Agroneg�cio s� apoia Marina se ela reescrever programa
O coordenador do Centro de Agroneg�cio da Funda��o Get�lio Vargas, Roberto Rodrigues, diz ainda haver desconfian�a a respeito de Marina Silva. Para que a candidata a presidente pelo PSB dissipe d�vidas, ter� de "reescrever" parte do seu programa antes do final da campanha eleitoral.
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Rodrigues foi ministro da Agricultura de 2003 a 2006, durante o primeiro mandato de Luiz In�cio Lula da Silva. Em entrevista ao programa Poder e Pol�tica, da Folha e do "UOL", aponta dois aspectos principais que considera necess�rios para Marina conquistar o apoio mais amplo do setor de agroneg�cio.
Primeiro, esclarecer que a meta de "desmatamento zero" no programa de governo do PSB se refere a "desmatamento ilegal zero". Para ele, zerar o desmatamento � "um pouco ut�pico". Acredita que seja necess�rio "abrir algum cerrado" no Brasil para garantir o suprimento de alimentos no futuro.
Segundo, que o �ndice de produtividade de propriedades rurais (usado em casos de desapropria��es) sirva para premiar quem consegue bons resultados, e n�o punir os que ficam para tr�s.
Rodrigues diz ter expressado essas condi��es nesta semana para Beto Albuquerque, candidato a vice-presidente na chapa com Marina Silva. "Ele concorda que o tema [desmatamento] deve ser trabalhado na linha da legalidade (...) [Sobre o �ndice de produtividade], foi mais enf�tico: disse que houve uma m� interpreta��o. Falou que o objetivo � dar pr�mios aos mais produtivos, em vez de castigo aos menos. O �ndice de produtividade ser� um b�nus, n�o um �nus ao produtor".
Seria "�timo" se Marina vocalizasse essas propostas, mas insuficiente para convencer o setor, diz Rodrigues. Para ele, "tem que reescrever o programa".
No primeiro turno da elei��o presidencial, Roberto Rodrigues afirma que votar� em A�cio Neves (PSDB). No segundo turno, se a disputa ficar entre Marina e Dilma Rousseff (PT), n�o revela sua prefer�ncia. D� a entender que ele e muitos empres�rios do agroneg�cio v�o aguardar mais compromissos de ambas as candidatas.
Diz que Dilma "n�o �" campe� de popularidade do setor. E que a petista e Marina Silva "t�m que olhar para o setor com especificidades". Acha que a candidata do PSB parece ter demonstrado "uma disposi��o ao di�logo muito maior que no passado. (...) As pessoas aprendem mais, isso � poss�vel, todo mundo vai para a frente". Mas ressalta: "� importante que a candidata [Marina] diga de maneira clara o que ele [Beto Albuquerque] est� dizendo".
Com mais de 50 anos de atua��o no agroneg�cio, Roberto Rodrigues defende fundir os minist�rios da Agricultura, do Desenvolvimento, da Pesca e do Meio Ambiente em apenas um: o Minist�rio da Agricultura, Floresta e Pesca. O objetivo seria reduzir a "dispers�o de recursos" e harmonizar estrat�gias. Afirma ter ouvido uma concord�ncia a respeito por parte de Beto Albuquerque.
Indagado sobre a antiga rixa entre ruralistas e ambientalistas, Rodrigues acredita que a aprova��o do novo C�digo Florestal, em 2012, "arrefeceu" os �nimos ao estabelecer regras claras. Hoje haveria mais conhecimento sobre a import�ncia do meio ambiente. "O produtor rural tem convic��o de que (...) se n�o preservar o solo, tem eros�o, se n�o cuidar na beira de rio, vai ter problema de desagrega��o. Ent�o, ele virou um ambientalista", diz.
Rodrigues, que tamb�m preside a Unica (Uni�o da Ind�stria de Cana-de-A��car), afirma que o setor passa por uma crise devido ao pre�o desfavor�vel do etanol em rela��o � gasolina. A solu��o, defende, passa pela retomada da Cide (Contribui��o de Interven��o no Dom�nio Econ�mico), empr�stimos do BNDES para modernizar as caldeiras e uma pol�tica governamental de longo prazo.
