• Naíma Saleh
Atualizado em
bebê; berço; cama; pulando (Foto: Thinkstock)

"Preciso fazer xixi!"

"Quero leite!"

"Tô com fome"

"Conta de novo!"

"Quero dar mais um boa noite para o papai"

Essas frases soam familiares? Elas foram relatadas por mães e pais na página da CRESCER no Facebook, e no Instagram, quando perguntamos quais são as desculpas que as crianças dão na hora de ir para a cama. Não é à toa que uma pesquisa feita pela Netflix descobriu que as crianças brasileiras são as melhores negociadoras na hora de barganhar mais 5 minutinhos antes de ir para a cama. E não é só isso: 52% dos pais contaram que essa estratégia funciona na maioria das vezes!

Mas a pesquisa também mostrou que não são só as crianças daqui que embromam na hora do boa noite. Dentre os 7.277 pais e mães dos Estados Unidos, da França, do Reino Unido, do Canadá, da Austrália, do México e do Brasil que responderam ao questionário online, 61% lidam com as mesmas desculpas criativas (e esfarrapadas) das crianças na hora de ir para a cama.

Resistência para dormir

Mas o que será que faz com que crianças de diferentes lugares do mundo tenham a mesma resistência à hora de dormir?

Para o pediatra Gustavo Moreira, especialista em Medicina do Sono pela Associação Brasileira do Sono (ABS), alguns fatores podem explicar esse comportamento. O primeiro é a vontade das crianças de aproveitar cada minuto com os pais. Principalmente nas famílias contemporâneas, em que o pai e a mãe trabalham fora e só voltam para a casa à noite, é natural que os filhos façam o máximo para prorrogar o tempo que passam com eles. “Muitas vezes, a criança não está pedindo de verdade para ir mais uma vez ao banheiro, ou para tomar água: ela está pedindo mais atenção”, explica o pediatra.

familia_brincando_cama_sono (Foto: ThinkStock)

O caso de Lilian Bertelli, 38, dona de casa, ilustra bem isso. Além de negociar mais um episódio da Peppa, da Dora, de pedir mais uma história e de insistir por mais um copo d’água para aplacar a sede repentina, Natália, 2, filha de Lilian, ainda diz que “dói o pé”. Tanto é que a mãe até levou a pequena ao médico para ver se a dor tinha alguma causa concreta. “Eu olho um pé, depois ela mesma me dá o outro, faço uma massagem bem gostosa, e falo que está na hora de dormir e que o papai e mamãe também vão dormir”, conta a mãe. Em casos como esse, um beijinho para sarar, ou mesmo uma massagem como fez a Lilian, deve bastar.

Outro fator apontado pelo pediatra é que muitas crianças vão dormir em horários inadequados. “Das 21h às 23h, é o que chamamos de zona proibida do sono: a criança fica mais alerta e é mais difícil de adormecer”, explica o pediatra. Isso acontece porque nosso corpo alterna períodos de alerta e de relaxamento ao longo do dia: ficamos mais sonolentos logo depois que acordamos. Algumas horas depois, nos sentimos mais despertos, mas normalmente após o almoço bate aquela preguiça de novo. O mesmo acontece à noite. Depois das 21h, a quantidade de melatonina, o chamado hormônio do sono, diminui e a criança se sente mais desperta em um passe de mágica. Por esse motivo, o ideal é que a criança pegue no sono entre 19h e 21h, quando começa a escurecer e o corpo passa a produzir melatonina. É nesse período que ela tem mais chances de pegar no sono tranquilamente e de dormir a noite toda.

Hora de ir para a cama


Pensando nisso, o melhor é começar o ritual pré-sono no máximo às 20h. O primeiro passo é evitar o contato com aparelhos eletrônicos que emitem luz - como televisões, tablets e celulares –, uma vez que a claridade inibe a produção da melatonina. Também vale evitar o consumo de refrigerantes, café e outros alimentos que agem como estimulantes.

Outra dica é deixar combinado previamente com a criança o que está “incluso” na hora de dormir: escovar os dentes, ir ao banheiro, uma ou duas histórias (ou música para crianças menores), oração (se fizer parte dos hábitos) da família, beijo de boa noite e... até amanhã!