Ap�s repercuss�o, professor de direito da USP se isola, e ouve m�sica l�rica
Autor da controversa aula apolog�tica � "Revolu��o de 1964", o professor de direito da USP (Universidade de S�o Paulo) Eduardo Gualazzi tem um �nico desejo se retornar � terra numa vida futura: dedicar-se exclusivamente � m�sica erudita e ao canto l�rico, "do nascimento � morte, do ber�o ao t�mulo".
Avesso �s modernidades e fiel a um tradicionalismo expresso no amor � m�sica l�rica, �s gravatas borboletas e ao aristocratismo, que ele elenca como a primeira das caracter�sticas a definir sua personalidade, o professor Gualazzi viu sua "excentricidade" repercutir nacionalmente no v�deo (veja abaixo) que mostra estudantes invadindo em protesto sua aula sobre os 50 anos do golpe, na �ltima segunda-feira, 31 de mar�o.
Nos �ltimos dias, assustado com a repercuss�o, o professor ficou em casa, segundo amigos, ouvindo m�sica e evitando o telefone, que soou insistentemente. Professor de direito administrativo da USP desde 1986, o paulistano Eduardo Lobo Botelho Gualazzi, 67, � o mais antigo professor associado da Faculdade de Direito. Descrito como um homem fechado, extremamente conservador e temperamental, � conhecido na universidade pela liberalidade nas provas.
O tema � livre, e segundo o relato de alunos e ex-alunos, � mais f�cil obter nota m�xima no exame abordando Batman e Wolverine, como fez um deles, do que discorrendo sobre o direito. � praticamente imposs�vel ser reprovado em sua disciplina.
"A aula dele � tranquila, quase parada. Ele fica sentado, falando, e poucas pessoas interagem. Acho que todos j� se acostumaram com o jeito dele", diz Gabriela Nunes, 22, presente na invas�o de segunda-feira.
A fama de exc�ntrico que o acompanha � famosa na USP. Como se viu no texto da aula "Contin�ncia a 1964", ele redige seus artigos na m�quina de escrever e sempre os registra em cart�rio. N�o usa e-mail nem celular.
"Ele � respeitado na �rea do direito administrativo, tem alguns livros e escreve bem, eu sempre o recomendava", lembra o professor aposentado da USP Edmir Netto de Ara�jo, que ressalta ter tido com ele apenas rela��es profissionais.
O mentor de Gualazzi na USP � outro professor aposentado, o nonagen�rio Jos� Cretella J�nior, que por anos lecionou direito administrativo. Cretella fez parte da banca que aprovou Gualazzi e queria faz�-lo seu sucessor.
Assista ao v�deo em tablets e celulares
Num texto de introdu��o do livro "Direito Internacional Administrativo", publicado em 2005, Gualazzi incluiu um prel�dio que reproduz "a parcela mais terna, suave e meiga" de uma mensagem que colocou na Arca do Centen�rio, enterrada em 2003, no Largo S�o Francisco, nas comemora��es dos cem anos do Centro Acad�mico Onze de Agosto. A caixa ser� aberta em 2103, para os "estudantes do futuro". Nela, conforme escreveu Gualazzi, "repousa a verdade integral de minha vida".
L�, descobrem-se fatos da vida do professor, como a curta carreira diplom�tica, o trabalho como advogado na Procuradoria do Estado de S�o Paulo e os favores que pedia nos anos 1980 a pol�ticos como o atual vice-presidente Michel Temer e ao ex-presidente J�nio Quadros, de quem era muito pr�ximo. Em coautoria com um neto de J�nio, Gualazzi escreveu uma biografia sobre o pol�tico, para ele um "estadista".
Como registra na sua carta � eternidade, Gualazzi j� se envolveu em outras pol�micas na USP por causa da "Revolu��o", que ele "apoiou intimamente", "embora lamente o desvirtuamento que sucedeu entre 1968 e 85".
Em 1986, ele quase saiu no bra�o com estudantes em plena aula. O professor registrou assim o epis�dio: "Um grupelho de tr�s homens e uma mulher deflagrou uma s�rie de provoca��es. Percebi o objetivo de agitar e destruir minha aula, bem como desmoralizar-me. Urrei ao grupelho: 'Ou me matem ou baixem a crista e calem a boca'. Os quatro retiraram-se furiosos, minha aula continuou. Meu urro permanece no ar, em eco perp�tuo".
Nada, contudo, o satisfaz mais do que a m�sica. Pianista que j� se apresentou para calouros na USP, Eduardo Gualazzi j� gravou discos e estudou m�sica no Vaticano. A paix�o lhe proporcionou momentos inesquec�veis, que os estudantes do futuro haver�o de descobrir.
� o caso de um recital num t�xi, em 1999, que ele deixou registrado na carta colocada na Arca do Centen�rio: "Comecei a cantarolar Sotto Voce, uma �ria de �pera. O motorista pediu-me para cantar a seu chefe, no microfone. Cantei por meia hora tudo o que tinha na mem�ria e at� improvisei. Quando meu recital no t�xi terminou, o chefe agradeceu e revelou-me haver conectado o aparelho com todos os r�dio-t�xis de S�o Paulo e com um canal secund�rio da PM. Todos agradeceram, aplaudiram e pediram bis, mas a corrida chegou ao destino. N�o houve bis".
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