• Carlos Orsi
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Alguns dos Monstros de Acámbaro preservados em museu mexicano (Foto: Brattarb/Wikimedia commons)

Alguns dos Monstros de Acámbaro preservados em museu mexicano (Foto: Brattarb/Wikimedia commons)

Imagino que pouca gente ainda se lembre dos “Monstros de Acámbaro”. São pequenas miniaturas de cerâmica, com formatos que lembram dinossauros, “descobertas” no México em 1944. Durante décadas, fundamentalistas religiosos citaram-nas – alguns ainda as citam, na verdade – como prova de que homens pré-históricos conviveram com os grandes sáurios.

As miniaturas, talvez bibelôs da sala de estar de Wilma Flintstone, demonstrariam que a cronologia científica, que dá à Terra uma história de bilhões de anos, está errada, e a bíblica, que pressupõe uma existência de poucos milênios, correta. Outros autores usaram os bibelôs para contestar a “teoria ortodoxa” da extinção dos dinossauros milhões de anos antes do surgimento da raça humana.

Suposto artefato antigo com imagens alienígenas (Foto: History Channel/Reprodução)

Suposto artefato antigo com imagens alienígenas (Foto: History Channel/Reprodução)

Em 1976, no entanto, uma datação cuidadosa das figuras, publicada na revista American Antiquity, da Sociedade de Arqueologia dos Estados Unidos, mostrou que o barro de que as figuras eram feitas tinha sido “cozido pouco antes de elas serem descobertas” – um jeito bem diplomático de dizer “fraude” – e o assunto foi posto de lado pelos cientistas sérios.

A história dos monstrinhos me veio à lembrança quando começaram a surgir, nas redes sociais, imagens de “peças de uma cultura desconhecida que retrata naves e seres de outro planeta”, descobertas – também – no México.

Quando vi o título, logo imaginei uma confusão do tipo da feita por Erich Von Däniken, que achou que uma planta de milho estilizada, esculpida numa tumba maia, era uma nave espacial. Mas, quando vi as fotos, minha opinião mudou. Pelo que se vê online, as tais “peças” são discos de pedra e metal trazendo imagens inconfundíveis de aliens cabeçudos e discos-voadores.

O que é prova sólida de que alguém está brincando: aliens cabeçudos e discos-voadores são, comprovadamente, invenções do século 20. A primeira imagem documentada de alien cabeçudo, por exemplo, apareceu num episódio da série de TV Quinta Dimensão, que foi ao ar nos EUA em 1964, duas semanas antes de Barney Hill, em depoimento dado sob regressão hipnótica, trazer esse lay-out específico para folclore ufológico.

Quanto a “discos-voadores”, a expressão foi inventada por jornalistas em 1947. Kenneth Arnold, supostamente a primeira pessoa a ver os “discos”, disse numa entrevista concedida em 1950 que os objetos que tinha visto “voavam como discos lançados sobre a água”, não que “eram como discos”. “Não fui citado corretamente”, afirmou.

Se supostos artefatos culturais antigos, como as peças mexicanas, trazem imagens criadas em tempos recentes, a explicação lógica é que os artefatos na verdade não são antigos. Aliens cabeçudos e discos-voadores em peças pré-colombianas recém-descobertas sugerem o mesmo que uma TV de plasma sugeriria numa pintura atribuída a Rembrandt: a ação de um falsário que pode até ser talentoso, mas que não é lá muito esperto.