Dilma teria de ter demitido toda a diretoria da Petrobras, diz Cunha
A presidente Dilma Rousseff cometeu muitos erros pol�ticos em seu governo e por essa raz�o sofre agora as consequ�ncias na campanha pela reelei��o. Por exemplo, a petista teria de ter demitido a diretoria inteira da Petrobras quando come�aram a surgir as acusa��es de corrup��o dentro da estatal, diz o l�der do PMDB na C�mara, deputado Eduardo Cunha, do Rio de Janeiro. D� tempo ainda? "Agora � in�cuo", responde ele.
Aos 56 anos e prestes a iniciar seu quarto mandato consecutivo de deputado, Cunha � pr�-candidato a presidente da C�mara em 2015. Em entrevista ao programa Poder e Pol�tica, da Folha e do "UOL", ele afirmou que a elei��o presidencial est� muito "dura" para Dilma, que pareceu "nervosa" no debate da ter�a-feira (14) na TV Bandeirantes. A�cio Neves (PSDB) "estava mais � vontade".
http://www3.uol.com.br/module/playlist-videos/2014/eduardo-cunha-no-poder-e-politica-1413413896739.js
O peemedebista acredita que em 2015 deve ser instalada uma nova CPI da Petrobras. A depender do andamento, devem ocorrer cassa��es de mandato de congressistas. Para a presidente, se reeleita, ser� um momento complicado. Se n�o mudar sua forma de fazer pol�tica, seu segundo governo "certamente ser� pior", avalia o deputado. "Pior e pode terminar bem mais isolada do que come�ou".
O poss�vel futuro presidente da C�mara n�o esconde um certo ressentimento do PT e de Dilma, com quem sempre teve uma rela��o conflituosa. Para Cunha, o PT usou PMDB apenas "para um aluguel de tempo de TV". Foi humilhante? Ele responde que sim.
Se A�cio Neves for eleito presidente, o PMDB ter� altera��es no seu poder interno. Michel Temer, atual presidente nacional da legenda, "dificilmente ter� condi��o pol�tica de conduzir" o eventual processo de realinhamento do partido ao governo tucano.
Outro assunto para 2015: a rea��o do Congresso quando o STF (Supremo Tribunal Federal) finalizar o julgamento que deve proibir a doa��o de empresas para partidos e pol�ticos em campanha. Com o fim dessa modalidade de financiamento, Cunha prev� uma explos�o do uso do caixa dois e imagina um desfecho eloquente: "Vamos mudar o Congresso para a Papuda". A Papuda � a penitenci�ria de Bras�lia.
Diferentemente do que estava sendo anunciado nos �ltimos dias, a bancada do PMDB n�o deve fazer uma manifesta��o p�blica de apoio � candidatura de A�cio Neves. Exceto manifesta��es individuais, diz Cunha, que estima uma divis�o ao meio dos 66 deputados eleitos pela legenda –hoje, seriam 33 pr�-Dilma e 33 a favor de A�cio.
A seguir, trechos da entrevista:
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Folha/UOL - O PMDB elegeu uma bancada de 66 deputados, agora em 2014, ou seja, 12 a menos do que h� quatro anos. O que aconteceu?
Eduardo Cunha - Se voc� retroagir mais, h� oito anos, elegeu mais ainda. O PMDB vem perdendo, como todos os partidos.
O PT perdeu proporcionalmente mais deputados do que o PMDB. Nesta legislatura tivemos o fen�meno de cria��o de novos partidos que absorveram deputados. Voc� teve o PSD, o Solidariedade e teve o Pros. Esses partidos juntos levaram uma bancada maior do que o PMDB e o PT perderam.
Temos que discutir a reforma pol�tica de verdade. A cria��o desses partidos que buscaram levar tempo de televis�o, viraram mercadoria para negociar apoio pol�tico, foram usados para fragmentar parte da base.
Al�m disso, temos tamb�m o fato de que as alian�as feitas pelo PMDB acabaram tendo como consequ�ncia um pouco de perda de sua identidade.
Por exemplo?
As alian�as. N�s mantivemos alian�a com o PT.
Em 2006, o PMDB foi a maior bancada da C�mara dos Deputados quando correu solteiro. J� em 2010, quando n�s fizemos a alian�a, sa�mos como segunda bancada e mantivemos essa posi��o com menos deputados. Ent�o temos que questionar se essa alian�a foi boa ou n�o para o PMDB.
