Leia a transcri��o da entrevista de Roberto Rodrigues � Folha e ao UOL
Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agroneg�cios da Funda��o Get�lio Vargas, participou do Poder e Pol�tica, programa da Folha e do UOL conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A grava��o ocorreu em 18.set.2014 no est�dio do UOL em S�o Paulo.
http://www3.uol.com.br/module/playlist-videos/2014/roberto-rodrigues-no-poder-e-politica-1411175745887.js
Narra��o de abertura [EM OFF]: Jo�o Roberto Rodrigues tem 71 anos. � engenheiro agr�nomo formado pela Esalq, da Universidade de S�o Paulo.
Roberto Rodrigues vem de uma fam�lia de agr�nomos. Seu pai, Ant�nio Rodrigues, fundou entidades de representa��o do agroneg�cio e foi secret�rio de Agricultura de S�o Paulo no in�cio da d�cada de 60, no governo de Adhemar de Barros.
Roberto Rodrigues desenvolveu carreira na academia, no mundo empresarial e na pol�tica. � doutor honoris causa pela Universidade Estadual de S�o Paulo e coordenador do Centro de Agroneg�cio da Funda��o Get�lio Vargas.
Roberto Rodrigues tamb�m � empres�rio rural em S�o Paulo e no Maranh�o. Tem assento em conselhos de empresas e associa��es de classe, como Febraban e Fertilizantes Heringer.
Na �rea pol�tica, foi secret�rio da Agricultura de S�o Paulo, de 1993 a 1994, no governo de Luiz Ant�nio Fleury Filho. Em seguida, foi vice-presidente da Associa��o Comercial do Estado de S�o Paulo. Tamb�m presidiu a Sociedade Rural Brasileira.
Em 2003, o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva o nomeou ministro da Agricultura, cargo que ocupou por 3 anos e meio.
Roberto Rodrigues � o atual presidente do conselho deliberativo da Unica, a Uni�o da Ind�stria de Cana-de-a��car, e da Academia Nacional da Agricultura.
Folha/UOL: Ol�, bem-vindo a mais um Poder e Pol�tica - Entrevista. Este programa � uma realiza��o do jornal Folha de S. Paulo e do portal UOL. A grava��o desta edi��o est� sendo feita no est�dio do UOL, em S�o Paulo. O entrevistado desta edi��o do Poder e Pol�tica � Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agroneg�cios da Funda��o Get�lio Vargas e que tamb�m foi ministro da Agricultura durante um per�odo no governo Lula.
Folha/UOL: Ol�, como vai o sr., tudo bem?
Roberto Rodrigues: Tudo bem Fernando, � um prazer estar com voc� aqui.
O ex-presidente Lula, no seu primeiro mandato, falou muito no desenvolvimento de biocombust�veis e depois, a partir de 2007 quando a Petrobras confirmou a exist�ncia do pr�-sal, os biocombust�veis foram relegados a um segundo plano. Como que essa guinada afetou o setor de cana-de-a��car no Brasil?
Duramente, viu Fernando. Duramente. Na verdade n�o foi o pr�-sal o ponto de inflex�o desse processo de desprezo pelo setor. A crise de 2008 tamb�m afetou o setor muito fortemente, por causa da equa��o de pre�os entre gasolina e etanol. Naquele tempo n�s est�vamos crescendo 10% ao ano de 2003 at� 2008, 2009, depois come�ou a cair 1% ao ano, uma situa��o horrorosa. Como afetou isso? Muitos investimentos nacionais e estrangeiros atra�dos para o setor pelo pr�prio presidente Lula, pelos discursos do presidente Lula, o etanol era a menina dos olhos dele naquele processo todo, e que se endividaram atra�dos por esse processo, ficaram pendurado no pincel com a redu��o da renda, com secas sucessivas, com a redu��o da Cide, que � um tributo que compensa a externalidade do etanol sobre a gasolina, com a manuten��o da gasolina com pre�os quase que estabilizados para combater a infla��o gerando preju�zo tamb�m para a Petrobras. Ent�o, houve um desastre brutal. Hoje, j� tem mais de 60 usinas paradas, das quais mais da metade est�o em recupera��o judicial no pa�s, 50 mil empregos perdidos na cadeia produtiva, ind�stria e equipamentos para agricultura, para ind�stria de equipamentos, para a usina de a��car, caldeiras, moinhos, etc. 70 mil fornecedores de cana, s�o produtores independentes, est�o sofrendo o reflexo deste descasamento. � um desastre sem precedentes.
Quanto iria requerer por parte do governo, de esfor�o pol�tico e de esfor�o financeiro, para recuperar esse setor?
Isso pode ser feito em duas etapas, a primeira etapa � recuperar a renda do setor.
Como se faz isso?
Com a volta da Cide. Isso resolve o problema da renda, mas n�o resolve agora a segunda parte da sua pergunta. N�o resolve retomada de investimentos, porque a d�vida do setor hoje total � igual ao valor de uma safra inteira. Ent�o, n�o se consegue investimento s� com a retomada da renda, a� tem que ter um programa de investimentos que poderia ser centrado, por exemplo, um tema. Hoje, praticamente, 80% da safra de cana no sudeste, no centro-sul, � colhida mecanicamente, quando a cana � crua. Antigamente, o corte manual exigia a queima da cana. A cana queima. A cana cortada crua deixa no solo uma quantidade enorme de palha seca, essa palha fica ali no terreno. A palha do Estado de S�o Paulo e de Minas Gerais somadas queimadas em caldeiras de usina, que j� est�o dispon�veis, representa energia igual a uma Belo Monte, sem nenhum problema ambiental, sem nenhum problema de �ndio, ningu�m atrapalhando o processo. Ent�o um programa de financiamento de mudan�as nas caldeiras das usinas daria uma inje��o de energia extraordin�ria, exatamente entre maio e outubro, quando as represas s�o mais vazias. Este ano � um caso at�pico, dado a seca muito grande.