Para Rodrigues, a magnitude da ajuda necess�ria para o setor � equipar�vel ao Proer [Programa de Est�mulo � Reestrutura��o e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional], implementado em 1995 no in�cio do governo de Fernando Henrique Cardoso para sanear bancos em dificuldade.
A seguir, trechos da entrevista realizada em 18.set.2014, no est�dio do UOL, em S�o Paulo:
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Folha/UOL - O ex-presidente Lula, no seu primeiro mandato, falou muito no desenvolvimento de biocombust�veis. A partir de 2007, quando a Petrobras confirmou a exist�ncia do pr�-sal, o tema foi relegado a segundo plano. Como essa guinada afetou o setor de cana-de-a��car?
Roberto Rodrigues - Duramente. E n�o foi o pr�-sal o ponto de inflex�o desse processo de desprezo pelo setor. A crise de 2008 tamb�m afetou o setor fortemente, por causa da equa��o de pre�os entre gasolina e etanol. Naquele tempo, n�s est�vamos crescendo 10% ao ano, de 2003 a 2009. Depois, come�ou a cair 1% ao ano, uma situa��o horrorosa. Muitos investimentos nacionais e estrangeiros atra�dos para o setor pelo pr�prio presidente Lula, pois o etanol era a menina dos olhos dele, se endividaram com a redu��o da renda, secas sucessivas e a redu��o da Cide [Contribui��o de Interven��o no Dom�nio Econ�mico]. E com a manuten��o da gasolina com pre�os estabilizados para combater a infla��o, gerando preju�zo tamb�m para a Petrobras. Houve um desastre brutal. Hoje h� mais de 60 usinas paradas, das quais mais da metade est� em recupera��o judicial e 50 mil empregos perdidos na cadeia produtiva.
O que precisaria ser feito para recuperar esse setor?
Isso pode ser feito em duas etapas. A primeira � recuperar a renda com a volta da Cide. Isso resolve o problema da renda, mas n�o a retomada de investimentos, porque a d�vida do setor hoje total � igual ao valor de uma safra inteira. N�o se consegue investimento s� com a retomada da renda. Tem que ter um programa de investimentos.
Por exemplo, hoje praticamente 80% da safra de cana no centro-sul � colhida mecanicamente, quando a cana � crua. Antigamente, o corte manual exigia a queima da cana. A cana cortada crua deixa no solo uma quantidade enorme de palha seca, que fica no terreno. A palha do Estado de S�o Paulo e de Minas Gerais somadas, queimadas em caldeiras de usina, que j� est�o dispon�veis, representa energia igual a uma Belo Monte, sem nenhum problema ambiental, sem nenhum problema de �ndio, ningu�m atrapalhando o processo.
Um programa de financiamento de mudan�as nas caldeiras das usinas daria uma inje��o de energia extraordin�ria, exatamente entre maio e outubro, quando as represas s�o mais vazias.
Mas para fazer isso do que depende?
Tem que ter um plano de investimento. Vamos financiar via BNDES quem quiser trocar a caldeira. A proposta j� est� pronta.
Quanto custaria isso para o BNDES?
� muito dif�cil dizer, porque h� usinas e usinas. H� usinas que moem 10 milh�es de toneladas e usinas que moem 1,5 milh�o de tonelada. A caldeira para cada uma � diferente. E j� existem usinas com caldeiras preparadas. Tem que fazer um estudo mais preciso para dar uma resposta de quanto vale isso.
Mas mesmo isso � apenas um come�o de conversa. � preciso olhar no longo prazo um Proer [Programa de Est�mulo � Reestrutura��o e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional], porque tem hoje empresas que nem com a Cide, nem com investimentos em caldeira talvez n�o consigam sair da crise. Ent�o, � preciso olhar de uma maneira muito mais abrangente com especificidade para cada regi�o do pa�s.
H� muitos anos h� animosidade entre o agroneg�cio e o setor ambientalista. Como est� a disputa pol�tica?