Reforma pol�tica com tudo de uma vez n�o vai sair nunca...
Nunca.
Se o sr. tivesse que escolher um item da reforma pol�tica, algo exequ�vel, qual seria?
N�s temos que diminuir o n�mero de partidos pol�ticos. Esse � o primeiro ponto por cl�usula de barreira. Cl�usula de barreira � fundamental para que a gente possa diminuir o n�mero de partidos.
Haver� clima para formar um consenso no novo Congresso a favor de uma cl�usula de barreira, como o sr. chama? Afinal, muitos desses partidos teriam de votar contra si pr�prios...
A reforma pol�tica teria sa�do se n�o fosse a obsess�o do PT pelo seu relator da reforma pol�tica, atual l�der do governo, Henrique Fontana [deputado federal pelo PT do Rio Grande do Sul], que insistia em votar apenas financiamento p�blico de campanha e vota��o em lista. Eles levaram � obstru��o na hora que n�s poder�amos ter votado algumas coisas.
Tempo de campanha, reduzir gastos, havia muitas coisas que poderiam ter sido feitas e foram impedidas porque o PT come�ou a querer discutir inclusive o plebiscito, que faz parte da campanha da presidente Dilma agora. Ela fala em plebiscito toda a hora como se a elei��o n�o tivesse sido um plebiscito. Isso � um equ�voco. O PMDB foi contra a ideia de plebiscito naquele momento.
Ainda � contra?
Sou contra, porque n�s fomos eleitos para isso. Sou at� a favor de um referendo, mas jamais um plebiscito. Porque sen�o eu vou entregar o nosso poder de representa��o.
Mas o sr. acha exequ�vel aprovar uma cl�usula de barreira?
Eu n�o disse que vamos ter o consenso para cl�usula de barreira. Disse que haver� um consenso, sim, para que alguma coisa seja feita.
O que tem chance de passar?
Fim de coliga��o proporcional [nas elei��es para deputados federais, por exemplo].
Acho que o fim da coliga��o proporcional ter� chances de prosperar mesmo por lei.
A bancada do PMDB est� dividida ao meio entre apoio a A�cio Neves e a Dilma Rousseff. � isso mesmo?
� exatamente isso.
O que acontece � que essa alian�a [PT-PMDB] � contestada por muitos. At� pelo seu produto: o PMDB tem reduzido a sua bancada, pela forma como foi tratado no governo do PT, e por v�rias outras circunst�ncias regionais. Ao mesmo tempo que a gente estava junto, na hora que foram discutir as alian�as nos Estados em que o PMDB era muito forte, foi aniquilado pelo PT. O PT atrapalhou a elei��o do PMDB, como foi o caso do meu Estado [Rio de Janeiro] –e o candidato do PT ficou como nanico, l� atr�s, em quarto lugar na elei��o.
O sr. est� se referindo a Lindbergh Farias, que � senador pelo PT do Rio de Janeiro, foi candidato a governador do Rio e ficou agora em quarto lugar?
O Cear� � outro exemplo. O PMDB sempre marchou com o PT e tinha um candidato vi�vel ao governo, o senador Eun�cio Oliveira, que agora est� enfrentando o pr�prio PT.
Enfim, circunst�ncias regionais acabaram fazendo com que uma parte do PMDB se decepcionasses com essa alian�a. N�s aprovamos a alian�a em conven��o nacional porque n�o teria sentido tirar o vice-presidente da Rep�blica a chance de disputar a sua reelei��o. Mas fizemos entre todos n�s um acordo t�cito: aprovar�amos na conven��o a alian�a, mas aqueles que se sentissem desconfort�veis em continuar com essa alian�a iriam votar em quem quisesse, e assim tem sido cumprido.
O PMDB, pela falta de um projeto nacional, passou a ser uma confedera��o de partidos regionais. Voc� tem v�rios PMDBs de acordo com o seu Estado. A realidade local acabou sempre preponderando sobre a realidade nacional. A l�gica da decis�o de parte da bancada do PMDB � em fun��o do seu problema regional e n�o necessariamente pela sua vis�o do processo nacional.
A bancada de deputados do PMDB, ou uma ala da bancada, pretende fazer alguma manifesta��o p�blica a favor de algum candidato a presidente?
