Queda em ranking exp�e falta de prest�gio da pol�tica externa brasileira
Christof Stache - 6.jul.2017/AFP | ||
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Funcion�rios fixam porta-bandeiras dos pa�ses do G20 no aeroporto de Hamburgo |
Na chamada diplomacia do prest�gio, o Brasil est� � frente apenas da Turquia, rec�m-convulsionada por uma tentativa de golpe de Estado e que assiste �s investidas autorit�rias do presidente Recep Tayyip Erdogan.
A edi��o 2017 do estudo "The Soft Power 30", realizado pela consultoria brit�nica Portland e divulgado na �ltima semana, aponta que o Brasil caiu cinco posi��es no ranking em rela��o a 2016, ocupando hoje o 29� e pen�ltimo lugar.
A an�lise leva em conta a capacidade de persuas�o de um pa�s no cen�rio global.
Desde a publica��o da primeira edi��o do estudo, em 2015, o Brasil s� perde terreno –foi ultrapassado por pa�ses como China, Pol�nia, Rep�blica Tcheca e Hungria.
O cen�rio condiz com o encolhimento da pol�tica externa brasileira nos �ltimos anos, iniciado ainda sob Dilma Rousseff e catalisado pela crise pol�tica que engolfa o governo de Michel Temer –que, h� quase um ano, ao assumir a Presid�ncia de fato, prometera priorizar a �rea.
"N�o vejo estrat�gia alguma. O Brasil em mat�ria de pol�tica internacional est� cumprindo tabela", afirma � Folha Celso Amorim, que chefiou o Minist�rio das Rela��es Exteriores de 2003 a 2010, no governo Lula.
Segundo analistas ouvidos pela reportagem, a atual crise pol�tica e econ�mica n�o � a �nica explica��o para a menor presen�a do pa�s no cen�rio global –da qual um �ltimo exemplo foi a passagem desbotada de Temer na c�pula do G20, no in�cio do m�s.
"Esse per�odo de mudan�a pol�tica no Brasil � contempor�neo a um per�odo em que o mundo se fechou para neg�cios", diz Marcos Troyjo, professor da Universidade Columbia, em Nova York, e colunista da Folha.
"H� um recrudescimento da pol�tica comercial chinesa, o 'brexit' e a vit�ria de Donald Trump nos EUA, que coloca a Parceria Transpac�fico de escanteio, questiona o Nafta e p�e um enorme ponto de interroga��o na rela��o EUA-Uni�o Europeia."
Na avalia��o de Mathilde Chatin, do King's College de Londres, a crise econ�mica e a turbul�ncia pol�tica dos anos recentes contribui para uma retra��o vis�vel da pol�tica externa em compara��o com o governo Lula, mas a pesquisadora tamb�m afirma que o per�odo de expans�o � que foi exce��o.
"O contexto econ�mico e pol�tico que os sucessores enfrentaram foi drasticamente diferente do qual o presidente Lula beneficiou. Pode ser que aquele per�odo tenha sido um 'ponto fora da curva', que se regularizou com seus sucessores –inclusive por falta de interesse em pol�tica externa da presidente Dilma Rousseff e uma diplomacia presidencial menos intensa."
Para o pesquisador Andr�s Malamud, da Universidade de Lisboa, o encolhimento diplom�tico do Brasil "� evidente, n�o � opini�o".
Hoje, ele explica, "o Brasil tem menos protagonismo, e por vezes at� nem participa, em reuni�es ou f�runs de alto n�vel, mesmo sobre quest�es nas quais o pa�s j� foi um ator relevante (como ambiente). Em n�vel regional, a Unasul (uma cria��o brasileira) e a Celac est�o paralisadas: nem conseguem se reunir para tratar a crise venezuelana".
O Brasil, para Malamud, ampliou sua presen�a diplom�tica no mundo pela "atua��o excepcional" dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula, mas depois "voltou � normalidade dos presidentes med�ocres: da� a perda de imagem internacional e soft power".
"Mesmo que a gest�o diplom�tica de Dilma tenha sido incompetente e a de Temer seja inexistente (e s�o!), o 'encolhimento' do Brasil � estrutural. A sua retra��o deve-se parcialmente aos erros na pol�tica externa, mas deve-se ainda mais ao fato de o pa�s ter pretendido jogar numa liga maior � permitida por seus recursos materiais."
Malamud defende que � importante considerar o Brasil em uma escala global.
"A sua capacidade militar est� mais pr�xima da Col�mbia que da �ndia (para n�o falar dos EUA, China ou R�ssia), a sua participa��o no com�rcio internacional n�o chega a 1,5% (tendo 3% da popula��o mundial) e o seu desenvolvimento cient�fico e tecnol�gico � baixo."
Troyjo aponta o que, para ele, � um erro recorrente na diplomacia brasileira: a vis�o de que a negocia��o multilateral �, por si s�, o ponto de partida para uma maior inser��o internacional do pa�s.
Ele cita a expans�o econ�mica por meio do com�rcio exterior da Coreia do Sul e da China, nos anos 1980 e 1990. "Eles desenharam uma estrat�gia comercial apesar do mundo ser protecionista e ter barreiras. E tiveram �xito."
"No caso do Brasil, em vez de desenharmos uma estrat�gia para o mundo como ele �, tentamos fazer com que o mundo se torne justo para a� ent�o colocar o nosso time em campo", afirma Troyjo.
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