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    Redes sociais criam bolhas ideol�gicas inacess�veis a quem pensa diferente

    ETHAN ZUCKERMAN
    tradu��o PAULO MIGLIACCI
    ilustra��o CAMILE SPROESSER

    24/09/2017 02h00

    Camile Sproesser
    Pinturas da artista pl�stica Camile Sproesser para a Ilustr�ssima

    RESUMO Estudo conduzido pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) mostra como as redes sociais refor�am a propens�o humana a buscar informa��es que se alinhem a ideias preconcebidas. Autor diz que a intera��o com not�cias partidarizadas fortalece sensa��o de pertencimento a grupos identit�rios.

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    Pouco depois das elei��es norte-americanas de 2016, um amigo me convidou para almo�ar. Partid�rio de Donald Trump, ele sabia que hav�amos votado em candidatos diferentes, e ambos quer�amos conversar sobre o futuro do pa�s sob o novo governo.

    Mas ele me chamou especificamente porque se irritara com um artigo de minha autoria em que equiparava Steve Bannon, fundador do site noticioso Breitbart, a Richard Spencer, l�der da "alt-right" [nome adotado pela direita radical dos EUA, que inclui ultranacionalistas brancos, grupos homof�bicos e anti-imigrantes].

    Meu amigo explicou que lia o Breitbart religiosamente, n�o porque apoiasse a supremacia branca, mas por ser favor�vel a um crescimento zero no n�mero de imigrantes que vivem no pa�s como estrat�gia para elevar a renda dos americanos (brancos e n�o brancos). O site era o �nico ve�culo que discutia seriamente tal conjectura.

    "Se Bannon � inaceit�vel e o Breitbart � inaceit�vel, isso significa que minhas opini�es sobre imigra��o s�o inaceit�veis? E quanto aos milh�es de norte-americanos que concordam comigo?"

    Uma pesquisa conduzida por Yochai Benkler e nossa equipe no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e no Berkman Center confirmou que o Breitbart foi muito mais ass�duo na cobertura de quest�es de imigra��o no per�odo que antecedeu a elei��o de 2016, com tr�s vezes mais aten��o ao tema do que outros expoentes da m�dia de direita, como a rede de not�cias Fox News e o jornal "The Wall Street Journal".

    Especulamos que foi gra�as � forte influ�ncia do Breitbart que a imigra��o se tornou a quest�o de pol�tica p�blica mais reportada na elei��o de 2016, apesar dos esfor�os do Partido Republicano para abrandar sua posi��o sobre o tema a fim de atrair eleitores hisp�nicos.

    O avan�o da imigra��o de uma posi��o perif�rica na agenda noticiosa para a de protagonista � um fen�meno de que trata o estudioso de m�dia Daniel Hallin em "The Uncensored War: The Media and Vietnam" (University of California Press, a guerra sem censura: a m�dia e o Vietn�). O autor argumenta que podemos enquadrar reportagens em tr�s esferas.

    Na esfera do consenso, existe acordo generalizado quanto a um assunto ou posi��o (exemplos: a democracia � a melhor forma de governo; o capitalismo � uma boa maneira de promover o crescimento econ�mico), e nesse caso nem vale a pena entrar em discuss�es.

    Na esfera do desvio, existe acordo generalizado sobre a inadmissibilidade de determinada posi��o (exemplos: rela��es sexuais entre adultos e crian�as s�o normais e deveriam ser legais; a propriedade coletiva de todos os bens � a melhor maneira de p�r fim � desigualdade), e nesse caso tampouco vale a pena entrar em discuss�es.

    A esfera da controv�rsia leg�tima (�s vezes muito estreita) abarca os debates padronizados dentro de uma sociedade, e os jornalistas devem se mostrar neutros em rela��o aos t�picos sobre os quais � leg�timo debater (exemplo: cortes de impostos para os ricos resultar�o em crescimento econ�mico).

    Afaste-se da esfera da controv�rsia leg�tima e caia na esfera de desvio e sua posi��o se tornar� invis�vel nas discuss�es da m�dia tradicional. Jay Rosen, professor de jornalismo da Universidade de Nova York, afirma: "Quem quer que tenha opini�es enquadradas na esfera do desvio –segundo defini��o dos jornalistas– sentir� a imprensa como um advers�rio na luta por reconhecimento. (...) N�o � que seja um debate de apenas um lado; � que n�o existe debate".

    PLURALIDADE

    O crescimento na diversidade da m�dia propiciado pela internet e pelas redes sociais implica que, caso algu�m tenha suas ideias enquadradas fora da esfera da controv�rsia leg�tima, essa pessoa ainda assim conseguir� encontrar um segmento da ind�stria da informa��o em que suas opini�es n�o cair�o na esfera do desvio.