N�o creio at� porque, se a conven��o nacional decidiu pelo apoio � candidatura da presidente Dilma, indicando vice, n�o tem sentido uma inst�ncia partid�ria menor querer tomar uma decis�o contr�ria � conven��o.
O que vai haver e est� havendo s�o manifesta��es individuais daqueles que n�o est�o seguindo aquilo que foi decidido na conven��o, com autoriza��o t�cita da pr�pria conven��o, que � trabalhar para o candidato que entender ser o melhor.
O presidente nacional do PT, Rui Falc�o, disse que no Rio a presidente Dilma Rousseff subiria em v�rios palanques na disputa para o governo local. Foi uma decis�o errada?
Absolutamente errada.
Ali�s, n�s tivemos dois grandes epis�dios que ajudaram a afastar o PMDB. O primeiro foi o entrevero que o pr�prio Rui Falc�o teve comigo, quando me agrediu no Rio de Janeiro dentro do Samb�dromo. Tive uma rea��o dura e houve uma briga enorme no Congresso Nacional. A partir da�, a rela��o PT e PMDB come�ou a se deteriorar. Depois, o outro epis�dio: ao construir o palanque do Rio de Janeiro, ele considerou uma l�gica segundo a qual todo mundo estaria apoiando a presidente da Rep�blica. Quando se viu o resultado das urnas, a presidente teve 36% dos votos do Rio de Janeiro. Ou seja, 64% n�o votaram nela. Ent�o � preciso que a gente saiba que n�o h� essa unanimidade, ou n�o havia essa unanimidade, era preciso que se constru�sse, como em todo processo eleitoral. � um processo de constru��o.
N�o se pode ficar na arrog�ncia de achar que todo mundo vai orbitar em fun��o dela [presidente Dilma Rousseff], quando, na realidade, ela dependeria muito mais dos apoios que ela tinha no Rio de Janeiro.
No caso do Rio de Janeiro o sr. acha que o PT honrou a fama de ser fominha na hora de fazer alian�as?
Sem d�vida. O PT sempre teve projeto hegem�nico. Na realidade, se voc� conversasse e visse o que os petistas falavam, eles n�o estavam disputando as elei��es dos governos estaduais, eles estavam disputando quem ia ser o sucessor da Dilma. Queriam formar novas lideran�as nas elei��es estaduais, assim como fizeram com [Fernando] Haddad em S�o Paulo –e aquilo acabou sendo um grande erro do PT, acabou prejudicando o PT em S�o Paulo de tal maneira que acabou com o seu candidato a governador, que ficou em 3� lugar, numa posi��o p�fia, muito abaixo da m�dia do PT em S�o Paulo.
No caso Rio de Janeiro, do seu ponto de vista, o ideal teria sido a dire��o nacional do PT interferir e impedir que Lindbergh fosse candidato?
Na verdade, n�o � nem interferir. Eles estimularam a candidatura do Lindbergh. N�o houve uma interfer�ncia. N�o se pediu interfer�ncia. Na realidade, o Lindbergh era um projeto do PT, isso ficou claro quando o pr�prio presidente Lula gravou.
Mas a presidente Dilma Rousseff nunca foi muito f� dessa ideia...
A presidente Dilma tem um comportamento e o PT tem outro. Isso sempre ficou claro e ficou claro tamb�m durante a campanha. At� concordo com voc� que pela prefer�ncia da Dilma teria sido a candidatura do [Luiz Fernando] Pez�o, mas a prefer�ncia do PT foi por manter um projeto pr�prio, como foi em alguns lugares do pa�s. Essa hegemonia do PT, essa �nsia de se obter mais espa�o, � que fez com que o PT mostrasse para todos n�s que o PT pensava nele e n�o num projeto conjunto de poder. Isso afastou ainda mais uma grande parte do PMDB. Eu diria que essa divis�o hoje � um reflexo disso tudo.
A candidatura da presidente Dilma Rousseff tem um desempenho pior do que o PT e a pr�pria presidente esperavam. Quais foram os erros cometidos para que se chegasse a essa situa��o atual?
N�o acho que os erros tenham sido na campanha. Os erros foram no governo.
Por exemplo?
Faltou muita pol�tica no governo. Pol�tica n�o � s� pol�tica com os pol�ticos. As pessoas pensam que a pol�tica � atender cargo, favores, verbas para pol�tico. Pol�tica � conversar. Pol�tica com o povo. Pol�tica � articular. � pol�tica com empres�rios, pol�ticas com segmentos.
