a transmissão é automática — Foto: Divulgação

A sensação de “nem muito maravilhoso, nem muito ruim” também acompanha o visual interno e o acabamento do V-Drive: muito plástico duro, central multimídia de 7 polegadas com interface bem desatualizada (apesar de ter suporte para Android Auto e Apple CarPlay nas versões mais caras) e um painel central pouco atraente. Mas isso é compensado por uma quantidade suficiente de porta-objetos, pelo volante com boa pegada e pela sensação de conforto e espaço ao recostar-se no assento na hora de dirigir. Claro que ser datado é um problema na hora de buscar porta-trecos.

A versão testada, a Premium, conta com alguns recursos adicionais como ar-condicionado digital, câmera traseira, volante com acabamento especial e rodas de liga leve de 16". Porém, custa R$ 81.990, valor próximo ao da versão intermediária do novo Nissan Versa (que sai por R$ 86.690). Não são necessários tantos luxos assim para transportar os passageiros com conforto. Nem gastar mais grana para trocar a antiga geração pela nova.

O grande problema está na segurança. Não há controles de estabilidade ou de tração. E o número de airbags não passa dos dois obrigatórios. O V-Drive não evoluiu em segurança em relação ao Versa testado pelo Latin NCAP. O resultado de 2016 não foi nada animador: três estrelas para adultos e duas para crianças. Enquanto isso, o Versa de nova geração oferece frenagem automática, detector de ponto cego e alerta de colisão frontal (os seis airbags são de série em todos). Mas você terá que pagar R$ 96.690 na versão que tem tudo isso, a Exclusive.

Nissan Versa V-Drive tem estilo tradicional e datado, bem diferente do carro de última geração — Foto: Divulgação
Nissan Versa V-Drive tem estilo tradicional e datado, bem diferente do carro de última geração — Foto: Divulgação

Aceleração

0 a 100 km/h 12,1 segundos
0 - 400 m 18,4 s
0 - 1.000 m 33,2 s
Veloc. a 1.000 m 161,8 km/h
Vel. real a 100 km/h 96 km/h

Retomadas

40 - 80 km/h (Drive) 5,3 s
60 - 100 km/h (D) 6,6 s
80 - 120 km/h (D) 7,8 s

Frenagem

100 - 0 km/h 42,1 metros
80 - 0 km/h 26,7 m
60 - 0 km/h 15,2 m

Consumo

Urbano 7,2 km/l
Rodoviário 12,4 km/l
Média 9,8 km/l
Por que o novo Nissan Versa é quase um Kicks sedã

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Ficha técnica

Motor Dianteiro, transversal, 4 cil. em linha, 1.6 16V, flex
Potência 111 cv a 5.600 rpm
Torque 15,1 kgfm a 4.000 rpm
Câmbio Automático do tipo CVT
Direção Elétrica
Suspensão Independente, McPherson (dianteira) e dependente por eixo de torção (traseira)
Freios Discos ventilados (dianteira) e tambores (traseira)
pneus 185/65 R16
Dimensões Compr: 4,49 m / Largura: 1,69 m / Altura: 1,50 m / Entre-eixos: 2,60 m
Tanque 41 litros
Porta-malas 460 litros (fabricante)
Peso 1.075 kg
Central multimídia 7 pol., sensível ao toque, Apple CarPlay e Android Auto
Fit Combustíveis Selo — Foto: Divulgação
Fit Combustíveis Selo — Foto: Divulgação

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