Talvez o s�mbolo dessa animosidade seja o C�digo Florestal. � uma discuss�o de mais de 10 anos que confluiu numa legisla��o que n�o era a melhor poss�vel. Mas tem uma caracter�stica positiva: ningu�m gostou, nem ambientalistas nem agricultores.
Desagradou-se a todos?
Todo mundo ficou infeliz. Eu acho isso �timo, porque se s� um lado achasse isso, o outro teria sido prejudicado no processo. Como ficou equilibrado houve um arrefecimento na animosidade entre os setores.
Agora, todos trabalham, ambientalistas e produtores rurais, para implementar as decis�es do C�digo Florestal. A implementa��o do CAR [Cadastro Ambiental Rural], que � um avan�o espetacular porque garante a legalidade de todas as fazendas brasileiras que estavam praticamente na ilegalidade com a legisla��o anterior.
E, sobretudo, um tema que para mim � fundamental, o PSA [Pagamento por Servi�os Ambientais], que � uma mudan�a conceitual relevante.
Explique o que � isso.
Antes, todo mundo que cometia um erro pagava multa, pesados tributos, e era jogado no inferno. Com o C�digo Florestal, regulamentando o que ainda est� no Congresso [Nacional], os produtores que andarem bem ter�o pr�mios, bonifica��es, inclusive em dinheiro, porque estar�o sequestrando carbono com seus mecanismos de pagamento ambiental.
Isso muda completamente o cen�rio, dando ao produtor rural, com uma vis�o ambientalista, muito mais condi��es de crescimento econ�mico e social do que no passado. Junta ambientalistas e produtores, porque produtores far�o cada vez melhor para receberem vantagens e esse mercado, cada vez melhor, atender� aos ambientalistas. O C�digo Florestal � uma inflex�o dessas rela��es.
O que havia no passado, eventual desmando do produtor rural em rela��o � quest�o ambiental, devia-se fundamentalmente a dois fatores. Primeiro, a ignor�ncia. O tema n�o era conhecido. Segundo, falta de regras, de legisla��o. Agora existe. O produtor rural hoje tem convic��o de que se ele fizer bem feito, ele ter� benef�cios. Mais do que isso: estar� preservando o patrim�nio dele que � a terra. Se n�o preservar o solo, tem a eros�o. Se n�o cuidar da beira de rio, vai ter problema de desagrega��o. Ent�o ele virou um ambientalista.
Quanto o setor agropecu�rio representa na composi��o do PIB hoje?
23,5% do PIB.
E nas exporta��es, o que representa?
No ano passado o saldo comercial do agroneg�cio brasileiro foi de US$ 83 bilh�es. E o saldo comercial no Brasil foi de US$ 2,6 bilh�es, incluindo o agroneg�cio. Os demais setores tiveram d�ficits de US$ 80 bilh�es.
Nos �ltimos 20 anos o saldo do agroneg�cio � sistematicamente positivo e crescente, o que tem garantido o saldo comercial do pa�s e a preserva��o das reservas cambiais.
Outro n�mero, em 2003, 10 anos atr�s, o agroneg�cio exportou US$ 30 bilh�es. Dez anos depois, 2013, ano passado, US$ 100 bilh�es, tr�s vezes e meio a mais num per�odo sobre o qual metade foi vivida dentro da maior crise financeira dos �ltimos 50 anos no mundo. O com�rcio mundial refluiu e o agroneg�cio triplicou as suas vendas. � muito competitivo.
O prazo estipulado para os produtores se adequarem ao Cadastro Ambiental Rural, processo no qual todas a propriedades rurais ter�o que ser mapeadas, � maio de 2015. Esse prazo � exequ�vel?
Dif�cil.
O tem que ser feito ent�o?
Tem que treinar gente para fazer isso. Defendo que o sistema cooperativista deveria se responsabilizar por isso num conv�nio com o Minist�rio do Meio Ambiente, formando gente. Tem que treinar. N�o � uma coisa trivial. S�o 5 milh�es de propriedades no Brasil e algumas n�o t�m acesso.