O governo Dilma s� come�ou a fazer pol�tica depois das manifesta��es de junho de 2013, e o fez durante um per�odo at� recuperar o �ndice de popularidade que havia ca�do vertiginosamente durante o per�odo dos protestos. Depois que recuperou e iniciou o ano de 2014, voltou-se � arrog�ncia no tratamento que se tinha antes das manifesta��es. Isso acabou culminando no processo das elei��es, com reflexo na campanha. A campanha n�o pode refletir diferente daquilo que � o governo. E a campanha acaba acolhendo os erros da pol�tica de governo. A consequ�ncia � clara.
Essa arrog�ncia que o sr. menciona nasce onde? Na pr�pria presidente Dilma?
N�o tenho condi��es que afirmar isso. Se � da presidente ou se � do partido ou � de um conjunto de fatores. N�o quero ser arrogante a ponto de ser dono da verdade. Estou apenas fazendo uma especula��o sobre a minha vis�o do fato.
Mas o que Dilma poderia ter feito?
Poderia ter tido um comportamento diferente. Talvez aquele comportamento que ela come�ou quando houve as manifesta��es. Se tivesse continuado daquela forma, poderia ter constru�do uma alian�a em cima de bases mais s�lidas. O que aconteceu, por exemplo, � que o PMDB tem a n�tida sensa��o que n�o � part�cipe de nada, nem da campanha eleitoral.
O PMDB foi apenas um aluguel de tempo de televis�o. Na realidade eles contrataram o tempo de televis�o do PMDB no primeiro turno e talvez a solidez de alguns palanques, mais nada.
Isso � humilhante para o PMDB?
Para o PMDB, �. Talvez essa � uma das raz�es que explique a posi��o em que o PMDB est� nessa campanha: extremamente divido. Essa � a raz�o fundamental.
Se na campanha voc� j� trata o partido que � seu aliado desse jeito, imagine como voc� vai trat�-lo depois que voc� obter o poder.
Isso significa que a rela��o PT-PMDB n�o vai ser das melhores com vit�ria ou derrota?
A vit�ria por si s� legitima como representante da sociedade para conduzir o pa�s quem ganhar. N�s temos que conviver. Se a presidente Dilma for legitimada pela popula��o, significa que o que ela fez, o que ela pensa, est� tendo aprova��o da maioria da popula��o. N�s teremos que nos render � vontade das urnas. Agora, n�s vamos ter que discutir bem essa rela��o.
As chances de vit�ria de Dilma Rousseff s�o menores do que as de A�cio Neves?
N�o tenho o dom da adivinha��o.
Mas?
Acho que a campanha � muito curta no segundo turno. Os debates s�o decisivos. Teremos ainda mais tr�s debates. Ser�o fundamentais, al�m dos programas eleitorais que v�o se dar nesses dias quando a popula��o vai prestar aten��o sobre aquilo que vai acontecer.
Mas a candidatura de A�cio est� mais robusta agora?
Diria que ele est� num momento melhor, mas n�o necessariamente ganhou a elei��o. Qualquer deslize, em qualquer debate...
No dia 14 de outubro, agora, ter�a-feira, a TV Bandeirantes fez o primeiro debate. Qual � a sua avalia��o do desempenho de Dilma Rousseff e de A�cio Neves nesse primeiro debate do segundo turno?
Achei a presidente Dilma um pouco mais nervosa no debate do que o candidato A�cio. Achei ele mais � vontade, mas � muito dif�cil voc� avaliar. Ambos os lados t�m virtudes nas suas coloca��es e t�m defeitos tamb�m nas suas respostas.
Quem seria um presidente melhor para a pol�tica do Brasil? A�cio ou Dilma?
Seja quem for o presidente eleito –seja Dilma reeleita ou seja o A�cio eleito–, sabe que a pol�tica ter� que ser feita diferente do que foi feita nos �ltimos tempos.
No in�cio, bem no in�cio de 2013, h� quase dois anos, o sr. veio aqui e disse que a presidente Dilma Rousseff precisaria recompor o seu governo, numa reforma ministerial, e que deveria chamar o PMDB para repactuar a forma como era a rela��o entre PT e PMDB. Isso acabou n�o acontecendo.
Aconteceu para pior.
� um dos motivos da situa��o atual?