Mas para fazer isso do que depende? O governo precisa tomar uma atitude....
Tem que ter um plano de investimento. Vamos financiar via BNDES quem quiser trocar a caldeira. A proposta j� est�, est� pronta.
O sr. acha que teria de possibilidade de ades�o a esse tipo de programa para usar a palha e quanto custaria isso de financiamento para o BNDES que poderia financiar, por exemplo?
� muito dif�cil dizer isso para voc�. Por qu�? Porque h� usinas e usinas. Tem usinas que moem 10 milh�es de toneladas e t�m usinas que moem 1,5 milh�o de tonelada. Ent�o a caldeira para cada uma � diferente. A� nisso j� existem usinas com caldeiras preparadas. Tem muita gente fazendo gera��o de energia el�trica hoje na usina de a��car e �lcool. Ent�o, tem que fazer um estudo mais preciso para dar uma resposta de quanto vale isso, mas mesmo isso, Fernando, � apenas um come�o de conversa. � preciso olhar no longo prazo um Proer [Programa de Est�mulo � Reestrutura��o e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional], porque tem hoje empresas que nem com a Cide, nem com investimentos em caldeira talvez n�o consigam sair da crise financeira que tem. Ent�o, � preciso olhar de uma maneira muito mais abrangente com especificidade para cada regi�o do pa�s.
Tem um sentimento geral nos �ltimos 20 ou 30 anos que foi sendo constru�do no mundo, no Brasil inclusive, a respeito de uma animosidade entre o setor de agroneg�cio e o setor, vamos dizer, mais pol�tico chamado ambientalista, vamos dizer assim, se conflitam um sempre contra o outro. Em que medida, o sr. diria que no Brasil os representantes do agroneg�cio perderam a disputa pol�tica na narrativa com a outra ponta da discuss�o, os ambientalistas, e hoje s�o vistos �s vezes como inimigos do meio ambiente e n�o como, eventualmente, os que ajudam a fazer com que o Brasil tenha um PIB grande e produzir riqueza?
Resposta dif�cil de dar em curto tempo, mas vou tentar faz�-lo. Talvez o s�mbolo dessa animosidade, desse confronto, seja o C�digo Florestal. � uma discuss�o de mais de 10 anos e que confluiu, numa legisla��o, que n�o era a melhor poss�vel. Mas tem uma caracter�stica positiva, ningu�m gostou, nem ambientalistas e nem agricultores, ningu�m gostou.
Desagradou-se a todos?
Todo mundo ficou infeliz. Eu acho isso �timo, porque se s� um lado achasse isso bom, o outro teria sido prejudicado no processo. Como ficou equilibrado houve um arrefecimento na animosidade entre os setores. E agora, todos trabalham, ambientalistas e produtores rurais, para implementar as decis�es do C�digo Florestal. A implementa��o do CAR (Cadastro Ambiental Rural) que � um avan�o espetacular porque garante a legalidade de todos as fazendas brasileiras que estavam, praticamente, na ilegalidade com a legisla��o anterior. Agora, isso resolve o problema. E, sobretudo, um tema que para mim � fundamental, o tal do PSA (Pagamento por Servi�os Ambientais), que � uma mudan�a conceitual relevante.
Explique o que � isso.
Antes todo mundo que cometia um erro pagava multa, pesados tributos, e era jogado no inferno. Com o C�digo Florestal, regulamentando, que ainda est� no Congresso [Nacional] para ser regulamentado, regulamentado isso os produtores que andarem bem ter�o pr�mios, bonifica��es, inclusive em dinheiro, porque estar�o sequestrando carbono com seus mecanismos de pagamento ambiental. Isso muda completamente o cen�rio, dando ao produtor rural, com uma vis�o ambientalista, muito mais condi��es de crescimento econ�mico e social do que no passado. Isso junta ambientalistas e produtores, porque produtores far�o cada vez melhor para receberem vantagens e esse mercado, cada vez melhor, atender� os ambientalistas. Ent�o, isso � uma novidade fundamental. Acho que o C�digo Florestal � uma inflex�o dessas rela��es. Foi muito dif�cil chegar ao C�digo Florestal, chegar a um consenso, mas esse consenso obtido criou uma nova plataforma daqui para frente. Por�m, s� para terminar esse racioc�nio, � preciso fundamentar um outro tema. O que havia no passado, eventual desmando do produtor rural em rela��o � quest�o ambiental, se devia fundamentalmente a dois fatores. Primeiro, a ignor�ncia, o tema n�o era um tema conhecido, e segundo, falta de regras, de legisla��o. Agora existe. Ent�o o produtor rural hoje tem convic��o de que se ele fizer bem feito, ele ter� benef�cios e mais do que isso, ele estar� preservando o patrim�nio dele que � a terra dele. Se eu n�o preservar o solo tem a eros�o se n�o cuidar na beira de rio vai ter problema de desagrega��o. Ent�o, ele est� preservando para seus p�steros o seu patrim�nio. Ent�o ele virou um ambientalista, em geral, na imensa maioria dos produtores rurais brasileiros.
Deixa eu te perguntar. Queria alguns n�meros gerais do setor agropecu�rio no Brasil hoje. Quanto ele representa na composi��o do PIB?
23,5 %, do PIB.
Exporta��es, o que representa?