O cadastro tem que dizer quanto cada propriedade tem de floresta, de reserva nativa, de reserva natural, de APP [�rea de Preserva��o Permanente], toda a defini��o ambiental. Isso dar� seguran�a institucional ao agroneg�cio brasileiro.
Quanto tempo o sr. acha que vai ser necess�rio para que isso esteja preenchido?
Dif�cil dizer, mas se houvesse um esfor�o concentrado numa parceria p�blico-privada, acredito que em um ano e meio, dois anos, a gente d� um grande salto. Pode ficar um pedacinho sem fazer, mas ser� um peda�o pequeno.
O que o governo brasileiro pode fazer para superar as barreiras internacionais ao agroneg�cio?
Talvez as barreiras mais complexas estejam dentro do pa�s.
Por exemplo?
� o custo do Brasil. Log�stica. Um saco de soja no Mato Grosso custa tanto quanto transport�-lo para o porto de Santos ou de Paranagu�. Isso tira a competitividade.
O segundo problema � a pol�tica de renda [garantia de pre�os m�nimos aos produtos]. Qualquer pa�s do mundo desenvolvido com agricultura importante tem pol�tica de renda muito clara, seguro rural que garante rendimento ao produtor, independente de pre�o de mercado ou de condi��o de clima. E por que isso � relevante l� fora? Porque os governos de pa�ses desenvolvidos entendem que o produtor tem que produzir para garantir o abastecimento interno e para exportar, ajudando o saldo comercial. Aqui, esse neg�cio n�o funciona ainda, embora haja esfor�os sucessivos de governos para melhorar isso. O atual ministro da Agricultura [Neri Geller] faz um esfor�o louco para melhorar o seguro rural, mas n�s temos hoje menos de 10% da �rea brasileira coberta.
E pol�tica comercial. Hoje, 40% do com�rcio mundial de alimentos se d�o no �mbito de acordos bilaterais entre pa�ses. Dois pa�ses fazem acordo bilateral para qu�? Para aumentar o com�rcio entre eles, e com isso aumentar a riqueza, emprego e renda.
O Mercosul mais ajuda ou atrapalha o agroneg�cio no Brasil?
Atrapalha.
Por qu�?
Porque o Brasil � 70% do agroneg�cio do Mercosul. Um acordo do Mercosul com a Uni�o Europeia seria fundamental para o Brasil e para o Mercosul. N�s n�o conseguimos fazer porque a Argentina n�o deixa. Ent�o n�s temos que ter uma posi��o diferente. Temos que ter acordos bilaterais, avan�ar em novos mercados, agregar valor ao produto agr�cola.
E tem um monte de outras coisas. Uma estrat�gia articulada. No mundo inteiro, o Minist�rio da Agricultura se chama Minist�rio da Agricultura, Floresta e Pesca. N�s temos dois Minist�rios da Agricultura -o MDA [Minist�rio do Desenvolvimento Agr�rio] e o Mapa [Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento]-, um de Floresta, o de Meio Ambiente, e um de Pesca. S�o quatro ministros disputando o mesmo espa�o, o mesmo prest�gio na m�dia, o mesmo prest�gio junto ao presidente da Rep�blica, ao Parlamento. H� uma dispers�o de recursos, e �s vezes at� de interesse, que podem ser conflitantes. Harmonizar isto � fundamental.
O sr. acha que um s� bastaria?
Sim. A ess�ncia disso � que a estrat�gia seja do Estado brasileiro. De forma que o ministro seja o gestor dessa estrat�gia.
O Minist�rio da Agricultura � bem administrado hoje em dia e tem t�cnicos da melhor compet�ncia. A pol�tica agr�cola est� pronta no Minist�rio da Agricultura. Qual � o problema? Log�stica. Quem cuida? O Minist�rio dos Transportes. Com�rcio? O Itamaraty e o Minist�rio da Ind�stria e do Com�rcio Exterior. Meio Ambiente? Minist�rio do Meio Ambiente. Agroenergia? Minist�rio de Minas e Energia, Petrobras, ANP. A quest�o sanit�ria? Anvisa, Ibama. A quest�o dos �ndios? A Funai. A quest�o dos or�amentos? Minist�rio do Or�amento, Minist�rio do Planejamento. O problema tecnol�gico? Minist�rio da Ci�ncia e Tecnologia. Os instrumentos est�o dispersos entre minist�rios, ag�ncias e empresas do governo, e se n�o houver estrat�gia una nunca teremos uma agricultura crescente no pa�s.