Sem d�vida. N�o houve a repactua��o. Quando houve a simples substitui��o [de ministros] acabou havendo uma ruptura.
Parte do PMDB rompeu naquele momento com a participa��o no governo. Ficou bem claro e n�tido que o governo era um governo deles. A presidente nomeou quem ela quis para os minist�rios –e ela est� na sua prorrogativa. S� que o PMDB, pelo menos uma parte do PMDB, n�o quis participar e acabou se conduzindo melhor num momento que tomou uma decis�o de atuar com independ�ncia.
Se A�cio Neves for eleito presidente, como vai ser a rela��o do PMDB com o Planalto?
Temos 66 deputados eleitos do PMDB na legislatura pr�xima: 33 hoje defendem a candidatura do A�cio, 33 defendem a candidatura da Dilma. Qualquer um dos dois que for eleito parte de 33. Ent�o � uma quest�o de ver qual vai ser o comportamento deles com rela��o ao PMDB.
Como vai se mover o PMDB num eventual governo A�cio Neves?
N�o sei dizer neste momento. A gente precisa depois da elei��o discutir esse processo partid�rio. O PMDB, certamente, vai entrar em uma longa discuss�o interna depois das elei��es. Se ganhar a elei��o a presidente Dilma, o PMDB, tendo feito parte da chapa, ter� um tipo de comportamento. Se perder, certamente ter� outro tipo de comportamento.
Qual ser� esse outro comportamento?
� um comportamento de debater internamente as decis�es que foram tomadas e que nos levaram a uma alian�a que acabou sendo derrotada do ponto de vista o PMDB.
O vice-presidente da Rep�blica, Michel Temer, j� disse que o PMDB ficaria fora do governo no in�cio de uma eventual administra��o de A�cio Neves. � isso mesmo?
Se a alian�a que do PMDB fracassar, certamente aqueles que levaram a alian�a sair�o derrotados do processo. Dificilmente ser�o eles que v�o conduzir a discuss�o. Ent�o, � preciso que isso fique muito claro. � claro que o vice-presidente, Michel Temer, que � o presidente do PMDB, na medida em que perca a candidatura � reelei��o, dificilmente ter� condi��o pol�tica de conduzir uma participa��o no governo [de A�cio Neves]. Mas tamb�m n�o ter� condi��o dentro do PMDB de levar o PMDB para a oposi��o se a bancada est� dividida, est� rachada; se dentro dos Estados os apoios pol�ticos est�o rachados
� uma discuss�o um pouco maior do que simplesmente dizer que o PMDB ser� oposi��o ou que o PMDB ser� governo.
Essa discuss�o inclui o debate a respeito das presid�ncias do Senado e da C�mara?
Temos dois cen�rios.
No caso do Senado, � regimental que a maior bancada indique o cargo de presidente. Ent�o cabe ao PMDB, por ser a maior bancada, indicar a candidatura � Presid�ncia do Senado.
Na C�mara n�o � assim. A C�mara � uma conjun��o de fatores. � preciso primeiro que se defina a sucess�o presidencial para ver o que vai acontecer a partir da�. Qualquer gesto agora seria prematuro. N�o tem condi��o nenhuma. As maiorias v�o ser formar ao sabor das candidaturas que forem vitoriosas.
Mas o PMDB hoje comanda a C�mara...
PMDB comanda a Casa.
Dia 1� de fevereiro, h� um fato concreto.
H� a elei��o.
O PMDB vai pleitear esse cargo?
N�o tenho condi��o de afirmar isso agora.
O sr., que � l�der do PMDB, deseja ser o candidato do PMDB a presidente da C�mara?
� muito dif�cil falar do assunto. N�o existe candidatura de si mesmo. Ningu�m pode ser candidato por vontade pr�pria. Ou voc� representa um projeto pol�tico de um grupo, de um partido, ou voc� necessariamente passa a exercer uma ambi��o pessoal. Jamais passa pela minha cabe�a exercer qualquer tipo de ambi��o pessoal.
Hoje, almejo continuar como l�der da bancada do PMDB. O resto ser� consequ�ncia do processo pol�tico. Se a minha bancada se entender, se a minha bancada quiser fazer qualquer tipo de debate, ou qualquer tipo de disputa, ser� uma consequ�ncia do processo e n�o a causa.
Vai chegar ao Congresso, no ano que vem, o conte�do da opera��o Lava Jato, que tem dezenas de congressistas citados. Qual impacto ter�?
