Vestibular ditar� reforma do ensino m�dio em escolas particulares
Prevista no modelo de ensino m�dio anunciado pelo governo Michel Temer (PMDB), a oferta de disciplinas optativas aos alunos j� � realidade em algumas escolas particulares, cen�rio que deve facilitar a transi��o.
Os col�gios avaliam, por�m, que a grande influ�ncia para as mudan�as vir� de provas como Fuvest e Enem.
O principal ponto da reforma do ensino m�dio � a flexibiliza��o do curr�culo. As escolas dever�o garantir conte�dos comuns no primeiro ano e ter �reas de aprofundamento nos demais. S� portugu�s, matem�tica e ingl�s devem ter status de obrigat�rias nos tr�s anos dessa etapa.
Pela reforma, depois do primeiro ano, os alunos optar�o pela �nfase em linguagens, matem�tica, ci�ncias humanas, ci�ncias da natureza ou ensino profissionalizante.
Ainda em discuss�o, a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) � que vai definir os conte�dos comuns –e haver� um per�odo de adapta��o de dois anos depois dela.
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O Minist�rio da Educa��o previa que as primeiras turmas estreariam esse novo formato do ensino m�dio em 2018. Na �ltima semana, admitiu que pode ficar para 2019.
"O problema � a �ncora chamada vestibular. Se continuarem cobrando tudo, as escolas v�o dar a carga total", diz Alexandre Abbatepaulo, diretor geral do col�gio Louren�o Castanho, da zona sul de S�o Paulo, que tamb�m trabalha com mat�rias eletivas –o aluno precisa cumprir ao menos uma a cada semestre.
CURR�CULO
Segundo Silvana Leporace, diretora do Dante Alighieri (zona oeste), a BNCC ser� o ponto de partida para a transi��o, mas a sinaliza��o dos vestibulares ter� um grande peso. "O processo vai incluir forma��o de professores e vai mexer em todo o ensino fundamental dois [6� ao 9� ano]."
O Dante oferece optativas, como rob�tica, mas s�o volunt�rias. Algumas escolas, como o M�bile, em Moema (zona sul), j� reestruturaram o ensino m�dio para ter eletivas integradas ao curr�culo.
Segundo o diretor, Wilton Ormundo, elas foram constru�das a partir da redistribui��o de conte�dos das mat�rias, o que deve facilitar a transi��o, afirma ele.
"Vimos o que poderia ser diminu�do na carga normal de qu�mica, matem�tica, por exemplo, para entrar nessas eletivas", afirma. "Tivemos o cuidado de analisar Fuvest e Enem para que os cortes no n�cleo comum n�o impactassem no desempenho."
Os alunos precisam cumprir uma carga m�nima de opcionais, que s�o agrupadas em mat�rias ligadas ao n�cleo tradicional e outras mais diversas, como uma chamada de Engenhocas. A eletiva trabalha conhecimentos de v�rias disciplinas na constru��o de prot�tipos, como bra�os mec�nicos e aplicativos.
O estudante Gabriel Barrak, 16, do 2� ano, cursa Engenhocas. "N�o afeta a dedica��o no restante e sinto que � divertido", diz ele, que quer ser engenheiro e faz eletivas de f�sica e matem�tica.
TEMPO DE ESCOLHA
A aluna Mirela de Oliveira, 17, do 3� ano do col�gio Louren�o Castanho, diz aprovar a possibilidade de escolher parte das mat�rias, mas teme que a reforma empobre�a a forma��o. "S� na inscri��o do vestibular eu decidi o curso que quero fazer. Se tivesse escolhido antes, sem me aprofundar, talvez me arrependeria hoje".
Avener Prado/Folhapress | ||
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Alunos Clara Valle, Felipe Ferro, Chiara Tedeschi, em aula de projetos sociais, no Louren�o Castanho |
Benjamin Ribeiro da Silva, presidente do Sieesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de S�o Paulo), concorda com a influ�ncia dos processos seletivos. "A adapta��o deve ser r�pida, mas tamb�m depende de regulamenta��o do Conselho Estadual de Educa��o", afirma.
