papinha_bebe_comida_alimentacao (Foto: Shutterstock)

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Seu filho pode nascer com potencial para gostar de rock, mas se MPB for o estilo mais ouvido na sua casa, haverá boas chances de ele passar a curtir esse som, também. O mesmo acontece com o paladar. As preferências alimentares que adquirimos na infância e mantemos na vida adulta são, em boa parte, um reflexo das escolhas dos nossos genitores. “A influência dos pais na alimentação das crianças ocorre pelo exemplo, uma vez que a observação favorece a aceitação de novos alimentos. Daí a importância das refeições em família”, pondera Raquel Gonçalves, coordenadora do Curso de Nutrição da Faculdade Metrocamp, de Campinas (SP). Levando em conta que bons hábitos alimentares podem garantir saúde e prevenir a obesidade, dá para imaginar a importância da sua participação na história alimentar do seu filho.

Influências desde o útero

É ainda no ventre da mãe que o paladar começa a ser formado. No último trimestre da gravidez, o feto engole pequenas quantidades do líquido amniótico, que pode estar levemente “temperado” por substâncias presentes nos alimentos que a mãe ingeriu. Há indícios importantes de que esses sabores ficam registrados no cérebro do bebê. Além disso, os nutrientes presentes nos alimentos consumidos pela mãe chegam ao feto por intermédio da placenta. “Os hábitos maternos determinam preferências alimentares na vida da criança, pois têm relação com aporte de nutrientes e sensações uterinas relativos à dieta da mãe. São registros emocionais que o feto em desenvolvimento carregará para a vida”, explica a nutricionista Marcela Mello, da Clínica Camila Caitano, de Piracicaba (SP).

Bons hábitos sempre

Os dois primeiros anos de vida são cruciais para solidificar bons hábitos alimentares. Assim que acabar a fase de aleitamento exclusivo, é hora de tomar alguns cuidados. Para agradar o paladar, os alimentos precisam ser atraentes, em vários aspectos. “O desenvolvimento das escolhas alimentares se dá na primeira infância, a partir da introdução alimentar. As escolhas não são feitas apenas pelo paladar, mas fundamentalmente pela união de todos os sentidos, como o visual, por exemplo”, avisa Marcela. Aroma, textura e temperatura harmoniosos também facilitam a aceitação. Capriche e seja criativa no preparo das refeições.

Açúcar e gordura viciam

O sabor doce libera em nosso sistema nervoso central sensações de prazer, o que acaba criando dependência emocional a certos alimentos. Por isso, há uma regra que deveria ser seguida à risca pelos adultos: adiar a introdução do açúcar na alimentação dos pequenos. Enquanto não provar o sabor doce, a criança não terá parâmetro de comparação e não sentirá falta dele. Pense nisso antes de liberar geral as guloseimas, especialmente as industrializadas, repletas não apenas de açúcar e gordura, mas também de aditivos como aromatizantes, corantes e conservantes.

Nosso cérebro herdou de nossos ancestrais dos tempos da caverna a condição de se satisfazer com a ingestão de alimentos ultracalóricos. Fazia todo o sentido há milhares de anos, afinal, a oferta de comida era pequena e o gasto energético para sobreviver, imenso. Hoje, temos comida de sobra, mas nosso paladar continua programado para se deliciar com açúcar e a gordura. “Alimentos ricos em carboidratos aumentam a liberação de serotonina, outro neurotransmissor importante e que nos leva a sensações de calmaria e prazer”, explica Marcela. Comidas calóricas também elevam os níveis de dopamina no cérebro, outra substância relacionada a prazer e sensação de bem-estar. E podem se tornar um verdadeiro vício.

Vencendo a resistência aos vegetais

Se gostar de açúcar e gordura é fácil, encontrar uma criança que ame vegetais pode ser uma missão impossível. O sabor amargo de muitos deles, a cor esverdeada, tudo isso contribui para uma rejeição infantil a legumes e verduras. Entretanto, esse grupo de alimentos precisa compor a dieta para que ela seja balanceada. Para conseguir essa proeza com seu filho, você vai precisar de dois atributos: insistência e criatividade. “Já está cientificamente comprovada a relação entre a frequência de exposição e a preferência pelo alimento. São necessárias de 10 a 15 exposições a novos alimentos para que ocorra um aumento da aceitação”, afirma a nutricionista Raquel. Ofereça inúmeras vezes o alimento, agrade seu filho para comer. Não seja vencida pelo cansaço!

Faça valer seus dons criativos: utilize truques durante o preparo dos vegetais que aumentem a possibilidade de a criança vir a experimentá-los. “Use-os como ingredientes de tortas integrais, massas e até mesmo bolos. Cozinhe, por exemplo, a beterraba no feijão”, sugere a nutricionista Marcela. Porém, esses macetes devem funcionar como auxiliares, apenas. Lembre-se de, aos poucos, apresentar os vegetais com a cara deles mesmo, fazendo parte da composição do prato.