Como o sr. compara a gest�o do Minist�rio da Agricultura na atual administra��o federal da presidente Dilma Rousseff � gest�o da administra��o do ex-presidente Lula?
Sinto-me constrangido sobre uma compara��o dessa. Acho que at� por quest�es �ticas eu n�o deveria fazer essa compara��o. Mas o que se reclama � que houve uma esp�cie de partidariza��o do Minist�rio da Agricultura e isso criou uma certa barreira com o setor. Que n�o existe mais hoje, fa�o quest�o de frisar, porque o atual ministro � um homem do setor, conhece o assunto, inclusive montou um plano de safra para este ano que � muito bom do ponto de vista de Or�amento, [com] recurso para o cr�dito rural e financiamento para armazenagem. Ent�o, tem uma nova vis�o, mas foram tr�s anos com dificuldades nessa dire��o. Sem falar na agroenergia, que perdeu completamente a interlocu��o com o governo.
Temos tr�s candidatos mais competitivos que disputam a Presid�ncia da Rep�blica. A presidente Dilma Rousseff, do PT, a candidata do PSB, Marina Silva, e A�cio Neves, pelo PSDB. Qual � o ju�zo que o sr. faz das propostas de cada um dos tr�s para o agroneg�cio?
Eu tenho 50 anos de vida na agricultura sempre em �rg�os de classe. Em elei��es nesses 50 anos sempre o setor se organizou e levou aos candidatos propostas e planos de a��o. Nunca houve a menor rea��o em rela��o a isso. Nesta elei��o, os tr�s candidatos procuraram o setor em busca de sugest�es para um plano de governo.
N�s montamos um plano e enviamos aos tr�s candidatos. Eles responderam. A�cio Neves e Eduardo Campos foram muito pr�ximos do que n�s pretend�amos. A presidente Dilma aproximou-se muito da presidente da CNA [Confedera��o Nacional da Agricultura], nossa maior l�der, senadora K�tia Abreu (PMDB-TO), e o programa foi costurado entre ambas tamb�m com aproxima��o muito grande dos interesses do setor.
Os tr�s candidatos, A�cio, Eduardo e Dilma, estavam muito pr�ximos dos sonhos da agricultura. A trag�dia de Eduardo Campos mudou um pouco o cen�rio. A candidata Marina Silva introduziu no programa alguns temas que n�o s�o t�o afeitos aos interesses do setor.
Quais s�o eles?
Dois temas centrais. Primeiro ela ressuscitou o �ndice de produtividade como instrumento de medir a capacidade do produtor de produzir adequadamente num n�vel que atenda � determina��o constitucional, segundo a qual toda propriedade rural tem que cumprir a sua fun��o social, produzir, gerar emprego e proteger o meio ambiente. Quem n�o cumprisse isso ficaria sujeito a desapropria��o.
E o outro item � o do desmatamento zero, que eu acho que � um pouco ut�pico. O mundo ter� [mais] 2 bilh�es de pessoas nos pr�ximos 30 anos. Vamos precisar comer. 80% do crescimento da produ��o vir� de produtividade, mas 20% vir�o de novas �reas no Brasil e em outros pa�ses do mundo.
O Brasil tem hoje 61% do territ�rio com florestas nativas do tempo de Ad�o e Eva. Abrir algum cerrado ser� necess�rio. A minha tese � desmatamento ilegal zero. Ou faz com legalidade, com autoriza��o do Ibama, do Meio Ambiente, ou n�o pode fazer. Mas desmatamento zero eu acho que � um exagero.
O sr. conversou com o candidato a vice-presidente na chapa de Marina Silva, Beto Albuquerque, do PSB do Rio Grande do Sul. O que ele disse para o sr.?