    Meu amigo, frustrado por n�o encontrar discuss�o sobre imigra��o na m�dia convencional, come�ou a ler o Breitbart, onde sua argumenta��o, vista como inaceit�vel em outros f�runs, integra a esfera do consenso, e a controv�rsia leg�tima se d� em torno dos mecanismos que deveriam ser usados para limitar a imigra��o.

    Ele n�o est� sozinho. Embora menos popular hoje do que na elei��o de 2016, o Breitbart continua a ser o 61� site mais visitado dos EUA e est� pr�ximo em popularidade da p�gina do jornal "The Washington Post". Em nosso conjunto de dados, que examina de que maneira sites s�o compartilhados no Twitter ou no Facebook, o Breitbart � o quarto mais influente ve�culo de m�dia norte-americano, atr�s da CNN, do "New York Times" e do site pol�tico The Hill.

    A capacidade de encontrar ve�culos compat�veis com determinada posi��o pol�tica n�o � nova. Mesmo nos dias dos panfletos e dos primeiros jornais, era poss�vel achar uma c�mara de eco que refletisse posi��es espec�ficas.

    A ascens�o dos jornais de grande circula��o e da m�dia eletr�nica, que precisavam evitar alienar grandes parcelas da popula��o a fim de manter sua viabilidade econ�mica, nos conduziu a uma era na qual o jornalismo partid�rio se tornou menos comum.

    Quando os canais noticiosos de TV a cabo viabilizaram uma vez mais as not�cias partid�rias, as redes de TV aberta e os grandes jornais mantiveram suas aspira��es ao equil�brio e � imparcialidade, em uma tentativa de servir a um p�blico mais amplo.

    No entanto, modelos econ�micos como os usados por esses ve�culos fazem pouco sentido na era digital. Como sabem os provedores de not�cias completamente falsas, existe um apetite quase insaci�vel por informa��o que sustente nossas ideias preconcebidas.

    � importante considerar que as pessoas buscam m�dia ideologicamente compat�vel com elas n�o s� por pregui�a intelectual, mas por senso de efic�cia. Se voc� integra o Black Lives Matter [movimento que contesta a viol�ncia contra negros] e trabalha por maior controle cidad�o sobre a pol�cia, n�o aguentar� se ver emaranhado no intermin�vel debate acerca da persist�ncia ou n�o do racismo nos EUA.

    Se voc� trabalha com aconselhamento de mulheres e busca convenc�-las a desistir do aborto e optar por ado��o, compreender de que maneira ser efetivo em seu pr�prio movimento � provavelmente prioridade mais alta do que dialogar com ativistas pr�-aborto.

    SEGREGA��O

    O isolacionismo partid�rio n�o � uma simples fun��o da homofilia. A estrutura das plataformas de m�dia da internet contribui para o ensimesmamento ideol�gico. Embora Eli Pariser e outros atribuam esses efeitos estruturais ao Facebook e a outras redes sociais populares, argumentei no site Rewire que tr�s gera��es diferentes de m�dia on-line tornaram poss�vel selecionar os t�picos e pontos de vista em que cada usu�rio est� mais interessado.

    A web anterior ao Google nos permitia selecionar pontos de vista mais ou menos como uma banca de jornais: escolhemos uma publica��o, e n�o outra. Diferentemente da TV aberta, que tende a pontos de vista centristas a fim de atrair ampla gama de verbas publicit�rias, ve�culos com foco mais restrito, como sites e revistas, se permitem divis�es partid�rias mais incisivas.

    Com a ascens�o dos sites de busca, a navega��o baseada em interesses passou a nos conduzir � segrega��o ideol�gica, seja por causa dos t�picos que selecionamos, seja pela linguagem que usamos. N�o espere fazer amigos conservadores em um site de culin�ria vegetariana, da mesma forma que buscar progressistas em um site sobre ca�a pode ser frustrante.

    A linguagem empregada para descrever uma quest�o –mudan�a do clima, aquecimento global ou fraude cient�fica– pode isolar a informa��o que obtemos, com base em crit�rios ideol�gicos.

    O que a m�dia social oferece de diferente n�o � a possibilidade de escolhermos os pontos de vista com os quais entraremos em contato, mas sim o fato de que muitas vezes n�o estamos cientes das escolhas.

    Muitas pessoas aderiram ao Facebook na expectativa de que o site as ajudaria a manter contato com parentes e amigos, e n�o de que ele seria a principal fonte de not�cias.

    Em 2016, 62% dos adultos norte-americanos disseram receber ao menos parte das not�cias que consomem via redes sociais, e 18% afirmaram receber not�cias frequentemente por meio de plataformas como o Facebook. Esses n�meros s�o mais acentuados entre os adultos jovens e provavelmente cresceram na elei��o de 2016.

