Sem mulheres entre os 30 indicados, quadrinistas boicotam 'Oscar' da HQ
O Festival Internacional de Angoul�me, mais importante evento de quadrinhos no mundo, teve seu momento #agora�ques�oelas –a campanha que defendeu, em 2015, mais espa�o para mulheres se expressarem.
Dez dos 30 nomeados para o Grand Prix (grande pr�mio) decidiram boicotar a 43� edi��o da feira, que acontece entre 28 e 31 de janeiro, na Fran�a. Motivo: n�o havia nenhuma mulher entre os indicados.
Entre os cartunistas que se uniram ao protesto proposto por coletivos feministas como o BD �galit�, que luta por igualdade no meio, est�o Milo Manara (que fez recentemente "Caravaggio - A Morte da Virgem" ), Daniel Clowes (indicado ao Oscar pela adapta��o de sua s�rie "Ghost World") e Riad Sattouf (ex-colaborador do "Charlie Hebdo", ele esteve na �ltima Flip para divulgar "O �rabe do Futuro").
Diante da acusa��o de sexismo, o festival fez um "mea culpa" e se comprometeu a incluir mulheres na lista de 2016, "sem remover qualquer outro nome".
Num comunicado publicado em seu site, a organiza��o do evento diz que "ama as mulheres, mas n�o pode reescrever a hist�ria das hist�rias em quadrinhos".
"O conceito do Grand Prix � consagrar um autor por toda a sua obra –como o Rock 'n' Roll All Fame", compara o texto. E n�o h� mulheres o bastante –com "maturidade e idade" para ganhar a honraria– para competir em p� de igualdade com os homens, ao menos na vis�o do produtor-executivo da feira, Franck Bondoux.
Ao jornal franc�s "Le Monde", Bondoux afirmou: "Infelizmente, h� poucas mulheres na HQ. � uma realidade. Se voc� vai para o Louvre, tamb�m encontra poucas artistas".
Entre as poucas quadrinistas indicadas ao Grand Prix no passado est�o Marjane Satrapi ("Pers�polis") e Posy Simmonds ("Gemma Bovery" e "Tamara Drewe"). Vencedora? S� uma.
"Lembramos que, em 43 anos, Florence Cestac [quadrinista francesa] � a �nica mulher a receber essa distin��o", diz o BD �galit� em seu site.
O movimento lembrou de implica��es pr�ticas da exclus�o feminina: "Este pr�mio n�o � apenas honor�rio, tem um impacto econ�mico �bvio. Autores selecionados receber�o destaque na m�dia, e essa escolha ter� impacto sobre a cadeia de livros, o que vai beneficiar livrarias, editores... e os premiados."
Em manifesto, o BD (de "Bande Dessin�e", hist�ria em quadrinhos na l�ngua francesa) tamb�m pede que ningu�m fale "abobrinhas" do tipo "HQ feminina � um g�nero narrativo".
"Aventura, fic��o cient�fica, suspense, romance, autobiografia, humor, hist�ria, trag�dia: g�neros narrativos que as mulheres dominam. [...] A defini��o 'girly' apenas refor�a os estere�tipos sexistas. Rejeitamos a ideia de que precisamos cozinhar cupcakes para sermos rotuladas como femininas. Adorar shopping e/ou futebol n�o s�o caracter�sticas de g�nero. Feminino � um termo geralmente usado para definir algo f�til e/ou sentimental. Decidir que essas caracter�sticas s�o da ordem do feminino � mis�gino."
BRASIL
� Folha, a cartunista Laerte lembra que o Brasil n�o saiu � francesa desse debate. A antologia "O Fabuloso Quadrinho Brasileiro", que prometia reunir os grandes nomes dos quadrinhos brasileiros em 2015, escolheu 33 homens e quatro mulheres. "Sendo uma delas eu", diz, lembrando que �s vezes a esqueciam de a incluir nessa selet�ssima lista.
O lan�amento � da Narval Mix, selo independente de HQ. O quadrinista Rafa Coutinho, filho de Laerte, � um dos s�cios. Como na Fran�a, os brasileiros tamb�m pediram desculpas.
"Dentre o processo inteiro, fomos levianos. Foram poucas mulheres inscritas –51 dentre 259 artistas (entre obras individuais e coletivas), e, ao longo das peneiras, cortes e op��es por hist�rias, os nomes foram caindo. N�o tratamos com o devido peso os efeitos dessa exclus�o", disseram Rafa Coutinho e Clarice Reichstul, editores da colet�nea, em carta aberta.
"Sim, pisamos na bola. Ainda mais levando em considera��o o momento que a produ��o feminina passa no pa�s. [...] Para al�m da consci�ncia de que somos falhos e ainda reproduziremos outros muitos preconceitos de nossa �poca –reflexo de nossas limita��es– entendemos que esse projeto se faz da conversa, do debate e do aprendizado nos erros que cometemos."
Entre a sele��o de 37 obras, que inclui trabalhos da ga�cha Chiquinha e da jornalista da Folha Alexandra Moraes, um dos quadrinhos, da artista LoveLove6 (que assina a webs�rie "Garota Siririca"), chama-se "A Sub-Representa��o Feminina no Imagin�rio dos Autores".
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