Ele foi muito enf�tico.
Sobre desmatamento zero, o que ele fala que ser� de fato o programa num eventual governo Marina Silva?
Ele concorda que o tema deve ser trabalhado na linha da legalidade.
Ou seja?
O que for legal, o que for desmatamento autorizado legal, tudo bem. Ilegal, sem contempla��o. O que eu concordo plenamente.
Ele disse que essa deve ser a linha de um eventual governo Marina.
[Disse] "concordo com a sua tese".
E quanto ao �ndice de produtividade?
Ele foi ainda mais enf�tico. Disse que houve uma m� interpreta��o desse tema. Que o pensamento da Marina, e sobretudo o dele e o do Eduardo, � que o �ndice de produtividade tem que ser usado como uma medi��o da compet�ncia dos produtores.
Como assim?
Aquele que for mais produtivo ter� pr�mios, em vez de castigo porque foi menos produtivo. De modo a estimular os que t�m menos produtividade a serem tamb�m premiados no futuro. Ent�o, o �ndice de produtividade ter� um b�nus e n�o um �nus para o produtor. Essa � a vis�o que ele me transmitiu claramente.
Algum outro aspecto que ele esclareceu para o sr. a respeito do programa de Marina Silva?
N�o em rela��o ao programa, mas a uma vis�o dele e de Marina de que o Minist�rio da Agricultura teria a mesma vis�o colocada por A�cio Neves. Ser� um minist�rio fortalecido perante o conjunto dos minist�rios. Ministro com meritocracia, que conhe�a o assunto e que tenha o respaldo da categoria, dos produtores rurais. S�o tr�s pontos muito interessantes que mudam, digamos assim, a t�tica do programa da Marina.
O sr. deu uma declara��o pessoal a respeito da sucess�o presidencial, dizendo que deve optar pelo voto em A�cio Neves no primeiro turno. Tudo indica, entretanto, nas pesquisas, que o segundo turno possa ser apenas entre Dilma Rousseff e Marina Silva. Num eventual segundo turno entre Dilma e Marina, que d�vidas v�o permanecer e que tipo de debate vai ter que acontecer a respeito do agroneg�cio entre ambas?
Essa � uma quest�o muito complexa e ainda no primeiro turno est� indefinida. Por qu�? Dilma Rousseff � respeitada pela CNA, tem o apoio da senadora K�tia Abreu, que consta que seria a ministra da Agricultura do segundo mandato da Dilma -o que seria �timo para n�s. Mas ela � muito benquista na fronteira agr�cola, onde a log�stica e o cr�dito s�o fundamentais. Ela � muito querida no Mato Grosso, Tocantins, Par� etc.
Marina Silva � muito benquista no setor sucroenerg�tico porque o etanol emite s� 11% do que a gasolina emite, gera emprego, riqueza, o que est� muito de acordo com a vis�o de Marina e ela j� disse isso claramente.
E o A�cio tem o apoio numa regi�o desenvolvida de Paran�, S�o Paulo, Minas Gerais. O setor est� dividido at� no primeiro turno.
O sr. particularmente v� mais clareza em A�cio Neves?
Por uma raz�o. A melhor proposta, a melhor resposta dada ao nosso plano, oferecido aos tr�s candidatos, foi dada por ele. Eduardo Campos, quase id�ntico, Marina teve esse adicional de periculosidade a que me referi. Na hip�tese de Marina e Dilma irem para segundo turno ser� necess�rio esclarecer pontos que hoje n�o est�o ainda suficientemente claros.
Dilma ter� que dizer o que ela pretende em rela��o � agroenergia. Qual � a matriz energ�tica para o pa�s? Qual � o papel do etanol na agroenergia? Qual � o mecanismo para a recupera��o nesse setor que gera um milh�o de empregos s� em S�o Paulo? � preciso que ambas se debrucem sobre o agroneg�cio com mais especificidade e com mais respostas �s perguntas colocadas.