    Como o algoritmo do Facebook apresenta conte�do ao usu�rio com base naquilo de que ele gostou e que escolheu no passado, sua tend�ncia � refor�ar ideias preconcebidas, tanto por ser prov�vel que os amigos de uma pessoa concordem com seu ponto de vista quanto porque o comportamento on-line indica ao Facebook o conte�do que mais lhe interessa.

    A BOLHA DO FILTRO

    Pariser define esse problema como "a bolha do filtro" [no livro "O Filtro Invis�vel", Zahar], tomando por base trabalhos anteriores de Cass Sunstein, que reconheceu a tend�ncia de que "c�maras de eco" sejam criadas on-line por usu�rios que selecionam m�dia segundo suas convic��es pol�ticas. Pariser argumenta (n�o sem controv�rsia) que os algoritmos usados pelo Facebook e outros servi�os refor�am essa tend�ncia.

    Vale dizer que o problema da bolha do filtro n�o � inerente �s redes sociais. O Twitter deliberadamente n�o filtra o conte�do, o que evita o problema da bolha, mas deixa ao usu�rio a responsabilidade de escapar �s c�maras de eco.

    Embora voc� possa decidir seguir um grupo diferente de pessoas no Twitter, uma pesquisa de Nathan Matias sugere que mesmo pessoas altamente motivadas tendem a n�o mudar muito seu comportamento on-line a fim de combater preconceitos e parcialidades.

    Nossa equipe no Laborat�rio de M�dia do MIT est� trabalhando no Gobo, um novo m�todo de selecionar o conte�do recebido pelos usu�rios no Facebook e no Twitter, usando processamento de linguagem natural e aprendizado autom�tico a fim de criar filtros que possam elevar ou reduzir o conte�do pol�tico de um feed de not�cias, incluir mais ou menos textos escritos por mulheres ou oferecer uma op��o consciente pela leitura de not�cias vindas de fora da c�mara de eco que o usu�rio costuma ocupar.

    Uma das quest�es cruciais do projeto � saber se as pessoas usar�o esses filtros. Uma hip�tese que esperamos negar � a de que, embora se queixem das bolhas, muitos apreciam o isolamento ideol�gico e deliberadamente escolher�o um regime de sele��o de conte�do parecido com o que encontram hoje.

    A m�dia de interesse geral, como as redes de televis�o aberta e os jornais de alcance nacional, tradicionalmente se v� como respons�vel por oferecer equil�brio ideol�gico, perspectiva mundial e diversidade de cobertura.

    (Se tem sucesso nesses esfor�os � outra quest�o –j� ouvi muitas pessoas n�o brancas dizerem que se sentiam invis�veis nos "bons e velhos dias" e que a m�dia contempor�nea, mais fragmentada, lhes confere visibilidade maior.)

    � medida que o modelo de neg�cio da m�dia de interesse geral se torna menos vi�vel, pois os leitores gravitam em torno de material com que se identificam ideologicamente, vale perguntar se plataformas como o Facebook ter�o apetite para realizar esse tipo de trabalho.

    At� o momento, a resposta parece ser negativa. O Facebook tem se esquivado de ser classificado como provedor de conte�do, tentando a um s� tempo evitar responsabilidade legal pelo conte�do que seus usu�rios veiculam (sob cl�usulas de prote��o que fazem parte da lei de internet dos Estados Unidos) e driblar cr�ticas pelo exerc�cio de mau julgamento editorial.

    Os problemas enfrentados pelo Facebook s�o graves. Os pedidos para que bloqueie not�cias falsas representam um desafio, j� que a maioria do conte�do rotulado desse forma n�o � incontestavelmente fraudulento. Se o Facebook come�ar a bloquear sites como o Breitbart, ser� acusado de censurar conte�do pol�tico –e com raz�o.

    Uma sa�da seria eliminar a curadoria de seu feed de not�cias por algoritmos e recuar a um mundo semelhante ao do Twitter, no qual a m�dia social � um jato de informa��es provenientes de qualquer um a quem o usu�rio dedique aten��o.

    Outra possibilidade seria adotar uma solu��o como a que propomos no Gobo, que entrega ao usu�rio o controle dos filtros. N�o se sabe, por�m, se o Facebook escolher� um caminho que daria mais controle �s pessoas.

    IDENTIDADE DE GRUPO

    Ao considerar de que maneira as plataformas legitimam o discurso on-line, precisamos ter em mente a ideia de que compartilhar conte�do � uma forma de participa��o c�vica.

    Nossa forma��o c�vica passa pela pr�tica de criar e disseminar formas de m�dia projetadas para refor�ar os elos dentro de um grupo e para torn�-lo distinto de outros.