Acho que vai ser um impacto enorme. N�o sei se chegar� at� 1� de fevereiro. Pode vazar antes.
Certamente o novo Congresso vai come�ar a legislatura com uma nova CPI. Acho isso inevit�vel. Acabar� acontecendo at� para dar continuidade a um processo que foi abruptamente interrompido. A tend�ncia � que tenhamos um processo duro, de estresse.
Pelo que � conhecido at� agora, haver� ren�ncias ou cassa��es de mandatos?
Depende se o conte�do � verdadeiro.
Mas o que o sr. acha?
Depende se houver comprova��o. Tem que se tomar um pouco de cuidado. N�o h� d�vida nenhuma que havia um esquema de corrup��o muito forte dentro da Petrobras. Ningu�m vai desmentir porque � p�blico e not�rio.
� evidente que esse esquema de corrup��o est� sendo desvendado pelo processo da dela��o premiada daqueles que est�o fazendo nesse momento ou que j� fizeram, e � evidente que no bojo dessas dela��es deve haver fatos reais, comprovados e verdadeiros, e deve haver ila��es pol�ticas.
Primeiro, tem que separar o que s�o os fatos reais e verdadeiros das ila��es pol�ticas. N�o deixar que o processo de dela��o seja usado para que seja exercidas vingan�as. Separado isso, aquele que efetivamente estiver envolvido em fatos verdadeiros poder� acabar em cassa��o, sim, sem d�vida nenhuma. Poder� acabar em v�rios tipos de processo. Ent�o eu n�o tenho d�vida que o ano de 2015 vai ser dominado por um processo de depura��o da Petrobras, que, ali�s, j� deveria ter sido feita pela pr�pria presidente da Rep�blica, at� para n�o deixar d�vidas. Eu, se fosse o presidente da Rep�blica, teria demitido todos da diretoria da Petrobras. Teria limpado....
A presidente da Petrobras, inclusive?
Inclusive. Porque ela fez parte da diretoria em conjunto com outros. N�o estou dizendo que ela tenha culpa de nada n�o, at� acho que possa n�o ter, mas o processo de faxina que foi iniciado pela pr�pria presidente da Rep�blica no in�cio do seu governo, melhor momento que ela tinha para faz�-lo era agora.
Mas agora no meio da elei��o?
N�o digo agora. Agora, eu digo, nesse processo final, quando houve a dela��o premiada, quando ficou claro que havia um esquema de corrup��o na Petrobras: afasta todo mundo, coloca uma diretoria nova. Seria uma forma de dar uma resposta � sociedade que n�o havia qualquer tipo de coniv�ncia. Depois de tudo efetivamente apurado, conhecidos os detalhes e visto aqueles que s�o inocentes, poderiam ir at� para outros cargos do governo. N�o � execrar pessoas sem que tenham culpa. N�o estou pedindo isso. Mas, efetivamente a falta de a��o na Petrobras � um dos fatores das dificuldades da candidatura da reelei��o.
Mas a falta de a��o o sr. est� atribuindo � presidente Dilma, porque cabe a ela, n�o �?
Sem d�vida. Ao governo.
Porque o sr. acha que ela relutou em fazer isso?
N�o sei. N�o tenho condi��es de te dizer.
Mas ela errou ao n�o fazer?
Na minha opini�o, politicamente, ela errou. N�o estou dizendo que ela errou como erro de conduta. Acho que foi um erro pol�tico. Como ela entende como s�ria a presidente da Petrobras, n�o quis faz�-lo para n�o macular a carreira de algu�m que ela entende que n�o tem culpa no processo. Em nome disso ela acabou prejudicando todo um contexto de avalia��o da sociedade sobre a forma de combate � corrup��o.
Mas o sr. acha que l� para maio, se a presidente da Rep�blica tivesse demitido a diretoria inteira da Petrobras o esc�ndalo n�o poderia crescer ainda mais?