O sr. foi ministro da Agricultura na mesma �poca em que Marina foi ministra do Meio Ambiente e havia muita fric��o entre essas �reas. O sr. acredita que Marina consiga debelar a resist�ncia que existe em rela��o a ela?
� dif�cil responder isso. Marina, houve um per�odo, na discuss�o sobre a transgenia, no come�o do governo Lula, mais tarde no C�digo Florestal, em que ela teve posi��es muito duras contra o agroneg�cio. Isso gerou uma desconfian�a muito grande. O governador do Mato Grosso foi chamado de 'motosserra de ouro' por ela.
Hoje, converso com ela e a vejo muito mais flex�vel e disposta ao di�logo. As pessoas dizem: "Mas claro, est� na campanha eleitoral". Ent�o, acredito que para o segundo turno ela precisa ter muita sensibilidade e clareza para eventualmente retomar a confian�a do setor.
Quem conversa com empres�rios e pol�ticos ligados ao agroneg�cio percebe que Dilma Rousseff tamb�m n�o � uma campe� de popularidade no setor.
N�o �.
Ent�o teremos duas candidatas que enfrentam resist�ncias do setor?
Raz�o pela qual ambas t�m que olhar para o setor com especificidades. Dizer: "No assunto tal minha posi��o � X, no assunto tal, minha posi��o � Y". Para que haja uma posi��o muito definida e o setor possa tamb�m se posicionar tamb�m com mais clareza.
No caso de Marina Silva, se ela assume um discurso p�blico falando sobre o desmatamento zero ilegal?
Desmancha qualquer resist�ncia a ela nessa �rea.
E sobre o �ndice de produtividade como um fator de incentivo para produtores e n�o apenas como fator de puni��o?
�timo, mas o que est� escrito no programa n�o � isso. Ent�o tem que reescrever o programa.
Na eventualidade de ambas fazerem concess�es, quem o sr. acha que tem mais m�sculo eleitoral para convencer o setor no segundo turno?
A� eu me socorro de Niels Bohr [1885-1962], que dizia: "A coisa mais dif�cil � fazer previs�es, especialmente quanto ao futuro". N�o entendo nada de pol�tica. Entendo de agricultura. Sou jejuno em pol�tica e acho que essa resposta � totalmente imposs�vel de ser dada agora.
Uma das propagandas na televis�o da campanha da presidente Dilma Rousseff fala que Marina Silva, se eleita, reduzir� os subs�dios dados pelos bancos p�blicos e que isso afetar� a agricultura. � uma infer�ncia correta?
Os subs�dios que existem para o agroneg�cio s�o muito pequenos. E se houver algum subs�dio para a agricultura familiar, tem que ser mantido. Com a economia globalizada avan�ando, h� uma regra muito clara na agricultura, a margem por unidade de produto � cada vez menor. O pequeno produtor n�o tem escala. Ent�o � preciso ter uma pol�tica para eles, espec�fica para que tenha escala no conjunto -por exemplo, via cooperativas, associa��es de classe que agreguem valor � sua atividade produtiva.
H� um estudo feito pela OCDE [Organiza��o para a Coopera��o e Desenvolvimento Econ�mico] que mostra [somente] dois pa�ses do mundo com menos subs�dio que o Brasil, a Austr�lia e a Nova Zel�ndia. N�s estamos muito baixo nos subs�dios. Se houver alguma redu��o da prote��o ao pequeno produtor o desastre ser� muito mais importante do que a manuten��o de eventuais prote��es.
O sr. n�o est� descartando nenhuma das duas candidatas no segundo turno. Mas o sr. conhece Marina Silva, foi ministro junto com ela. Acha que ela consegue dar esses passos para tentar conquistar o setor?
Sinto nela uma disposi��o ao di�logo muito maior do que havia no passado. As pessoas aprendem, acabam se envolvendo com discuss�es diferentes daquilo que acreditavam e isso � poss�vel. Todo mundo vai para frente. Eu acho que ela est� hoje muito mais flex�vel, muito mais disposta ao di�logo do que estava no passado. Isso como consequ�ncia do contato muito estreito que ela tinha com Eduardo Campos, que era um homem com uma vis�o abrangente dessas quest�es muito disposto.