Exporta��es. N�mero do ano passado. O ano passado o saldo comercial do agroneg�cio brasileiro foi de US$ 83 bilh�es e o saldo comercial no Brasil foi de US$ 2,6 bilh�es, incluindo o agroneg�cio, porque, os demais setores, tiveram d�ficits de US$ 80 bilh�es. Foi assim no ano anterior, nos �ltimos 10 ou 15 ou 20 anos o saldo do agro � sistematicamente positivo e crescente o que tem garantindo o saldo comercial do pa�s de maneira geral e por via de consequ�ncia a preserva��o das reservas cambiais. Ent�o � um neg�cio impressionante, com outro n�mero. Em 2003, 10 anos atr�s, o agroneg�cio exportou US$ 30 bilh�es. Dez anos depois, 2013, ano passado, US$ 100 bilh�es, tr�s vezes e meio a mais num per�odo sobre o qual metade foi vivida dentro da maior crise financeira dos �ltimos 50 anos no mundo. Em que o com�rcio mundial refluiu e o agroneg�cio triplicou as suas vendas. Ent�o � muito competitivo.
O que o agroneg�cio deveria fazer para que a sua imagem perante a sociedade melhorasse em contraposi��o �s cr�ticas que sempre recebem o setor ambientalista?
Em primeiro lugar, eu acho que as cr�ticas est�o diminuindo por causa do tema j� referindo. Em segundo lugar, a imagem vem melhorando muito, Fernando, vem melhorando muito. E eu acho que aqui tem um tema fundamental, tudo � comunica��o, se voc� n�o comunica a verdade voc� vai sempre vai ter sempre uma impress�o, uma informa��o inadequada. Eu penso que a m�dia brasileira nesse aspecto mudou de posi��o. Esses n�meros todos, o agroneg�cio gera 30% dos empregos do pa�s, saldo comercial, participa��o no PIB, o PIB do agroneg�cio, que � 23%, mas a influ�ncia dele sobre o PIB nacional � muito maior, porque, por exemplo, bancos, seguradoras, f�brica de geladeira, f�brica de micro-ondas, isso acaba tendo uma vincula��o com o agroneg�cio, embora n�o seja agroneg�cio. F�brica de prato, de talher, tudo isso tem liga��o com o agroneg�cio. Outras coisas s�o direto, meu sapato e seu sapato s�o subproduto do churrasco, voc� come picanha e o couro vai para o sapato, o cinto, bolsa, etc. A tua gravata e a minha, eu suponho que sejam de seda, seda n�o nasce numa loja de tecido, tem que plantar a amora, colher a folha da amora, dar para a lagartinha feia que se chama bicho da seda comer, ela vira borboleta, casa com outra borboleta, faz o ninho que se chama casulo para botar um novo ovo, a� vai o sujeito l�, tira o casulo e faz gravata, corpete, combina��o, coisa dessa natureza maravilhosa. Ent�o, tudo � agroneg�cio, papel n�o nasce em resma, papel � �rvore. Ent�o, tudo � agroneg�cio. Eu acho. Cal�a jeans, n�o tem sem algod�o, e para ter cal�a jeans e ter algod�o tem que ter semente de algod�o, adubo para algod�o, defensivo para algod�o, trator para algod�o. Para ter trator tem que ter a�o, tem que ter ferro. Ent�o toda essa gigantesca integra��o na cadeia produtiva � sustentada por quem? Pelo algod�o, pelo produtor de algod�o. Eu penso que hoje o conceito de agroneg�cio � generalizado e o conhecimento sobre a import�ncia do agroneg�cio � conhecida, porque a m�dia tratou disso com muito mais nobreza, muito mais respeito. De modo que eu acho que tudo � isto, � imagem, � comunica��o e eu penso que a m�dia vem criando uma nova vis�o do agroneg�cio brasileiro. O que acabou, inclusive, percolando para a elei��o desse ano, porque todos os candidatos est�o interessados nesse assunto.
J� vou entrar nisso. Antes, sobre um desafio a� para o setor. O Cadastro Ambiental Rural [CAR]. O prazo estipulado � que em maio de 2015 os produtores estejam prontos para preencher o cadastro. Esse prazo � exequ�vel?
Dif�cil.
O tem que ser feito ent�o?
Tem que treinar gente para fazer isso. Eu defendo, por exemplo, a tese de que o sistema cooperativista devia se responsabilizar por isso num conv�nio qualquer com o Minist�rio do Meio Ambiente, mas formando gente porque tem que treinar gente para fazer isso, n�o � uma coisa trivial resolver isso a�. S�o 5 milh�es de propriedades no Brasil para fazer isso a� e algumas n�o t�m acesso. Ent�o, � um processo complexo para resolver. Tem que ter inclusive...
Um georreferenciamento?
Que � outro peda�o.
O cadastro, s� para esclarecer, � um processo no qual todas as propriedades no Brasil, propriedades rurais, ter�o que ser cadastradas, mapeadas e georreferenciadas?
E dizendo quanto de floresta tem, de reserva nativa tem, de reserva natural tem, de APP [�rea de Preserva��o Permanente] tem. Ent�o tem toda defini��o ambiental, o que dar� uma seguran�a institucional ao agro brasileiro.
Quanto tempo o sr. acha que vai ser necess�rio para que isso esteja preenchido?
Dif�cil dizer, Fernando. Dif�cil dizer. Mas eu acho que se houvesse um esfor�o concentrado numa PPP, numa Parceria P�blico-Privada, eu acredito que em um ano e meio, dois anos, a gente d� um grande salto. Inclusive pode ficar um pedacinho sem fazer, mas ser� um peda�o pequeno.
Tem muitas barreiras internacionais ao agroneg�cio no Brasil, como tem para v�rios pa�ses, n�o � s� para o Brasil. O que o governo brasileiro fez ou pode fazer para que essas barreiras sejam transpostas?