N�o sei... O diretor financeiro da Petrobras � o mesmo desde a �poca de [Sergio] Gabrielli. Continua l�. O outro diretor que est� no lugar do Paulo Roberto, era gerente do Paulo Roberto. Ent�o o sistema, de uma certa forma, est� viciado. Era preciso que se desse uma limpa, que se trouxesse talvez um grande empres�rio para presidir a Petrobras, um [Jorge] Gerdau da vida. Algu�m que fosse fora de qualquer contexto pol�tico. Voc� teria uma forma de dizer o seguinte: vamos dar uma mudan�a nisso aqui. Ningu�m est� pedindo para macular a honra de quem quer que seja. N�o estou aqui acusando a presidente da Petrobras de ter tido qualquer tipo de participa��o. At� que acredito que n�o tenha. Estou falando mais do ponto de vista pol�tico, de mostrar � sociedade que voc� n�o est� compactuando. � n�tido que h� um esquema viciado dentro da Petrobras. E esse � um dos fatores que leva a candidatura da presidente Dilma a ter dificuldades. Ent�o, consequentemente, se voc� tivesse agido preventivamente, esse tema teria sa�do do debate da elei��o.
Mas agora...
N�o, agora...
J� era, n�o �?
Agora � in�cuo.
Agora n�o haveria mais como fazer?
Pode at� gerar a vis�o que foi oportunista.
Se a presidente Dilma for reeleita, o sr. acha as investiga��es da Opera��o Lava Jato podem chegar at� ela a ponto de algu�m sugerir um processo de impeachment?
Como tudo e qualquer restri��o que a gente possa ter ao comportamento pol�tico da presidente da Rep�blica, n�o h� nenhum ind�cio de que a presidente seja conivente com favorecimentos ou com irregularidades. Acho que a presidente � uma pessoa correta, do ponto de vista pessoal, e sempre buscou o melhor para a coisa p�blica.
Acho que o erro dela � pol�tico. Ent�o dificilmente mesmo, com o maior dos esc�ndalos que possam chegar, a �nica conclus�o que voc� vai chegar � que a presidente ou foi enganada ou n�o teve a vis�o daquilo que realmente acontecia debaixo da sua gest�o.
Mas ela ficaria enfraquecida com esse esc�ndalo borbulhando dentro do Congresso?
Vai ficar enfraquecida do ponto de vista de gestora. De ter sido presidente do conselho da Petrobras e algum esquema de corrup��o ter prosperado e ela n�o ter tido a capacidade de agir para tentar fazer alguma coisa. S�. Fora disso, n�o vejo da presidente nenhum tipo de sinal de qualquer tipo de envolvimento dela.
Um segundo mandato de Dilma ser� pior ou melhor?
Depende dela. Do seu comportamento.
E da conjuntura?
O Lula, quando teve o segundo mandato, buscou ser melhor do que o primeiro mandato. Buscou construir um pa�s pacificado em crescimento econ�mico, buscando reeleger o seu sucessor, e teve sucesso. Ele aumentou o seu arco de alian�as.
J� a presidente Dilma n�o, ela est� diminuindo o seu arco. Essa � uma grande diferen�a entre os dois.
Se ela continuar como est�?
Certamente ser� pior. Se ela tiver a grandiosidade de buscar uma pacifica��o do pa�s, buscar corrigir os erros que possam ter sido cometidos no primeiro mandato, com sinceridade, ela pode fazer um bom segundo mandato.
E se continuar fazendo pol�tica como vem fazendo at� agora, faria um segundo mandato pior?
Pior e pode terminar bem mais isolada do que come�ou.
Na ter�a-feira (14) desta semana, a Pol�cia Civil do Rio deflagrou uma opera��o para prender m�dicos envolvidos na pr�tica do aborto. O sr. � contra a flexibiliza��o da lei atual que permite aborto em alguns casos muito espec�ficos. Mas as pessoas que t�m dinheiro acabam indo a cl�nicas e fazem aborto com mais seguran�a. Pessoas com menos recursos ficam submetidas a cl�nicas ou a m�dicos menos escrupulosos. Como resolver isso?
Em primeiro lugar, ambos est�o cometendo crime. Uns com mais seguran�a; outros com menos seguran�a. O aborto � crime.
Mas...
Na realidade, est�o cometendo um assassinato. A grande discuss�o que voc� tem � onde come�a a vida. Na nossa vis�o, a vida come�a na concep��o. N�o come�a quando nasce a crian�a. Quem est� cometendo aborto sabe que est� assassinando um feto, que � um feto que tem vida.
Acho que n�s temos que fazer uma coisa mais radical. Eu tenho at� um projeto para isso, que � punir com mais rigor o m�dico que pratica o aborto. Eu ouvi a declara��o ontem (14) da Pol�cia Civil, � tarde, quando o policial disse o seguinte: "Aquilo era um a�ougue, eram a�ougueiros". N�o se pode permitir que um m�dico desses, que se preste a esse papel, n�o tenha uma puni��o de crime hediondo.
