• Cíntia Marcucci
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Família lavando a louça na cozinha (Foto: Shutterstock)

Quando se fala em dar conta de todos os afazeres domésticos, o discurso é sempre o mesmo: antes, eles eram responsabilidade das mulheres, que ficavam em casa. Agora, os tempos são outros, e, assim como elas se adaptaram ao mercado de trabalho, os homens também precisam fazer o caminho inverso. Mas e na prática, a teoria está funcionando?

Quando perguntamos no Facebook da CRESCER se as pessoas estavam felizes com a divisão de tarefas em casa, só as mulheres responderam – e a maioria disse que não. Na casa delas, ficou dividido assim: “Eles bagunçam e eu arrumo”. Algumas até comentaram que os maridos e filhos tentam ajudar, mas é pior ainda, pois fazem tudo errado.

Realmente, não faltam motivos para elas se sentirem sobrecarregadas. “É muito mais fácil para um chefe compreender que a mãe saia do trabalho para levar um filho doente ao médico. Não se mudam os hábitos, costumes, moral e ética de uma sociedade tão rápido”, explica a terapeuta de casais Teresa Bonumá, que há mais de 30 anos convive com as muitas nuances do convívio familiar.

Mas a situação é menos desanimadora do que parece. E temos uma justificativa científica para afirmar isso: a pesquisadora britânica Laura King revisou estudos e chegou a uma teoria que a figura do pai moderno, que cuida e participa da vida dos filhos, existe há bem mais tempo do que se imagina. Ela defende que isso começou por volta dos anos 1950, após a Segunda Guerra Mundial. Agora, uma coisa é verdade: eles realmente demoraram para sujar as mãos com fraldas. Em 1980, 43% dos pais britânicos nunca haviam trocado seus filhos. Esse número caiu para 3% no ano 2000.

Para que não só o número de trocadores de fraldas, mas de pais e mães parceiros e satisfeitos com seus acordos, fique cada vez maior, conversamos com especialistas e casais bem-resolvidos e selecionamos as dicas deles para tornar a divisão mais balanceada na sua família. Leia a seguir:

1. Mais braços
Livrem-se de algumas tarefas sempre que puderem. Considerem pagar por serviços que vocês não dão conta ou que são um aborrecimento e podem ser feitos por outras pessoas. Desde uma faxineira para arrumar a casa, alguém para passar a roupa (ou mandar lavar fora) até comprar a comida pronta.

2. Pare com o “mimimi”
Reclamar que só você faz tudo em casa e que detesta o serviço doméstico não adianta. “Claro que, no passado, as mulheres achavam que a vida dos homens era muito mais divertida – e elas não paravam de reclamar sobre quanto suas rotinas eram ruins. A verdade é que erramos muito no marketing! E vamos combinar que nem o trabalho fora é tão cheio de glamour nem todas as tarefas domésticas são tão chatas quanto dizem”, comenta a psicóloga Lídia Aratangy, autora de livros como Novos Desafios da Convivência: Desatando os Nós da Trama Familiar (Ed. Rideel). Então, se quiser ter mais chances na hora de negociar a divisão, experimente parar de falar quanto lavar a louça é chato. A mudança não vai acontecer de uma hora para outra, mas já é um começo.

3. Nova família, novas regras
“Quando vamos viver juntos, unimos duas pessoas que cresceram em famílias diferentes – e é preciso compreender que isso exige adaptações. Pode ser que o pai do parceiro não fizesse nada em casa e foi esse o modelo que ele teve”, explica o psicoterapeuta Luiz Cushnir, autor de, entre outros títulos, Como Mulheres Poderosas se Tornam Mulheres Conquistadoras (Ed. Planeta). Sim, é preciso respeitar as experiências de cada um, mas elas não devem servir de desculpa para não se fazer nada.

4. Com palavras e paciência
Para equilibrar a balança da divisão de tarefas na sua casa, a melhor saída é conversar - uma, duas, muitas vezes, expor suas insatisfações e necessidades.

5. Segure a onda quando os filhos chegarem
Não tem jeito: com a chegada dos filhos, a rotina da casa costuma dar uma desestabilizada, mesmo se vocês tiverem um esquema que costumava funcionar superbem. Além de mais tarefas e de, no início, o bebê depender muito da mãe, como na amamentação, vários tratos que antes estavam resolvidos e estabelecidos para vocês talvez precisem mudar. “Quando são só os dois, eles têm liberdade de decidir se vão arrumar a cama todo dia ou não, se vão lavar a louça ou não, se vai ter comida em casa ou se vão sair para comer fora todos os dias... Depois isso não é mais possível, pois um filho precisa dos pais como modelo de educação”, diz a terapeuta Teresa Bonumá. Então, se a coisa apertar, vale reorganizar o dia a dia até entrar em equilíbrio de novo.

6. Questão de habilidade
Na hora de dividir, tente ver o que cada um prefere fazer. Se você gosta de cozinhar, mas odeia passar roupa e ele não se incomoda com essa tarefa, vocês têm um ponto a menos para entrar em conflito.

7. O jeito certo
De um lado, as mulheres reclamam que os homens não fazem o serviço direito. Do outro, os homens desistem de fazer a parte deles – afinal, nunca vai estar bom. “Muitas mulheres querem um ajudante qualificado que execute as tarefas que ela quer, na hora que quer”, diz Lídia Arantangy. Para conciliar esse problema, os dois lados têm que ceder. As mães, entendendo que o parceiro fará as coisas de um modo diferente, e os pais, encaixando na sua rotina as tarefas de casa e percebendo que eles não “ajudam” as esposas. Quem ajuda supõe que está fazendo um favor e não é o caso. As responsabilidades são dos dois e algumas coisas precisam ser feitas com horário. Afinal, criança precisa de rotina tanto quanto um bebê.

8. Brincadeira de criança
Conte com seus filhos para as tarefas do lar. Ou você quer que os parceiros deles fiquem reclamando que não fazem nada em casa quando crescerem? Vá estabelecendo responsabilidades conforme a idade, mas nunca o sexo. Menino e menina podem guardar os brinquedos e levar a roupa suja para a lavanderia já com 2 ou 3 anos. Aos 4, podem ajudar a tirar o pó da sala, dar comida para bichos de estimação e colocar os talheres na mesa. A partir dos 6, já são responsáveis por arrumar a cama e colocar toda a mesa.