Talvez as barreiras mais complexas estejam dentro do pa�s.
Por exemplo?
� o custo do Brasil, n�o �? Log�stica. Log�stica � um tema central. Um saco de soja no Mato Grosso custa tanto quanto transport�-lo para o porto de Santos ou de Paranagu�. Mas isso, evidentemente, tira a competitividade de n�s. Ent�o o problema central, log�stica. Segundo problema, pol�tica de renda. Qualquer pa�s do mundo desenvolvido com agricultura importante tem pol�tica de renda muito clara, seguro rural que garante rendimento ao produtor, independente de pre�o de mercado ou de condi��o de clima. E por que isso � relevante l� fora? Porque os governos de pa�ses desenvolvidos entendem que o produtor tem que produzir para garantir o abastecimento interno e para exportar, ajudando o saldo comercial dos pa�ses. Ent�o, a estabilidade de renda do produtor rural nos pa�ses desenvolvidos � uma regra que a sociedade deseja, porque � um benef�cio para ela. E aqui esse neg�cio n�o funciona ainda, o cr�dito rural � uma lei de [19]65. Ent�o embora haja esfor�os sucessivos de governos sucessivos para melhorar isso, o atual ministro da Agricultura, por exemplo, faz um esfor�o louco para melhorar o seguro rural, n�s temos hoje menos de 10% da �rea brasileira coberta por seguro rural, que � uma coisa muito pequena, uma ninharia. Estrutura log�stica, pol�tica de renda, pol�tica comercial. Hoje 40% do com�rcio mundial de alimentos se d�o no �mbito de acordos bilaterais entre pa�ses. Dois pa�ses fazem acordo bilateral para qu�? Para aumentar o com�rcio entre eles, e com isso aumentar a riqueza, emprego e renda.
A prop�sito, o Mercosul mais ajuda ou atrapalha o agroneg�cio no Brasil?
Atrapalha. Por exemplo...
Por qu�?
Porque o Brasil � 70% do agroneg�cio do Mercosul. Um acordo do Mercosul com a Uni�o Europeia seria fundamental para o Brasil e para o Mercosul. N�s n�o conseguimos fazer porque a Argentina n�o deixa. Ent�o n�s temos que ter uma posi��o diferente. Claro que o Mercosul tem uma import�ncia pol�tica fundamental para o mundo contempor�neo e para o Brasil tamb�m, mas ela n�o pode perturbar avan�os comerciais que o Brasil pode ter. Ent�o temos que ter acordos bilaterais, avan�ar em novos mercados, agregar valor ao produto agr�cola. Ent�o s�o tr�s temas fundamentais: log�stica, pre�o comercial, pol�tica de renda. E tem um monte de outras coisas que, talvez, tudo se traduza numa �nica palavra, ou numa palavra dupla, estrat�gia articulada. N�s n�o podemos ter um... No mundo inteiro, Minist�rio da Agricultura se chama Minist�rio da Agricultura, Floresta e Pesca. N�s temos dois Minist�rios da Agricultura, o MDA [Minist�rio do Desenvolvimento Agr�rio] e o Mapa [Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento], um de Floresta, um de Meio Ambiente e um de Pesca. S�o quatro ministros disputando o mesmo espa�o, o mesmo prest�gio na m�dia, o mesmo prest�gio junto ao presidente da Rep�blica, ao parlamento. Portanto h� uma dispers�o de recursos, e �s vezes at� de interesse, que podem ser conflitantes. Ent�o, harmonizar isto � fundamental.
O sr. acha que um s� bastaria?
Sim. Com pol�ticas diferentes para casa segmento. Agora...
Mas com comando �nico de um ministro?
�. Por�m, a ess�ncia disso � que a estrat�gia seja do Estado brasileiro. Nem do governo, do Estado brasileiro. Claro que o presidente da Rep�blica tem que ter uma estrat�gia pro agro dele, n�o �? De forma que o ministro seja o gestor desse estrat�gia. Por que isso � relevante? Porque o Minist�rio da Agricultura, por exemplo, � bem administrado hoje em dia e tem t�cnicos da melhor compet�ncia. Ent�o, a pol�tica agr�cola est� pronta no Minist�rio da Agricultura. Qual � o problema? Log�stica. Quem cuida? O Minist�rio dos Transportes, em termos de portos. Com�rcio? O Itamaraty, Minist�rio da Ind�stria e do Com�rcio Exterior. Meio Ambiente? Minist�rio do Meio Ambiente. Agroenergia? Minist�rio de Minas e Energia, Petrobras, ANP [Ag�ncia Nacional do Petr�leo, G�s Natural e Biocombust�veis]. A quest�o sanit�ria? Anvisa, Ibama. A quest�o dos �ndios? A Funai. A quest�o dos or�amentos? Minist�rio do Or�amento, Minist�rio do Planejamento. O problema tecnol�gico? Minist�rio da Ci�ncia e Tecnologia. Ent�o, os instrumentos para estrat�gia est�o dispersos entre minist�rios, ag�ncias e empresas do governo, que se n�o houver estrat�gia una nunca teremos uma agricultura crescente no pa�s.
Como � que o sr. compara a gest�o do setor, o Minist�rio da Agricultura, na atual administra��o federal da presidente Dilma Rousseff � gest�o da administra��o do ex-presidente Lula?
