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essure (Foto: Reprodução/ Divulgação )

Essure (Foto: Reprodução/ Divulgação )

Na última segunda-feira (20), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou no Diário Oficial da União a proibição de uso e comercialização do Essure, um método permanente de contracepção. Trata-se de um pequeno dispositivo de metal que é inserido pelo médico em cada um das trompas da mulher, para que ela fique estéril.

Fabricado pela Bayer e distribuído no Brasil pela Commed Produtos Hospitalares, o Essure era vendido como uma alternativa prática e indolor às mulheres que queriam se tornar inférteis sem precisar recorrer à cirurgia de laqueadura.

No site americano de divulgação do produto, há o seguinte alerta: "Algumas pacientes que implantaram o sistema Essure para controle permanente de natalidade têm experimentado e /ou relatado eventos adversos, incluindo perfuração do útero e/ou trompas de falópio, inserções na cavidade abdominal ou pélvica, dor persistente e suspeita de alergia ou reações de hipersensibilidade. Se o dispositivo precisar ser removido por conta de tais eventos adversos, um procedimento cirúrgico será necessário".

Segundo nota da Anvisa, “algumas complicações podem ser consideradas graves”. Sem maiores explicações, a agência afirmou que determina “como medida de interesse sanitário, em todo o território nacional, a suspensão da importação, da distribuição e comercialização, do uso e da divulgação do produto”.

Conheça, a seguir, a história Maria de Lourdes Felix Medeiros, 45 anos, brasileira que foi afetada pelo Essure e que lutou para que os efeitos colaterais do produto se tornassem conhecidos. Confira o depoimento que ela deu à CRESCER.

“Há mais ou menos dois meses eu iniciei essa luta para provocar alguma reação no governo. Escrevi cartas ao ministro da Saúde, a deputados e senadores. Comecei a falar sobre o assunto, mas sem muita esperança. Não tive nenhuma resposta formal, mas a ação foi rápida. O resultado me surpreendeu. Proibir o Essure no Brasil foi a melhor coisa que poderiam ter feito. Os governos de outros países, como França, Alemanha e Estados Unidos, têm feito vistas grossas para esse problema. Nos grupos online de que eu participo, as mulheres de outras nacionalidades estão comemorando a decisão do Brasil e acham que os demais países devem seguir esse exemplo. Mas eu acredito que, além de proibir o uso do Essure, é preciso orientar os médicos a como retirá-lo do corpo da mulher.

Eu coloquei o Essure há 8 anos, quando morava na França. Foi meu ginecologista de lá que propôs. Eu tinha problemas com a pílula e não queria mais filhos, então achei que o Essure seria uma boa ideia. No primeiro ano, tudo correu bem. Os primeiros problemas vieram quase um ano depois – mas eu não os associava ao implante. Eu passei a ter enxaqueca e dores de cabeça constantes, depressão, dores musculares e nas articulações, hemorragias durante o período menstrual e muito cansaço. Procurei médicos, fiz exames, mas eles não encontravam nada errado. Chegaram a dizer que era só psicológico. Achavam que eu era hipocondríaca, que estava inventando tudo aquilo. Outros falaram que era menopausa precoce.

Quando eu descobri grupos de mulheres no Facebook de diversos países que usavam o Essure e apresentavam os mesmos sintomas que eu, foi um alívio. Eu pude comprovar que o problema não era comigo. Elas sentiam as mesmas coisas após terem feito o implante. Comecei a buscar outras mulheres no Brasil e percebi que a maioria delas tinha feito o procedimento em hospitais públicos. Na França, eu também fiz de graça, por que eu tinha a seguridade social.

Através do grupo, conheci histórias de muitas brasileiras que estão enfrentando problemas. Uma, inclusive, engravidou 6 meses depois de colocar o implante. O pior é que nenhuma delas conseguiu tirar o Essure ainda. A única forma de se livrar dele é fazendo a histerectomia, cirurgia de retirada do útero e das trompas.

Eu passei pela cirurgia há um mês e 20 dias, aqui em Banguecoque (Tailândia), onde estou vivendo com o meu marido, que é diplomata. Além de ter tirado o útero e as trompas, estou passando pelo processo de desintoxicação que o metal do implante me causou. Eu paguei o equivalente a 5 mil euros pela cirurgia, mas felizmente tive a chance de fazer. A maioria das mulheres do Brasil não tem essa condição. Queremos fazer pressão sobre o Ministério da Saúde para que o SUS cubra as cirurgias.

Desde que fiz a cirurgia e tirei o Essure do meu corpo, os sintomas desapareceram. Agora não me canso como antes e as dores sumiram. Quando eu optei por esse método, tive que assinar um termo de responsabilidade. Eu sabia que não poderia mais ter filhos (e não queria mesmo), mas não me foi dito que a única maneira de retirar o implante era fazendo a histerectomia. Eu achava que ficaria bem com ele por toda a vida. Também nunca imaginei que ele tivesse quantidades tão elevadas de metais na composição.

Após a cirurgia, pedi para ver minhas trompas. O médico me mostrou que o implante estava todo despedaçado e algumas de suas fibras migraram para o útero – e por isso precisei tirar o útero também".

A empresa, em nota enviada à imprensa, afirma o seguinte: "A Bayer tomou conhecimento que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou uma resolução suspendendo a importação, distribuição, comercialização e uso do Essure no Brasil. O órgão também solicitou que os produtos disponíveis para comercialização fossem recolhidos. Tal decisão foi tomada sem o prévio conhecimento da Bayer ou da Comercial Commed Produtos Hospitalares Ltda (COMMED), parceiro local detentor do registro e distribuidor exclusivo do Essure no Brasil. A Bayer está trabalhando junto a COMMED para entender o motivo pelo qual levou a ANVISA a tomar essa decisão. A Bayer ressalta que o Essure é uma opção segura para mulheres que desejam adotar um método contraceptivo permanente. Informamos ainda, que há mais de uma década após a comercialização do Essure em diversos países, o produto vem sendo testado, e um extenso número de evidências reiteram o perfil de benefício/risco positivo do Essure".

Procurada pela CRESCER para uma posição sobre o assunto, a Federaçao Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetricia (Febrasgo) disse que não iri se manifestar.

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