O pr�prio Beto Albuquerque, ga�cho, entende de agricultura. O Estado � eminentemente agr�cola. H� espa�o tanto para ela ampliar sua vis�o em rela��o ao agroneg�cio, quanto para Dilma Rousseff compreender que � preciso dar um novo tratamento, seja para agroenergia, seja para regi�es do pa�s que n�o sejam s� fronteira agr�cola.
No segundo turno considera vi�vel votar tanto em Marina quanto Dilma dependendo do que cada uma calibrar no seu discurso?
Eu gostaria muito de votar no segundo turno no A�cio Neves.
Mas ele n�o estando, a� ter� que escolher entre as duas?
� uma hip�tese a ser considerada oportunamente.
Os passos dados por Beto Albuquerque ajudaram at� agora?
Sem d�vida. At� agora tem desanuviado ambientes, mas acho que � importante que a candidata diga o que Beto est� dizendo.
O sr. foi ministro do governo Lula. Imaginava, l� atr�s, que em 2014 poderia votar at� em Marina Silva para presidente?
Tem tanta coisa que eu nunca imaginava h� 10 anos que � preciso fazer uma sele��o dessas perguntas todas.
O sr. tem falado com o ex-presidente Lula?
Poucas, mas algumas vezes.
O que ele fala da sucess�o presidencial para o sr.?
Para mim ele n�o fala nada n�o, ele sabe que eu n�o entendo de pol�tica ent�o n�o fala nada.
Ele n�o pede "ajude a Dilma na elei��o"?
Eu disse para ele que votaria no A�cio Neves.
Como ele reagiu?
Com uma simpatia enorme. Porque ele � um homem simp�tico, de bom senso, democrata. Ele � um democrata por defini��o.
Houve um tempo em que ele gostaria que eu entrasse em um partido pol�tico. Depois ele mesmo compreendeu que eu n�o tinha capacidade para fazer isso e me liberou desse processo. Ent�o ele n�o trata de pol�tica, trata de agricultura comigo.
E em S�o Paulo? O sr. tem alguma posi��o formada sobre a elei��o?
Sou muito amigo do Geraldo Alckmin, h� muitos anos. Geraldo foi deputado federal constituinte quando eu era presidente da OCB, ca Organiza��o das Cooperativas Brasileiras, tinha um contato muito estreito com o Congresso. E o Geraldo teve um papel relevante, ele e outro deputado paulista, o Mendes Thame, foram deputados muito atuantes na frente parlamentar do cooperativismo e da agricultura.
Em S�o Paulo o sr. deve votar em Geraldo Alckmin?
Tenho uma vincula��o com ele. E sou amigo do Paulo Skaf [candidato a governador de S�o Paulo pelo PMDB], porque presidi a pedido dele o conselho do agroneg�cio da Fiesp [Federa��o das Ind�strias do Estado de S�o Paulo], que ele criou e eu fui o implantador do processo. Tenho uma rela��o muito boa com ambos.
Mas deve votar?
No Geraldo, provavelmente.
Acesse a transcri��o completa da entrevista.
A seguir, os v�deos da entrevista (rodam em smartphones e tablets, com op��o de assistir em HD):
1) Principais trechos da entrevista com Roberto Rodrigues (5:50)
2) Agroneg�cio apoia Marina se ela reescrever programa, diz Rodrigues (2:06)
3) Marina e Dilma sofrem rejei��o do agroneg�cio, diz Rodrigues (3:16)
4) Melhor proposta � de A�cio e voto nele no 1� turno, diz Rodrigues (00:28)
5) Agroneg�cio requer s� 1 minist�rio e n�o os 4 atuais, diz Rodrigues (0:32)
6) Mercosul mais atrapalha que ajuda o agroneg�cio, diz Rodrigues (00:34)
7) Produtor rural hoje virou um ambientalista, diz Rodrigues (2:15)
8) � preciso um "Proer" para o setor sucroalcooleiro, diz Rodrigues (3:18)
9) Quem � Roberto Rodrigues? (1:48)
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