paula cesarino costa
ombudsman
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Est� na Folha desde 1987. Foi Secret�ria de Reda��o e editora de Pol�tica, Neg�cios e Especiais. Chefiou a Sucursal do Rio at� janeiro de 2016. Escreve aos domingos.
Um passo atr�s da dama cinzenta da m�dia
Ramin Talaie/AFP | ||
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Vista da fachada do pr�dio do jornal "The New York Times", em Nova York (EUA) |
Aconteceu no "New York Times". O cargo de "public editor", equivalente ao de ombudsman, foi extinto. A dire��o do jornal considerou que ele n�o � mais necess�rio. Interpreta que a fun��o pode ser substitu�da por triagens de mensagens de leitores e pelo monitoramento de coment�rios nas redes sociais.
"Nossos seguidores na m�dia social e nossos leitores na internet constituem, juntos, uma forma moderna de fiscaliza��o, mais vigilante e mais poderosa do que uma pessoa trabalhando sozinha jamais poderia ser. Nossa responsabilidade � aumentar o poder de todos esses fiscalizadores e ouvi-los, em lugar de canalizar suas vozes por meio de um �nico posto", justificou Arthur Sulzberger Jr., publisher do "NYT".
A decis�o da semana passada desencadeou um intenso debate sobre o valor de uma fun��o que s� foi abra�ada pelo jornal em 2003, com o desgaste e o temor de perda de credibilidade ap�s o esc�ndalo Jayson Blair, rep�rter que ascendeu na casa com a publica��o de entrevistas inventadas e not�cias falsas.
"A posi��o do editor p�blico, criada ap�s grave esc�ndalo jornal�stico, desempenhou um papel crucial na reconstru��o da confian�a de nossos leitores, agindo como o c�o de guarda da casa. Acolhemos suas cr�ticas, mesmo quando nos agulhava. Mas hoje os nossos seguidores em redes sociais e nossos leitores em toda a internet se uniram para atuar coletivamente como um c�o de guarda moderno, mais vigilantes e fortes do que uma pessoa poderia ser", escreveu Sulzberger.
As rea��es foram imediatas e negativas. A decis�o e a justificava, p�fia, foi condenada por cr�ticos de m�dia e jornalistas que cobrem o setor.
Alguns chamaram de risivelmente infantil o pensamento de que seguidores nas redes sociais e contribuintes das se��es de coment�rios possam exercer tecnicamente a vigil�ncia proposta pelo publisher.
Na �ltima coluna, Liz Spayd, a ombudsman do "NYT", registrou a rea��o ruim dos leitores, que reclamam a exist�ncia de algu�m com autoridade, perspectiva privilegiada e capacidade de exigir dos editores respostas e explica��es.
Ela lan�ou d�vida sobre os l�deres do "NYT" estarem mesmo buscando um novo modelo ou, apenas, estarem cansados de ter a sabedoria do santu�rio interno desafiada.
Na minha vis�o, o "NYT", conhecido por detratores de sua arrog�ncia como "The Old Grey Lady (a velha dama cinzenta), caiu do salto. Tratou a fun��o como se fosse um SAC (servi�o de atendimento ao cliente). � muito mais do que isso.
Em geral, o ombudsman � jornalista experiente e independente, com bagagem e ferramentas suficientes para oferecer nuances e perspectivas diferentes � Reda��o, propiciando um ambiente de saud�vel autocr�tica, mais do que necess�rio em tempos de polariza��o da sociedade como vivem os EUA e o Brasil.
Na sexta-feira, para dividir minha perplexidade, entrei em contato com ombudsmans do jornal ingl�s "The Guardian" e do espanhol "El Pa�s" e tamb�m com a cr�tica de m�dia do "Washington Post". Dividiram comigo a surpresa com a demiss�o da colega e avaliaram o fato como danoso ao ambiente jornal�stico.
Margaret Sullivan, antecessora de Liz Spayd e hoje colunista de m�dia do "Washington Post", disse-me que o "public editor" era capaz de fazer cumprir a press�o por acuidade da informa��o de modo que comentaristas e cr�ticos de fora da Reda��o n�o podem faz�-lo.
Ele est� em posi��o privilegiada para obter respostas dos l�deres da organiza��o e insistir na presta��o de contas, afirmou no Twitter. "Eu senti, ao exercer o cargo por quase quatro anos, que cumpri uma demanda objetiva e importante para os leitores e para o pr�prio 'Times'".
Para Paul Chadwick, do "Guardian", o jornalismo que � examinado com a mesma min�cia com que examina outros poderes e institui��es � mais forte e confi�vel. "Nestes tempos desafiadores para o jornalismo, o papel do ombudsman precisa se adaptar, mas continua relevante."
A defensora dos leitores do "El Pa�s", Lola Gal�n, teme que haja um efeito domin� em outras organiza��es de imprensa. "Dada a import�ncia e a repercuss�o do 'NYT', a dispensa do ombudsman pode ter consequ�ncias e levar outras empresas a tomar a mesma decis�o."
O leitor Jeferson Ara�jo Pereira pareceu desmontar a justificativa oficial do "NYT": "Os leitores n�o podem substituir o trabalho realizado pela ombudsman, por um motivo bem simples: eles n�o s�o jornalistas. A maioria dos leitores � 'achista'. Achismo � bem diferente de jornalismo. Espero que essa decis�o (errada e rid�cula) do 'NYT' n�o influencie a Folha. N�o consigo imaginar a Folha sem a presen�a de um ombudsman", escreveu.
Com a palavra, o editor-executivo S�rgio D�vila: "A Folha n�o tem planos de acabar com o cargo de ombudsman. � uma das marcas do jornal e parte importante de seu Projeto Editorial. Avaliada a dist�ncia, a decis�o do 'New York Times' parece equivocada".
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