Me sinto constrangido sobre uma compara��o dessa. Acho que at� por quest�es �ticas eu n�o deveria fazer essa compara��o, mas o que se reclama � que houve uma esp�cie de partidariza��o do Minist�rio da Agricultura com todas as suas institui��es e isso criou uma certa barreira entre o setor e entre eles o Minist�rio da Agricultura. Que n�o existe mais hoje, fa�o quest�o de frisar isso, porque o atual ministro � um homem do setor, conhece o assunto, inclusive montou um plano de safra para esse ano que � muito bom do ponto de vista de or�amento, recurso para o cr�dito rural, financiamento para armazenagem. Ent�o, tem uma nova vis�o, mas foram tr�s anos com dificuldades nessa dire��o. Sem falar na agroenergia, que perdeu completamente a interlocu��o com o governo.
Temos tr�s candidatos mais competitivos que disputam a Presid�ncia da Rep�blica. A pr�pria presidente Dilma Rousseff, do PT, a candidata do PSB, Marina Silva, que substitui o Eduardo Campos, e A�cio Neves, candidato pelo PSDB. O sr. conhece as propostas, em linhas gerais, de cada um deles para o agroneg�cio. Qual � o ju�zo que o sr. faz para cada um dos tr�s a respeito do setor?
Em primeiro lugar deixa eu fazer aqui... Ratificar uma coisa que eu disse h� minutos atr�s. Eu tenho 50 anos de vida na agricultura sempre em �rg�os de classe na agricultura. Em elei��es nesses 50 anos sempre o setor se organizou e levou aos candidatos propostas e planos de a��o. Nunca houve a menor rea��o em rela��o a isso. Esta elei��o, e eu suponho por causa do que eu disse antes, a m�dia levou a informa��o ao setor urbano, que � majorit�rio do ponto de vista eleitoral, tem mais votos do que no setor rural. Ent�o os tr�s candidatos que voc� se referiu procuraram o setor rural, lideran�as, institui��es, em busca de sugest�es para um plano de governo. Ent�o, n�s acabamos gerando, organizei um grupo de t�cnicos na Academia da Agricultura que eu presido, mais a GV [Funda��o Get�lio Vargas], mais a Abag [Associa��o Brasileiro do Agroneg�cio] e montamos uma plano de governo com base em 5 temas: sustentabilidade, competividade, seguran�a jur�dica, governan�a e orienta��o a mercados, que deram 70 e tantos temas. Isso foi enviado no final de maio a todas as entidades de classe do agro brasileiro, que responderam com sugest�es, propostas, gerando um segundo draft, que foi discutido na Get�lio Vargas, no dia 15 de julho, com a maior parte de entidades do agro brasileiro, gerando um terceiro e �ltimo documento que foi enviado aos tr�s candidatos. Ent�o eles responderam a isso. A�cio Neves e Eduardo Campos muito pr�ximos do que n�s pretend�amos, muito perto do que n�s pretend�amos. A presidente Dilma por sua vez, aproximou-se muito da presidente da CNA [Confedera��o Nacional da Agricultura], nossa maior l�der, senadora K�tia Abreu (PMDB-TO), que � a maior l�der rural brasileira, e o programa foi costurado entre ambas tamb�m com aproxima��o muito grande dos interesses do setor. Ent�o eu diria que os tr�s candidatos, A�cio, Eduardo e Dilma estavam muito pr�ximos dos sonhos da agricultura, na dire��o da tal estrat�gia com o Minist�rio da Agricultura mais fortalecido com gente, como o atual ministro, competente no setor. A trag�dia de Eduardo Campos mudou um pouco o cen�rio, e a candidata Marina Silva introduziu no programa alguns temas que n�o s�o t�o, digamos assim, afeitos aos interesses do setor.
Quais s�o eles?
Dois temas centrais. Primeiro ela ressuscitou o tema do �ndice de produtividade como instrumento de medir a capacidade do produtor de produzir adequadamente num n�vel que atenda � determina��o constitucional, segundo a qual, toda propriedade rural tem que cumprir a sua fun��o social, produzir, gerar emprego, proteger o meio ambiente. Ent�o, quem n�o cumprisse isso ficaria sujeito a desapropria��o. Esse � um item. E o outro item � o item do desmatamento zero, que eu acho que � um pouco ut�pico. N�s, o mundo ter� 2 bilh�es de pessoas nos pr�ximos 30 anos, e vamos precisar comer. 80% do crescimento da produ��o vir� de produtividade, mas 20% vir�o de novas �reas no Brasil e outros pa�ses do mundo e o Brasil � que tem hoje 61% do territ�rio, 61% do territ�rio, com florestas nativas do tempo de Ad�o e Eva. Ent�o, abrir algum cerrado ser� necess�rio. Por�m, a minha tese � desmatamento ilegal zero. Ou faz com legalidade, com autoriza��o do Ibama, do Meio Ambiente, com benepl�cito de todos os �rg�o competentes ou n�o pode fazer, mas desmatamento zero eu acho que � um exagero.
O sr. conversou com o candidato a vice-presidente na chapa de Marina Silva, que vem a ser o deputado federal Beto Albuquerque, do PSB, do Rio Grande do Sul. O sr. discutiu esses temas com ele? O que ele disse para o sr.?
Discuti esses temas e mais alguns. Ele foi muito enf�tico.
Por exemplo, desmatamento zero. O que ele fala que ser� de fato o programa num eventual governo Marina Silva?
Ele concorda que o tema deve ser trabalhado na linha da legalidade.
Ou seja?
O que for legal, o que for desmatamento autorizado legal, tudo bem. Foi ilegal, sem contempla��o. O que eu concordo plenamente.
Ele disse que essa deve ser a linha de um eventual governo Marina.
"Concordo com a sua tese". Quanto ao...
Produtividade.
...produtividade. Ele foi ainda mais enf�tico. Ele disse que houve uma m� interpreta��o desse tema. O que ele disse que � o pensamento da Marina, e sobretudo dele e era do Eduardo, � que o �ndice de produtividade tem que ser usado como uma medi��o da compet�ncia dos produtores.
