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    Brasil abrigou embaixador acusado de crime de guerra por quase dois anos

    PATR�CIA CAMPOS MELLO
    DE S�O PAULO

    29/08/2017 02h00

    Autor da den�ncia contra o ex-ditador chileno Augusto Pinochet, o jurista espanhol Carlos Castresana-Fernandez reuniu-se nesta segunda (28) com um representante do Minist�rio P�blico Federal para pedir ao Brasil que solicite a pris�o preventiva do embaixador do Sri Lanka, Jagath Jayasuriya, pela Interpol, apurou a Folha.

    O embaixador � acusado de cometer crimes de guerra quando comandava as tropas do governo na guerra civil do Sri Lanka, em 2009, segundo relat�rio do Alto Comissariado das Na��es Unidas para Direitos Humanos.

    Jos� Cruz - 4.nov.2017/Ag�ncia Brasil
    Jagath Jayasuriya entrega credenciais � presidente Dilma Rousseff ao chegar ao Brasil em 2015
    Jagath Jayasuriya entrega credenciais � presidente Dilma Rousseff ao chegar ao Brasil em 2015

    Tropas sob seu comando mataram 40 mil civis. A acusa��o o responsabiliza pela matan�a, tortura e o estupro sistem�tico de prisioneiras pelas for�as de seguran�a.

    Mas Jayasuriya deixou o posto no Brasil e partiu para o Sri Lanka no domingo (27), v�spera da reuni�o no MPF. Sua partida j� era prevista.

    "Diante da fuga, temos que recorrer � Interpol", diz Castresana, que representa a ONG International Truth and Justice Project, que trabalha com v�timas de viola��es de direitos humanos no Sri Lanka.

    Ele se reuniu com o secret�rio de coopera��o internacional do MPF, Vladimir Aras, e pediu a emiss�o de uma ordem internacional de captura. O caso est� em an�lise.

    Jayasuryia foi nomeado embaixador no Brasil em agosto de 2015 e chegou ao pa�s em novembro do mesmo ano. Ele tamb�m � representante diplom�tico do Sri Lanka na Col�mbia, Peru, Argentina, Chile e Suriname.

    A ent�o presidente Dilma Rousseff recebeu as credenciais e ele ficou no Brasil at� agora sem ser incomodado.

    "� um criminoso de guerra, como [o alem�o Josef] Mengele ou [o s�rvio Slobodan] Milosevic, nenhum pa�s democr�tico pode deixar uma pessoa dessas solta pelas ruas", disse Castresana.

    O Brasil poderia n�o ter recebido as credenciais do embaixador. Tamb�m poderia declar�-lo persona non grata ou requerer ao pa�s de origem que sua imunidade diplom�tica fosse retirada.

    "O pr�mio que ele ganhou por ter matado 40 mil pessoas foi ficar passeando pela Am�rica do Sul", diz Castresana. Na p�gina do general em uma rede social, h� fotos dele na praia e nadando com botos na Amaz�nia.

    Al�m de Dilma, o representante tem fotos com a chilena Michelle Bachelet e o colombiano Juan Manuel Santos, tamb�m Nobel da paz.

    Como chefe das For�as de Seguran�a de Vanni, Jayasuriya comandou as ofensivas do final da guerra, em 2008 e 2009, no norte do Sri Lanka. As for�as lutavam contra os rebeldes separatistas Tigres T�meis, que tamb�m s�o acusados de crimes de guerra.

    Segundo o relat�rio da ONU "o quartel general das for�as de seguran�a para o Vanni, comandado na �poca pelo general Jayasuriya, era um dos principais campos onde os detentos eram sujeitos a interrogat�rios e frequentemente torturados."

    A ONU afirma ainda que o mesmo quartel era palco de viol�ncia sexual e acusa as for�as comandadas por Jayasuriya de bombardear intencionalmente hospitais e zonas de seguran�a para civis.

    OUTRO LADO

    A Embaixada do Sri Lanka no Brasil afirmou que o embaixador Jagath Jayasuriya havia deixado o cargo e partido para seu pa�s neste domingo (27). Segundo a embaixada, ele n�o estava acess�vel para entrevistas.

    Sua partida, informou a representa��o diplom�tica, j� estava prevista.

    A embaixada informou que ainda n�o foi nomeado um novo embaixador e n�o h� previs�o para que isso aconte�a.

    Jayasuriya havia avisado o Itamaraty no in�cio de agosto sobre a partida.

    A reportagem entrou em contato com o primeiro secret�rio comercial da embaixada, Premathilake Jayacoby, e a funcion�ria Tabita Pereira, e foi instru�da a mandar um e-mail explicando a natureza da reportagem.

    Ap�s esse e-mail, recomendaram que a reportagem enviasse um outro e-mail, desta vez para o Minist�rio das Rela��es Exteriores do Sri Lanka. O minist�rio n�o respondeu at� o momento.

    A reportagem entrou em contato com o Itamaraty, que relatou ter sido informado no in�cio de agosto pelo embaixador sobre a partida dele.

    Na semana passada, o minist�rio promoveu um coquetel de despedida, como � praxe com os embaixadores de partida.

    Indagado sobre o processo de credenciamento de embaixadores estrangeiros, o minist�rio n�o respondeu at� o momento.

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