Opera��o na cracol�ndia exp�e 'guerra fria' entre os tucanos Alckmin e Doria
Danilo Verpa/Folhapress | ||
Jo�o Doria anda pela regi�o ap�s a��o da Pol�cia Civil; ele chegou a declarar o "fim da cracol�ndia" |
No discurso oficial, a opera��o realizada na manh� deste domingo na cracol�ndia, no centro de S�o Paulo, foi um "sucesso" gra�as � integra��o total entre os governos municipal e estadual, de Jo�o Doria e Geraldo Alckmin.
Nos bastidores, por�m, a interven��o na "feira da droga" teve problemas de comunica��o, desarticula��o de algumas a��es e exposi��o da "guerra fria" entre as equipes dos aspirantes � corrida presidencial pelo PSDB em 2018.
A opera��o foi feita em meio a reclama��es de alguns integrantes da gest�o Doria, que falavam em "atropelo" da a��o policial antes que todas as medidas protetivas dos usu�rios de drogas da cracol�ndia fossem montadas.
Eles diziam esperar uma interven��o somente no final de maio ou come�o de junho, sem um �nico "Dia D" –e que, por isso, teriam que improvisar para atender os dependentes que buscassem algum tipo de acolhimento.
A data escolhida pela pol�cia coincidiu com um final de semana da Virada Cultural da prefeitura, quando a GCM (Guarda Civil Metropolitana) estava com boa parte do efetivo envolvida na seguran�a do evento –podendo assumir riscos ao acumular essa tarefa com a cracol�ndia.
A gest�o Doria havia dito anteriormente que pretendia ter os usu�rios cadastrados para poder encaminh�-los aos locais mais adequados quando fosse necess�rio.
O que se viu, por�m, foram dependentes buscando atendimento assistencial, mas sem nenhuma a��o ostensiva de acolhimento desse p�blico.
Usu�rio de droga na Cracol�ndia
A Folha presenciou um desses dependentes, Paulo Henrique de Oliveira, 35, procurando policiais para questionar como deveria fazer para se internar. Morador do interior paulista, disse estar na cracol�ndia h� quatro meses, sem conseguir sair de l�.
Ele tamb�m procurou funcion�rios da prefeitura que faziam a limpeza da �rea que disseram desconhecer, naquele momento, alguma possibilidade de interna��o.
Em meio � a��o policial, a dependente Aparecida Talita Ferreira de Almeida, 24, estava sentada na cal�ada com um cobertor comendo restos de um mam�o que encontrou no lixo. Ela disse que j� n�o sabia mais h� quanto tempo estava na cracol�ndia.
Integrantes da gest�o Alckmin, por sua vez, dizem que a gest�o Doria n�o pode se dizer surpreendida com nada, por estar informada havia pelo menos duas semanas.
Eles tamb�m dizem que a desarticula��o envolve setores da pr�pria prefeitura –parte apoiava uma a��o mais en�rgica, enquanto outra queria uma mais negociada, com interven��es sociais antes da entrada na regi�o.
Questionado pela Folha, Doria confirmou ter sido informado da opera��o. "Obviamente eu sabia disso, evidentemente que tinha que manter isso sob reserva."
PROTAGONISTA
Integrantes da gest�o Alckmin demonstraram descontentamento ao ver Doria capitalizar os louros de uma a��o realizada prioritariamente pelo governo estadual.
Na avalia��o dos alckmistas, como n�o houve desgaste na opera��o policial (como feridos ou confronto generalizado), Doria buscou ser protagonista ao visitar a regi�o, divulgar v�deo em rede social e adotar um discurso mais ousado que Alckmin.
Nas entrevistas, Alckmin procurou ser mais prudente, dizendo que a a��o policial era um "primeiro passo". Doria arrojou ao decretar a extin��o do lugar. "A cracol�ndia aqui acabou, n�o vai voltar mais", disse.
Um term�metro da disputa interna pela paternidade da a��o na cracol�ndia tamb�m foi uma nota oficial divulgada pela gest�o Alckmin.
