• Maria Clara Vieira
Atualizado em

O momento do nascimento do filho costuma ser o mais aguardado por todas as gestantes. Quem não quer ver logo o rostinho do bebê que cresceu dentro de seu próprio ventre? Quando o assunto é parto, além da ansiedade que costuma rondar as mulheres, há também muitos sonhos e desejos envolvidos.

Parto normal após cesárea (Foto: Thinkstock)

Parto normal após cesárea (Foto: Thinkstock)

No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, 55,5% dos partos são cesáreas (muitas delas, desnecessárias). O número é tão elevado que chega a ser um do maiores do mundo. A Organização Mundial da Saúde recomenda que apenas 25% dos partos sejam feitos por meio de cesarianas.

Embora o parto normal seja o mais indicado para a segurança da mãe e do filho, é preciso lembrar que o sonho de ter um bebê por via vaginal nem sempre pode ser realizado. Alguns imprevistos que surgem no meio do caminho impossibilitam esse tipo de parto – mesmo quando tudo indicava que daria certo!

Em entrevista à CRESCER, o ginecologista Alessandro Scapinelli, membro Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp) e da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), listou algumas situações que podem inviabilizar o nascimento por via vaginal quando a mulher já está em trabalho de parto e que acabam levando à uma cesárea como desfecho.

“É importante ressaltar que, se foi decidido pelo parto normal, a mulher e o bebê já foram avaliados previamente pelo médico e estão em condição clínica favorável para isso”, afirma Scapinelli. “A natureza quer que a mulher tenha um parto normal – o corpo dela foi feito para isso. Mas, às vezes, é preciso recorrer à cesárea para garantir que a mulher e o bebê voltem bem para casa. A melhor via de parto é aquela que garante isso. Não adianta insistir no parto normal se o bebê for ficar com alguma sequela”, explica o médico. A seguir, confira o que pode sair do esperado no trabalho de parto e levar à cirurgia.

1. Diminuição da vitalidade fetal

Durante o trabalho de parto, a equipe médica monitora o bem-estar fetal por meio da cardiotocografia, que avalia a vitalidade do bebê. Se é detectado que ele está em sofrimento (ou seja, com a vitalidade diminuída), recomenda-se partir para uma cesárea. Mas você deve estar se perguntando: afinal, o que é o sofrimento fetal? O que acontece é que, durante o trabalho de parto, cada contração do útero comprime a cabecinha do bebê. Isso é natural, mas o feto precisa ter uma boa reserva energética para aguentar toda essa pressão por um longo período de tempo. Quando ele não tem essa reserva, acontece o sofrimento – que pode levar à falta de oxigenação e, consequentemente, causar problemas como a paralisia cerebral. Em casos mais graves, leva à morte.

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2. As contrações não estão sendo efetivas

Não adianta apenas ter contrações: elas devem ser efetivas, isto é, precisam acontecer de maneira adequada, de modo a empurrar o bebê para baixo. As contrações efetivas começam no fundo do útero e seguem para baixo de maneira sincronizada. Quando isso não ocorre, a mulher fica horas em trabalho de parto, mas não há uma evolução, ou seja, a descida do bebê não acontece.

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(Foto: Thinkstock)

3. Dose errada de ocitocina

A ocitocina sintética, substância utilizada para ajudar nas contrações uterinas, pode prejudicar o trabalho de parto se for aplicada de maneira errada. Ela deve ser usada de forma cuidadosa e progressiva. O exagero da dose, sem respeitar os protocolos médicos, pode levar a um quadro de excesso de contrações, que tendem a causar sofrimento fetal ou fazer com que o bebê não desça da maneira adequada.

4. Desproporção encéfalo-pélvica

Mesmo com dilatação total do colo do útero, o bebê pode não conseguir descer para o canal vaginal. Quando isso acontece, existe uma desproporção encéfalo-pélvica. Algumas vezes, o médico não consegue detectar isso previamente e só na hora do parto a desproporção fica clara. Nesses casos, não adianta insistir no parto normal e a solução é partir para a cesárea. 

5. Posição inadequada da cabeça do bebê

O parto pode estar evoluindo normalmente até que, quando o médico realiza um exame de toque, nota que a cabeça do bebê não está em uma posição adequada para o parto normal (o queixo da criança não está encostado no tórax). Nesse tipo de situação, é muito provável que o bebê não consiga passar, por não estar com a cabeça em um ângulo propício – na linguagem médica, é a chamada “defletida de 2° grau”. A incidência desse tipo de caso, no entanto, é rara. 

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6. Anestesia demais

Quando a mulher começa a sentir muita dor no trabalho de parto, a analgesia (anestesia) ajuda muito e deve ser feita para que ela fique mais confortável. Mas não pode haver excesso, ou seja, a gestante não pode perder a capacidade de andar e movimentar as pernas. A anestesia deve ser feita por um médico especialista em partos, que saiba dosar adequadamente a substância para cada paciente.

Rodapé Instagram OK (Foto: Crescer/ Editora Globo)