• Renata Menezes
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Brincadeira cabo de guerra (Foto: ThinkStock)

O cabo de guerra é uma boa opção de brincadeira para fazer com os filhos (Foto:ThinkStock)

Você não deixa o seu filho brincar de lutinhas e outras brincadeira competitivas em que há contato físico porque tem medo que ele se machuque? Talvez seja hora de rever os seus conceitos. Um estudo recente da Universidade de Newcastle (Austrália) sugere que as brincadeiras físicas com os pais ensinam as crianças a lidar melhor com as emoções.

Os pesquisadores analisaram vídeos de 30 pais (homens) que brincavam com os filhos de duas maneiras: na primeira, a criança tentava tirar as meias do adulto e vice-versa e, na outra, o filho tentar impedir o pai de ficar em pé. Para os pesquisadores, esse tipo de atividade física, que gera competição e envolve uma troca de papéis, dá a oportunidade de um ocupar o lugar do outro. Isso ajuda a criança a encarar e trabalhar as emoções – em especial a frustração, já que uma hora ela perde e, na outra, ganha.

“A relação das crianças com os adultos é sempre de submissão. Por isso, quando os filhos conseguem ganhar de alguém maior e mais forte, sentem-se capazes, seguros, autoconfiantes e ficam com a autoestima nas alturas”, explica Ana Gabriela Andriani, psicóloga, psicoterapeuta e doutora em psicologia pela Unicamp (SP).

É importante deixar ganhar


O adulto pode (e deve!) permitir que a criança vença de vez em quando. Só tome cuidado para não parecer algo falso. A brincadeira é muito importante para os pequenos e eles são muito atentos. Por isso, não dá para enganá-los. Os pais não podem deixar nítido que estão fazendo “corpo mole”, só para eles ganharem. Uma dica para não ficar fingido é criar regras e metas que sejam fáceis de serem alcançadas, antes de começar a atividade. Por exemplo, em uma competição de corrida, é possível propor: "Vamos ver quem chega mais rápido naquela árvore?". E a distância deve ser condizente com o tamanho da criança. “Já em uma disputa de dança das cadeiras, os pais podem usar um banquinho infantil para facilitar que a criança sente e consiga vencer”, exemplifica Ana Gabriela.

Perder ajuda a lidar com as frustrações


Assim como é essencial a criança ganhar, também é importante que ela perca às vezes. “Como nem tudo na vida é um mar de rosas, ela tem que entrar em contato desde cedo com o fracasso, a impotência, a frustração e precisa saber lidar com esses sentimentos”, revela Ana Gabriela. E fique esperto com as trapaças! Se o seu filho tentar enganá-lo, não hesite em dizer que isso é errado e que ele não conseguiu atingir o objetivo. Aproveite a oportunidade para encorajá-lo e explicar que ele tem capacidade de vencer. “Uma criança que tem dificuldade em entrar em contato com leis e regras, quando chegar na fase adulta, terá forte tendência a desistir no primeiro 'não' que receber”, diz Ana Gabriela. 

Até lutinhas são bem-vindas


Todas as brincadeiras, principalmente as competitivas, são boas para lidar com os sentimentos das crianças. A luta, por exemplo, é uma ótima forma de medir força, aprender a cumprir regras e a respeitar os adversários. E, se você tem medo que seu filho fique agressivo por conta disso, está enganado. Tudo depende da forma que você apresenta e realiza a atividade. Portanto, durante a disputa, deixe as regras claras. Explique exatamente os golpes permitidos e os locais em que podem ser feitos. Se a criança não conseguir dosar a força, partir para o confronto e machucar, diga: “Olha, aqui não pode porque dói”. Os jogos de tabuleiro como dama, xadrez e até o videogame são exemplos de brincadeiras competitivas interessantes, mas devem ser sugeridos de acordo com a idade da criança.

Evite o agito à noite


Embora no estudo australiano os cientistas afirmem que estimular a criança não prejudica a hora dela se acalmar, a maioria dos especialistas não recomenda atividades intensas no período noturno. “Os exercícios físicos aumentam a temperatura corporal e aceleram o metabolismo. O ideal é que as brincadeiras mais agitadas sejam feitas pela manhã, à tarde ou cerca de quatro horas antes da criança dormir. Assim o organismo tem tempo para desacelerar”, finaliza Ana Gabriela.