Como assim?
Aquele que for mais produtivo ter� pr�mios, em vez de castigo porque foi menos produtivo. De modo a estimular os que t�m menos produtividade a serem tamb�m premiados no futuro. Ent�o, o �ndice de produtividade ter� um b�nus e n�o um �nus para o produtor. Essa � a vis�o que ele me transmitiu claramente.
Algum outro aspecto que ele esclareceu para o sr. que tenha d�vida a respeito do programa de Marina Silva que mere�a ser mencionado?
N�o em rela��o ao programa, mas a uma vis�o dele e de Marina � de que o Minist�rio da Agricultura teria a mesma vis�o colocada por A�cio Neves. Ser� um minist�rio fortalecido perante o conjunto dos minist�rios, com ministro com meritocracia, que conhecesse o assunto, e que tivesse o respaldo da categoria, produtores rurais. Ent�o s�o tr�s pontos muito interessantes que mudam, digamos assim, a t�tica do programa da Marina.
O sr. deu uma declara��o pessoal a respeito da sucess�o presidencial, dizendo que particularmente deve optar pelo voto em A�cio Neves no primeiro turno. Tudo indica, entretanto, nas pesquisas, que o segundo turno possa ser apenas entre Dilma Rousseff e Marina Silva. Num eventual segundo turno entre Dilma Rousseff e Marina Silva, que d�vidas v�o permanecer e que tipo de debate vai ter que acontecer a respeito do agroneg�cio entre ambas?
Essa � uma quest�o muito complexa. Eu diria at�, Fernando, que ainda no primeiro turno essa quest�o est� ainda indefinida. Por qu�? Porque Dilma Rousseff � respeitada pela CNA, tem o apoio da senadora K�tia Abreu, que consta que seria a ministra da Agricultura do segundo mandato da Dilma, que seria �timo para n�s, K�tia Abreu sabe tudo e h� muita esperan�a de que ela resolva muitos problemas, mas ela � muito benquista na fronteira agr�cola, onde a log�stica e o cr�dito s�o fundamentais, e o plano de safra � muito bom nesse aspecto. Ela � muito querida na fronteira, Mato Grosso, Tocantins, regi�es de fronteira, Par�, etc. Marina Silva � muito benquista no setor sucroenerg�tico porque o etanol emite s� 11% do que a gasolina emite, gera emprego, riqueza, que est� muito de acordo com a vis�o de Marina e ela j� disse isso claramente. Resgatar� a agroenergia.
E isso no Sudeste?
Sudeste, uma parte do Centro-Oeste tamb�m. E o A�cio tem o apoio numa regi�o desenvolvida de Paran�, S�o Paulo, Minas Gerais, ent�o o setor est� dividido em rela��o at� ao primeiro turno.
O sr. particularmente confirma, o sr. num momento v� mais clareza em A�cio Neves, do seu ponto de vista?
Por uma raz�o clara. Porque a melhor proposta, a melhor resposta dada ao nosso plano, oferecido aos tr�s candidatos, foi dada por ele. Eduardo Campos, quase id�ntico, Marina teve esse adicional de periculosidade a que me referi j�. Mas respondendo � sua pergunta, na hip�tese de Marina e Dilma irem para segundo turno eu acho que ser� necess�rio esclarecer pontos que hoje n�o est�o ainda suficientemente claros.
Esses que o sr. mencionou, que Beto Albuquerque mencionou, por exemplo?
Isso. Por exemplo. Dilma ter� que dizer o que ela pretende em rela��o � agroenergia. Qual � a matriz energ�tica para o pa�s? Ela que � especialista em energia. Qual � o papel da Petrobras? Qual � o papel da agroenergia? Qual � o papel do etanol na agroenergia? Qual � o mecanismo para a recupera��o nesse setor que gera um milh�o de empregos s� em S�o Paulo? Ent�o � preciso que ambas se debrucem sobre o agroneg�cio com mais especificidade e com mais respostas �s perguntas colocadas.
O sr. acredita que, dado o hist�rico de Marina Silva durante per�odo em que ela foi ministra, inclusive na mesma �poca que o sr. foi ministro da Agricultura ela foi ministra do Meio Ambiente, havia muito debate ali, muita fric��o entre essas �reas. O sr. acredita que Marina Silva com um discurso parecido com esse que o sr. ouviu de Beto Albuquerque consiga debelar a resist�ncia que existe em rela��o a ela?
� dif�cil responder isso, Fernando. Marina, houve um per�odo, no qual voc� se referiu, na discuss�o, por exemplo, sobre a transgenia, come�o do governo Lula, mais tarde no C�digo Florestal que ela teve posi��es muito duras contra o agroneg�cio como consequ�ncia do que ela queria, do que ela propunha. Isso gerou uma desconfian�a muito grande em rela��o a ela. A quest�o do desmatamento tamb�m gerou algumas �reas de grande atrito, Mato Grosso, governador do Estado foi chamado de motoserra de ouro por ela. Ent�o, ela gerou uma �rea de desconfian�a e de rejei��o muito grande. Hoje converso com ela e a vejo muito mais flex�vel e disposta ao di�logo e as pessoas dizem "mas claro, est� na campanha eleitoral", ent�o eu acredito que para o segundo turno ela precisa ter muita sensibilidade e clareza para eventualmente retomar a confian�a do setor.
Agora eu enxergo tamb�m, falando com empres�rios do setor, pol�ticos ligados ao setor, que a presidente Dilma Rousseff tamb�m n�o � uma campe� de popularidade no setor.
N�o �.
Ent�o teremos duas candidatas, se o segundo turno for entre as duas, que enfrentam resist�ncias do setor?