Mas deputado, isso existe h� d�cadas. Talvez h� s�culos.
Como existe, as pessoas consumirem drogas, h� s�culos.
Pois �.
Como existe, as pessoas praticando atos irregulares como corrup��o h� s�culos, n�o � porque crimes s�o praticados h� s�culos que vou legitim�-lo.
O sr. compara a corrup��o a aborto e ao uso de drogas.
Eu comparo corrup��o a aborto. Igualzinho. Acho que � um crime t�o hediondo quanto. Acho que voc� matar uma vida, ceifar uma vida, voc� est� fazendo um crime. � t�o pernicioso, t�o ruim como a corrup��o.
Muitos pa�ses j� flexibilizaram essa regra. Tem uma onda no mundo nesse sentido.
Como tem libera��o de drogas.
A respeito de drogas tamb�m. O sr. acha que o Brasil vai resistir nessa posi��o atual, para sempre, ou o sr. acha que em algum momento vai acabar capitulando?
A popula��o, na sua maioria, por v�rias pesquisas que eu j� vi, � contra o aborto. Enquanto a popula��o for na sua maioria contra o aborto dificilmente isso vai mudar.
A popula��o tamb�m � a favor �s vezes da pena de morte...
N�o vejo esse percentual desse jeito. Tamb�m sou contra a pena de morte pelo princ�pio de que n�o cabe a gente ceifar a vida de ningu�m.
Dificilmente um projeto que legalize o aborto passar� no Congresso Nacional.
Um tema da reforma pol�tica ser� tratado pelo Congresso no ano que vem: o financiamento de campanha. O Supremo Tribunal Federal j� formou maioria numa a��o que vai acabar resultando na proibi��o do financiamento de campanha por parte de pessoas jur�dicas, de empresas. Como o Congresso deve reagir?
A decis�o do Supremo vai implicar necessariamente que voc� tenha uma delibera��o.
Se o Supremo vetar o uso de dinheiro de empresas no financiamento de campanhas eleitorais e mantiver o mesmo n�vel de campanha que tem hoje, voc� vai provocar uma enxurrada de caixa 2 nas campanhas eleitorais.
� o que dizem.
O que vai acabar acontecendo � que n�s vamos mudar o Congresso para a Papuda [penitenci�ria de Bras�lia], porque vai ser uma circunst�ncia absurda. N�o tem condi��o nenhuma de fazer a campanha eleitoral do jeito que est� com financiamento de pessoas f�sicas. Voc� vai ter que mudar a regra, diminuir o custo de campanha.
Qual � a regra que o sr. prop�e que talvez possa ser aprovada l� no Plen�rio?
Se voc� quiser manter financiamento de pessoas f�sicas, voc� vai ter que reduzir a campanha para 30 dias, voc� vai ter que reduzir a televis�o para 15 dias.
Ent�o, se o Supremo for adiante...
...Haver� uma rea��o no Congresso.
E qual ser�?
Sou favor�vel a que se tenha o financiamento privado, que possa ser de empresas.
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Acesse a transcri��o completa da entrevista - parte 1
Acesse a transcri��o completa da entrevista - parte 2
A seguir, os v�deos da entrevista (rodam em smartphones e tablets, com op��o de assistir em HD):
1) Principais trechos da entrevista com Eduardo Cunha (9:08)
2) Dilma teria de demitir todos na Petrobras; agora � in�cuo, diz Cunha (3:09)
3) 2015 deve ter outra CPI da Petrobras e cassa��es, diz Cunha (2:14)
4) Se reeleita e n�o mudar na pol�tica, Dilma far� governo pior (1:30)
5) PT usou PMDB para alugar tempo de TV, foi humilhante (2:13)
6) Se A�cio ganhar, Temer n�o conduz PMDB em 2015 (0:57)
7) Sem dinheiro de empresas, vamos levar o Congresso para a Papuda (2:45)
8) Bancada do PMDB � metade Dilma, metade A�cio (2:48)
9) Quero transformar aborto em crime hediondo, diz Cunha (3:55)
10) Quem � Eduardo Cunha? (1:58)
11) �ntegra da entrevista com Eduardo Cunha (62 min.)
Livraria da Folha
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