A divulga��o feita durante a tarde pelo governo do Estado coloca a prefeitura, e Doria, com grau menor de import�ncia nos resultados obtidos neste domingo.
"Governo do Estado de S�o Paulo faz megaopera��o contra traficantes na cracol�ndia", anuncia a divulga��o, que destaca em seguida. "Governador Geraldo Alckmin acompanhou opera��o durante toda a manh�."
Usu�ria de drogas na Cracol�ndia
Outro exemplo dessa disputa n�o declarada foi um v�deo postado pelo governador nas redes sociais, ao lado de secret�rios de Estado, em que fala do sucesso da opera��o.
Doria postou o seu v�deo sobre a opera��o, em que aparece sozinho, horas antes.
O governador tinha no final da tarde 30 mil visualiza��es em sua postagem, contra quase dois milh�es do prefeito.
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Programas sociais na cracol�ndia
RECOME�O
Cria��o: Governo do Estado (jan.2013, sob Alckmin)
Objetivos: Tratar o usu�rio com medidas ambulatoriais, inclusive interna��es compuls�rias
O que oferece: Acesso a tratamento, interna��o se preciso, encaminhamento a capacita��o e recoloca��o profissional
Or�amento anual: R$ 80 milh�es
Gasto por usu�rio: R$ 1.350 por m�s (interna��o)
BRA�OS ABERTOS
Cria��o: Prefeitura de SP (jan.2014, sob Haddad) - Foi extinto por Doria
Objetivos: Reinserir o dependente na sociedade e estimular a diminui��o do consumo de drogas
O que oferece: Moradia em hot�is, 3 refei��es por dia, apoio em tratamentos, profissionaliza��o e emprego
Or�amento anual: R$ 12 milh�es
Gasto por usu�rio: R$ 1.320 por m�s
REDEN��O
Cria��o: Prefeitura de SP (mai.2017, sob Doria)
Objetivos: Unir os dois programas, visando tanto a reinser��o do usu�rio como o tratamento cl�nico
O que oferece: Moradia distante do "fluxo", trabalho em empresas privadas e encaminhamento a tratamento
Or�amento anual: Ainda n�o estimado
Gasto por usu�rio: Ainda n�o estimado
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Cronologia
Opera��es e projetos na regi�o que n�o deram certo
Set.2005
A gest�o Serra-Kassab d� in�cio ao projeto Nova Luz, que pretendia recuperar a �rea com investimento p�blico e privado, mas o modelo n�o vingou
Fev.2008
O ent�o prefeito Gilberto Kassab (PSD) afirma que a cracol�ndia n�o existe mais. "N�o, n�o existe mais a cracol�ndia. Hoje � uma nova realidade", declarou. O consumo de drogas, no entanto, continuou expl�cito
Jan.2012
Pol�cia Militar intensifica a Opera��o Centro Legal e ocupa as principais ruas da Luz com cerca de 300 homens. Dependentes que se concentravam na rua Helv�tia se dispersam para outros pontos da regi�o
15.jan.2014
Assistentes sociais e funcion�rios da prefeitura retiram usu�rios e limpam a rua. Segundo a prefeitura, 300 pessoas foram cadastradas no programa Bra�os Abertos, da gest�o Haddad (PT). O tr�fico, por�m, persistiu
23.jan.2014
Tr�s policiais civis � paisana v�o ao local para prender um traficante e usu�rios reagem com paus e pedras. A confus�o aumentou com chegada de refor�os e terminou com cerca de 30 detidos
29.abr.2015
Opera��o desarticulada da prefeitura e do governo do Estado transforma o centro em uma pra�a de guerra, com bombas de g�s, furtos a pedestres e depreda��o de �nibus. Dois dias depois, fluxo retornou. Haddad chamou a��o de 'sucesso'
5.ago.2016
Pol�cia realiza opera��o com 500 homens na cracol�ndia e ocupa��o do Cine Marrocos, no centro, e prende ao menos 32 pessoas
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