Raz�o pela qual acabo de dizer que ambas t�m que olhar para o setor com especificidades. Olha, no assunto tal minha posi��o � X. No assunto tal, minha posi��o � Y. Para que haja uma posi��o muito definida e o setor possa tamb�m se posicionar tamb�m com mais clareza.
Por exemplo, no caso de Marina Silva se ela assume um discurso p�blico falando sobre o desmatamento zero ilegal?
Desmancha qualquer resist�ncia a ela nessa �rea.
�ndice de produtividade como um fator de incentivo a que os produtores tenham um bom �ndice e n�o apenas como fator para puni��o para os que n�o tiverem?
�timo, mas o que est� escrito no programa n�o � isso. Ent�o tem que reescrever o programa.
Entendi. Agora, nessa eventualidade de ambas fazerem, n�o sei, vou usar a palavra concess�o, eles v�o dizer que n�o est�o fazendo concess�o nunca porque s�o pol�ticas, mas, enfim, de calibrarem o discurso. Quem que o sr. acha que tem mais m�sculo eleitoral para convencer o setor no segundo turno?
A� eu me socorro de Niels Bohr [1885-1962], que era um famoso economista n�rdico, que dizia "a coisa mais dif�cil � fazer previs�es, especialmente quanto ao futuro". Ent�o... [risos]. E eu, Fernando, n�o entendo nada de pol�tica. Eu entendo de agricultura, de pol�tica eu n�o entendo nada. Eu consegui chegar at� aqui foi nas suas perguntas com base na minha quilometragem, mas eu sou jejuno em pol�tica, eu n�o entendo nada em pol�tica, ent�o eu acho que essa resposta � totalmente imposs�vel de ser dada agora.
Uma das propagandas recentes na televis�o, na campanha eleitoral da presidente Dilma Rousseff, fala que se eleita Marina Silva reduzir� os subs�dios dados pelos bancos p�blicos e que isso afetar� v�rios programas, inclusive o agroneg�cio. O sr. acredito que isso � uma infer�ncia correta?
Na verdade, os subs�dios que existem para o agroneg�cio s�o muito pequenos. E se houve alguns subs�dios para agricultura familiar que t�m que ser mantidos. Com a economia globalizada avan�ando planetariamente, h� uma regra muito clara na agricultura, a margem por unidade de produto � cada vez menor. Por outro lado, h� uma concentra��o a montante da agricultura. Consumidores de insumos, equipamentos e etc. Est�o � jusante na ind�stria de transforma��o. Ent�o, o agricultor brasileiro � um tomador de pre�o, ele n�o forma pre�o. Ele compra o insumo pelo pre�o que ele � vendido e vende a sua produ��o pelo pre�o que ele � pago, ent�o ele n�o � tomador de pre�o. E com isso as margens tamb�m encolhem o setor rural brasileiro e o pequeno produtor, de modo que a �nica forma de avan�ar � na escala, e o pequeno produtor por defini��o n�o tem escala. Ent�o � preciso ter uma pol�tica para eles espec�fica para que ele tenha escala no conjunto via, por exemplo, cooperativas, associa��es de classe que at� agreguem valor � sua atividade produtiva. Ent�o, eu n�o acho que o subs�dios do Brasil, ali�s eu acho n�o, � um estudo feito pela OCDE [Organiza��o para a Coopera��o e Desenvolvimento Econ�mico] que mostra dois pa�ses do mundo com menos subs�dio que o Brasil, a Austr�lia e a Nova Zel�ndia, n�s estamos muito baixo nos subs�dios. Ent�o, n�o vejo muito o que pode ser sacado do subs�dio, e se houver alguma redu��o da prote��o ao pequeno produtor o desastre ser� muito mais importante do que a manuten��o de eventuais prote��es.
Falando sobre o pr�ximo governo, o sr. acha fundamental, portanto, que o Minist�rio da Agricultura consiga agregar essas quatro �reas hoje, que s�o quatro minist�rios, e que tenha um poder pol�tico emanado diretamente do presidente e que tenha um poder robustecido em rela��o ao que tem sido hoje. O sr. acha que isso n�o aconteceu nos �ltimos tempos?
Eu inverto a equa��o que voc� apresentou. O ministro � importante, mas mais importante � a estrat�gia ser do presidente da Rep�blica, ele ser o condutor da estrat�gia. E a� o ministro, qualquer que seja ele, desde que haja m�rito na sua escolha, ser� um bom gestor. O que n�o pode ter � o ministro das Rela��es Exteriores ter uma posi��o na OMC [Organiza��o Mundial do Com�rcio] diferente dos interesses da agricultura, que difere da agroenergia, porque o interesse � mais ligada � �rea de combust�vel f�sseis, tem que ter uma estrat�gia que articule tudo.
Estou entendendo aqui que o sr. n�o est� descartando de pronto nenhuma das duas candidatas no segundo turno, enfim, as duas podem, eventualmente, conquistar uma simpatia do setor. Agora, o sr. particularmente acha realmente, o sr. conhece Marina Silva, foi ministro junto com ela, voc� acha que ela consegue dar esses passos para tentar conquistar o setor?
Como disse h� alguns minutos atr�s, eu tenho conversado com ela mais recentemente e sinto nela uma disposi��o ao di�logo muito maior do que havia no passado, muito maior. As pessoas aprendem mais, acabam se envolvendo com discuss�es diferentes daquilo que acreditavam e isso � poss�vel. Todo mundo vai para frente. Eu acho que ela est� hoje muito mais flex�vel, muito mais disposta ao di�logo do que estava no passado e isso, como consequ�ncia, al�m do contato muito estreito que ela tinha com Eduardo Campos que era um homem com uma vis�o abrangente dessas quest�es muito disposto, o pr�prio Beto Albuquerque, � um homem, um ga�cho, e ga�cho nem que seja da agricultura entende da agricultura, o Estado � eminentemente agr�cola, n�o � a toa que tem muita informa��o sobre agricultura brasileira. Eu acho que h� espa�o tanto para ela ampliar sua vis�o em rela��o ao agroneg�cio, quanto de Dilma Rousseff de compreender que � preciso dar um novo tratamento, seja para agroenergia, seja para regi�es do pa�s que n�o sejam s� fronteira agr�cola.