Membro do conselho de S�o Paulo, Rose Neubauer explica que o �rg�o pode avan�ar a partir das diretrizes federais. "Quando a base ficar pronta, o conselho vai se manifestar e pode definir o que tamb�m deve ser obrigat�rio nas �nfases", exemplifica.
A medida provis�ria do novo ensino m�dio nacional j� est� valendo, mas tem quatro meses para ser validada pelo Congresso.
ADAPTA��O
Os processos seletivos de universidades ter�o de se adaptar � nova estrutura do ensino m�dio e tamb�m � BNCC (Base Nacional Comum Curricular). A avalia��o � de In�s Fini, presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), da gest�o Temer.
"O Enem e os demais vestibulares t�m o desafio de adaptarem-se � nova arquitetura do ensino m�dio", disse. O Inep � respons�vel pela realiza��o do Enem.
"A vertente obrigat�ria nos tr�s anos de L�ngua Portuguesa, matem�tica e ingl�s [prevista na reforma] s�o �timo ponto de partida para a utiliza��o integrada das compet�ncias e habilidades dos demais componentes curriculares que a base nacional comum vai sugerir aos sistemas de ensino", completa.
Desempenho dos alunos - Ideb no ensino m�dio, por ano
Ensino m�dio - Por modalidade, em %
Ensino m�dio - Matr�culas em 2015, por rede*
A medida provis�ria editada pelo governo Michel Temer (PMDB) de reforma do ensino m�dio deixou como obrigat�rio para o ensino m�dio portugu�s, matem�tica (essas nos tr�s anos) e ingl�s. A exclus�o da obrigatoriedade de artes, educa��o f�sica, sociologia e filosofia provocou grande pol�mica ap�s o an�ncio das mudan�as.
O Minist�rio da Educa��o garante que todos os conte�dos estar�o previstos na base comum. Mas a carga hor�ria dos conte�dos vai depender da BNCC, ainda em discuss�o, e tamb�m da decis�o das escolas e redes de ensino. A integra��o citada por Fini deve ser discutida entre Inep e gestores estaduais.
A educadora participou da cria��o do Enem em 1998, quando o objetivo do exame era apenas o de avaliar o ensino m�dio. Em 2009, no governo Lula (PT), o modelo da prova foi alterado e o Enem passou a ser a porta de entrada para praticamente todas as universidades federais.
CUSTOMIZAR
Presidente do Inep na �poca dessa mudan�a, o professor da USP Reynaldo Fernandes diz que o formato atual j� permite um uso customizado. "O Enem � separado por �reas e as notas s�o separadas. Ele j� poderia ser usado pelas institui��es de forma diferente", diz, citando que cada curso aproveitaria somente as notas relacionadas.
As linhas de aprofundamento previstas na reforma seguem a organiza��o do Enem. A prova � dividido em linguagens, matem�tica, ci�ncias da natureza, ci�ncias humanas, al�m da reda��o.
Para Fernandes, o Enem avalia aspectos que est�o na escola e s�o importantes na vida, n�o havendo a necessidade de estar totalmente ligado a um curr�culo. "Essa ideia n�o � correta. O Pisa [avalia��o internacional com alunos de 15 anos] n�o � feito em cima de um programa", exemplifica.
Especialista em avalia��o educacional, o tamb�m professor da USP Ocimar Alavarse � pessimista com a reforma. "O desempenho no Enem, como outros vestibulares, � fortemente relacionado com o n�vel socioecon�mico dos candidatos", diz.
Para Alavarse, o governo erra no diagn�stico. "O problema n�o est� no ensino m�dio, mas nos anos finais do ensino fundamental. O que vai acontecer � que os alunos mais pobres ter�o ainda menos chances no vestibular."
Questionada, a USP informou ser cedo para comentar poss�veis mudan�as no vestibular da Fuvest.
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