• Bruna Menegueço
Atualizado em
capa_livro_quinhentos_gramas (Foto: Divulgação)

Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 8% dos bebês nascem com menos de dois quilos. Apesar dos muitos avanços da medicina, por trás desses números, há histórias de pais e mães que lutam bravamente pela sobrevivência de seus filhos.

Foi na história de famílias que recebem seus bebês com pouco mais de meio quilo que a jornalista Thais Lazzeri mergulhou para escrever seu primeiro livro. Quinhentos Gramas de vida - A luta dos bebês prematuros pela sobrevivência (Editora Belas-Letras) relata nove histórias de prematuros extremos e conta a luta diária pela vida. Em entrevista à CRESCER, ela conta os bastidores da obra e como foi escrever durante a sua primeira gravidez. Ela espera por Catarina, que deve nascer nos próximos dias. Confira.

CRESCER: Você está grávida de oito meses de sua primeira filha, Catarina. O convite para escrever o livro surgiu nesse momento muito especial. Como você reagiu à mistura de sentimentos enquanto relatava cada história?
THAIS LAZZERI:
Recebi o convite no primeiro trimestre do ano passado. A gestação viria só em agosto, sabia que seria algo mais complexo de administrar, mas foi um presente escrever grávida. Com os pais dos bebês prematuros extremos, aprendi o valor de esperar por um filho. A cada semana de gestação, agradecia pela Cacau (o apelido que demos a ela) esperar o tempo certo para nascer. A cada semana, sentia a dor das mães que tiveram seus filhos tirados do ventre precocemente, com vinte e poucas semanas - quando o esperado são quarenta.

C: Como foi a busca pelas histórias?
T.L.:
A ideia inicial era fazer um livro sobre prematuros. Pelos quase oito anos de trabalho na CRESCER, logo percebi que o tema era extenso demais. Precisava de um foco. Entrevistei mais de duas dezenas de famílias, li diversas publicações médicas e entrevistei profissionais da saúde para conseguir encontrar um caminho. O processo levou quase dois meses. Um dia, ao sair de uma das entrevistas - a da Lígia, que está no livro -, pensei: a vida dessas crianças começa com 500 gramas. Daí veio o nome do livro, o caminho para encontrar as famílias. Não consegui chegar em casa para escrever para o editor. Liguei na hora. Encontrar essas famílias foi tão complicado quanto imaginava. Primeiro pelo recorte: eram bebês muito pequenos. Segundo, pelo assunto: para muitos pais, a UTI é um assunto que preferem esquecer, tamanha a dor e as marcas que ficaram. Felizmente, encontrei pessoas inspiradoras e generosas, que doaram seu tempo no afã de ajudar outras famílias. Em cada capítulo, tentei abordar uma situação específica vivida dentro da uma UTI neonatal, como os rituais hospitalares e o luto.

C: Qual foi o maior desafio em escrever esse livro?
T.L.:
Emocionar as pessoas sem ser piegas e deixar que a força de cada história falasse por si. Todas as histórias remetem ao extremo, à sobrevivência. São pais que lutaram pelo filho desde o primeiro minuto de vida. É impossível não se envolver, ainda mais grávida, quando naturalmente a sensibilidade está aflorada. Eu me sentia muito no lugar deles. Mas na hora de escrever é preciso olhar cada caso com distanciamento para preservar a essência do trabalho da reportagem e oferecer ao leitor uma perspectiva real do que aquelas famílias viveram.

C: O que gostaria de dizer para as famílias que, assim como os personagens do seu livro, estão lutando pela vida dos seus bebês prematuros?
T.L.:
Vou dizer o que aprendi com os meus professores, os protagonistas do livro. Um dos ensinamentos é olhar para a sua história como se ela fosse a mais importante dentro da UTI neonatal, porque a pior história é a de quem perde o filho para a prematuridade.

C: Sabemos que o cenário da saúde pública no Brasil não é dos melhores. O que você espera do governo para que a difícil situação que essas famílias enfrentam melhore?
T.L.:
A atenção deve se voltar à condução do pré-natal em todas as etapas, focando na saúde física e emocional da gestante; ao acompanhamento do casal (um dos casais que entrevistei para o livro desistiu de ter sua história contada porque eles se separaram enquanto as entrevistas aconteciam) e do prematuro por uma equipe multiprofissional.

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