Ou seja, o sr. que deve ser eleitor de A�cio Neves no primeiro turno, no segundo turno considera vi�vel votar tanto em Marina quanto Dilma dependendo do que cada uma, enfim, calibre do seu discurso, � isso?
Eu gostaria muito de votar no segundo turno no A�cio Neves.
Mas ele n�o estando, a� ter� que escolher entre as duas?
� um hip�tese a ser considerada oportunamente.
Os passos dados por Beto Albuquerque ajudaram at� agora?
Sem d�vida. At� agora tem desanuviado ambientes, mas acho que � importante que a candidata diga o que Beto est� dizendo.
Diga de maneira clara, publicamente?
O que ele est� dizendo.
Desmatamento zero s� no caso ilegal, �ndice de produtividade para...
Com setor produtivo positivo, valoriza��o do produtor.
Entendi.
Minist�rio forte.
Muito bem. Roberto Rodrigues � da GV Agro, que foi ministro do governo Lula, o sr. imaginava, quando o sr. foi ministro l� atr�s, que em 2014 poderia votar at� em Marina Silva para presidente?
[risos]. Que pergunta capciosa. Tem tanta coisa que eu nunca imaginava h� 10 anos atr�s, tanta coisa que n�o imaginava h� 10 anos atr�s, que � preciso fazer uma sele��o dessas perguntas todas.
Quando o sr. foi ministro, o sr. foi ministro 3 anos e meio aproximadamente...
Exatamente, 3 anos e meio.
O sr. saiu um pouco decepcionado do governo? Como � que foi esse per�odo que o sr. foi ministro? O sr. traz boas lembran�as e tamb�m deve trazer algumas n�o t�o boas, quais s�o elas?
As boas lembran�as est�o no fato de ter conseguido fazer 50% do que eu queria.
E as m�s?
E as m�s, n�o ter feito os outros 50%.
Onde que o presidente Lula � �poca se encaixa nisso?
Era um homem, ele � um homem interessant�ssimo. Um homem com uma intelig�ncia fulgurante, um bom senso impressionante e uma agilidade mental fant�stica. Ent�o, voc� levava temas que n�o eram de conhecimento dele ou sobre os quais ele tinha uma posi��o contr�ria � minha, mas ele era absolutamente sens�vel � argumenta��o, � demonstra��o do que � verdadeiro no processo, ele compreendia e mudava de posi��o. Ent�o ele tem essa capacidade de mudar de posi��o.
O sr. tem falado com ele ultimamente?
Algumas vezes. Poucas, mas algumas vezes.
O que ele fala da sucess�o presidencial para o sr.?
Para mim ele n�o fala nada n�o, ele sabe que eu n�o entendo de pol�tica ent�o n�o fala nada.
Ele n�o pede "ajude a Dilma na elei��o"?
Eu disse para ele que votaria no A�cio Neves.
Como ele reagiu?
Com uma simpatia enorme. Porque ele � um homem simp�tico, de bom senso, democrata. Ele � um democrata por defini��o.
Ele comentou sobre a chegada de Marina Silva ao processo com o sr.?
Ligeiramente, ligeiramente. N�o vai ser nenhuma... Ele sabe que eu n�o entendo de pol�tica e que n�o gosto desse neg�cio. Houve um tempo em que ele gostaria que eu entrasse em um partido pol�tico depois ele mesmo compreendeu que eu n�o tinha capacidade para fazer isso e me liberou desse processo. Ent�o ele n�o trata de pol�tica ambiental, trata de agricultura comigo.
E o sr. aqui em S�o Paulo tem alguma posi��o formada sobre a sucess�o para o governo de S�o Paulo?
Eu sou muito amigo do Geraldo Alckmin, h� muitos anos. Geraldo foi deputado federal constituinte quando era presidente da OCB (Organiza��o das Cooperativas Brasileiras), e montei uma frente parlamentar do cooperativismo e uma frente parlamentar da agricultura, eu presidia na �poca tamb�m a frente ampla da agropecu�ria brasileira. Ent�o tinha um contato muito estreito com o Congresso. Tinha gente que achava que eu era deputado, tanto que eu vivia no Congresso, a sede era l� em Bras�lia, e o Geraldo teve um papel relevante, ele e outro deputado paulista, Mendes Thame, foram deputados muito atuantes na frente parlamentar do cooperativismo e da agricultura. Ent�o eu sou amigo do Geraldo h� 20 e tantos anos. Al�m do que, ele tinha um tio que foi presidente da OCB que eu presidi na �poca, ele � um homem do interior.
Ou seja, portanto em S�o Paulo o sr. deve votar em Geraldo Alckmin?
Eu tenho uma vincula��o com ele. E sou amigo do Paulo Skaf, porque presidi a pedido dele o conselho do agroneg�cio da Fiesp [Federa��o das Ind�strias do Estado de S�o Paulo], que ele criou e eu fui, digamos assim, o implantador do processo. Ent�o eu tenho uma rela��o muito boa com ambos.
Mas deve votar?
No Geraldo, provavelmente.
Muito bem. Roberto Rodrigues muito obrigado por sua entrevista � Folha de S. Paulo e ao UOL.
Eu que agrade�o pela oportunidade.
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