Com 90% dos votos, independ�ncia vence plebiscito na Catalunha
O governo da Catalunha declarou neste domingo (1�) a vit�ria de seu plebiscito separatista com 90,09% dos votos favor�veis � independ�ncia e 7,87% contr�rios —o restante votou em branco ou nulo.
Em um dia marcado pela viol�ncia policial, participaram da consulta 2,2 milh�es de pessoas, cerca de 40% do eleitorado de 5,5 milh�es.
O presidente catal�o, Carles Puigdemont, disse que a regi�o —com algum grau de autonomia— "ganhou o direito de ser um Estado independente". Ele sinalizou que seu Parlamento deve declarar a independ�ncia de maneira unilateral em 48 horas.
O governo central em Madri, no entanto, considera a consulta ilegal e n�o vai reconhecer o resultado.
O premi� espanhol, o conservador Mariano Rajoy, declarou que "n�o houve um plebiscito". "N�o vimos nenhum tipo de consulta, mas uma mera encena��o."
"Todos os espanh�is viram que nosso Estado de direito mant�m sua fortaleza e sua vig�ncia, que responde aos contraventores com efici�ncia e serenidade", disse.
O plebiscito separatista catal�o deste domingo teve se��es eleitorais invadidas pela pol�cia, eleitores retirados � for�a e milhares votando embaixo da chuva.
Segundo o Departamento de Sa�de da Catalunha, foram atendidas 844 pessoas feridas nos embates com a pol�cia, que chegou a usar balas de borracha contra manifestantes. Houve tamb�m 33 policiais feridos.
A viol�ncia da pol�cia foi duramente criticada durante o dia. Em rep�dio, sindicatos convocaram greves para esta ter�a-feira (3).
O presidente catal�o, Puigdemont, disse que "a brutalidade policial vai envergonhar o Estado espanhol para sempre". Autoridades catal�s denunciaram a pol�cia para o Tribunal Superior de Justi�a da Catalunha.
O porta-voz do governo catal�o, Jordi Turull, disse que o governo espanhol responder� nas cortes internacionais pela viol�ncia. "� simplesmente selvagem, um esc�ndalo internacional."
Um v�deo registrando a pol�cia destruindo as portas de um col�gio eleitoral causou especial indigna��o, assim como cidad�os jogados ao ch�o pelas for�as de seguran�a. No s�bado (30), um cartaz pedindo mais democracia ("m�s democracia", no original) foi destru�do por manifestantes contr�rios ao voto.
CELEBRA��O
Segundo o Minist�rio do Interior espanhol, 336 se��es de voto de um total de mais de 2.000 foram interditadas.
O voto, apesar dos impedimentos, era feito de modo festivo. Em uma das escolas visitadas pela Folha eleitores tinham criado uma esp�cie de corredor batendo palma a quem sa�a das urnas, cantando "Votou! Votou!".
"Isso para mim � liberdade", diz Maria Oliva, 60. "Vivi a �poca franquista, me sinto como era h� 40 anos."
Ela se refere � ditadura do general Francisco Franco (1939-1975), per�odo durante o qual o movimento separatista catal�o foi reprimido.
"N�o � sobre votar 'sim' ou 'n�o'. � sobre votar. Tenho vergonha de ser espanhola, e n�o quero mais. Se pudesse, seria s� catal�."
Mas para Pau Freixa, 41, o plebiscito de domingo n�o � sobre declarar ou n�o a separa��o imediata. � sobre mostrar o apoio ao projeto de um Estado pr�prio, diz o professor de literatura eslava.
"� importante que as pessoas vejam qu�o desesperados estamos", diz. Freixa e outras 30 pessoas dormiram em uma escola de Barcelona para impedir que a pol�cia fechasse o col�gio eleitoral. A noite foi longa, embaixo da chuva. "N�o temos um interlocutor em Madri."
URNAS OCULTAS
Puigdemont, presidente catal�o e declaradamente a favor da independ�ncia, votou pela manh� em Cornell� de Terri, onde foi celebrado pelos eleitores presentes.
Cada voto era comemorado. Madri havia confiscado milh�es de c�dulas e milhares de urnas, e a pol�cia cortou o acesso � internet em diversos pontos para impedir o plebiscito.
Ativistas esconderam urnas durante a madrugada em igrejas. As caixas de pl�stico foram levadas aos locais de voto em carros particulares, sem alarde.
Como medida-surpresa, o governo catal�o anunciou de manh� que aceitaria votos em qualquer col�gio eleitoral, e n�o apenas naqueles onde os eleitores estivessem registrados. Era aceito tamb�m o voto sem envelopes.
As cenas de embate foram duramente criticadas por pol�ticos, como Pablo Iglesias, do partido de esquerda Podemos.
"Porradas, empurr�es, idosos arrastados. O que o Partido Popular est� fazendo � nossa democracia me repugna. Corruptos, hip�critas, in�teis", escreveu em uma rede social. Ele pediu a demiss�o do premi� conservador, Mariano Rajoy, do Partido Popular.
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