    Veja o caso dos criadores de memes que estavam disputando o pr�mio de US$ 20 mil oferecido pelo site Infowars [em julho deste ano, a p�gina fez um concurso para eleger a melhor imagem sobre o presidente Donald Trump atacando e derrotando a rede de televis�o CNN]. Muitos dos participantes n�o acreditam que a CNN seja mesmo o Estado Isl�mico, como dito em um dos memes.

    Como afirma a pesquisadora Judith Donath, "not�cias n�o s�o compartilhadas apenas para informar ou para convencer. Tamb�m s�o usadas como um marcador de identidade, uma maneira de proclamar a afinidade daqueles que as divulgam com uma determinada comunidade".

    O racioc�nio de Donath explica por que a verifica��o factual de reportagens ("factchecking"), o bloqueio de not�cias falsas ou o est�mulo a que pessoas apoiem conte�do jornal�stico mais diversificado e baseado em fatos concretos provavelmente falhar�o em impedir o avan�o de not�cias partidarizadas.

    N�o s� elas s�o mais agrad�veis (para mim, � um b�lsamo assistir a Trevor Noah, do "Daily Show", ou a Samantha Bee, do "Full Frontal", e imagino que meus amigos de direita sintam a mesma coisa em rela��o aos comentaristas da Fox News) como sua difus�o oferece recompensas sociais e cria um senso de efic�cia compartilhada –o sentimento (real ou imaginado) de que voc� est� promovendo mudan�a social ao configurar o ambiente de informa��o.

    TRUMP E BREITBART

    A pesquisa que Benkler e nossa equipe Media Cloud conduziram demonstra a rapidez com que esses ecossistemas partid�rios surgem.

    Examinando 1,25 milh�o de reportagens e 25 mil fontes de m�dia diferentes, atribu�mos a cada fonte uma nota partid�ria baseada no quanto pessoas que compartilharam tu�tes de candidatos democratas ou republicanos tamb�m divulgaram conte�do desses ve�culos.

    Com frequ�ncia, reportagens do jornal "The New York Times" eram mais compartilhadas por pessoas que reproduziram um tu�te de Hillary Clinton [democrata] do que por aquelas que reproduziram tu�tes de Trump [republicano], mas o efeito era muito mais pronunciado no caso do Breitbart. As not�cias do site de direita eram reproduzidas quase que exclusivamente por partid�rios de Trump.

    Nossa pesquisa delineou um conjunto de sites estreitamente ligados e seguidos apenas pela direita nacionalista. A vasta maioria � muito nova, tendo sido fundada durante o governo de [Barack] Obama [2009-17). Essa comunidade de interesses tem baixa sobreposi��o com fontes conservadoras tradicionais, como o "Wall Street Journal" e a revista "National Review".

    Nosso estudo mostrou que publica��es como essas �ltimas t�m baixa influ�ncia na internet e que seu conte�do � compartilhado tanto por usu�rios de direitista quanto por usu�rios de esquerda, enquanto o aglomerado de ve�culos capitaneado pelo Breitbart funciona como c�mara de eco.

    O surgimento de c�maras de eco como a que fica em torno do Breitbart complica ainda mais a verifica��o factual. A professora e pesquisadora Danah Boyd explica que, ao ensinar a alunos que n�o confiem na Wikip�dia, n�s os encorajamos a triangular seu caminho rumo � verdade com base em resultados de busca no Google.

    No caso de temas que s�o ostensivamente cobertos pelo Breitbart e por sites assemelhados (mas n�o pela m�dia mais ampla), isso gera um efeito perverso. [No come�o do caso,] buscar informa��es sobre o Pizzagate provavelmente resultaria em links para outros sites de extrema direita que estavam tratando da hist�ria [em 2016, circulou o boato de que uma pizzaria servia de fachada para esconder uma rede de prostitui��o infantil liderada por Hillary Clinton].

    Quando ve�culos como o "New York Times" enfim come�aram a cobrir o assunto e a mostrar que as informa��es eram falsas, muitas pessoas interessadas no esc�ndalo estavam convencidas de que ele era verdadeiro, gra�as � repeti��o da vers�o por um conjunto de sites relacionados entre si.

    A situa��o chegou a tal ponto que um sujeito inst�vel decidiu sair armado para "investigar sozinho" a controv�rsia [em dezembro, foram disparados tiros de fuzil AR-15 contra a pizzaria].

    DI�LOGO IMPOSS�VEL

    As esferas definidas por Daniel Hallin (a do consenso, a do desvio e a da controv�rsia leg�tima) sugerem que questionemos se nos sentimos estimulados a discutir gama suficientemente ampla de assuntos no campo da controv�rsia leg�tima. Nosso problema atual � que o di�logo � dif�cil, se n�o imposs�vel, porque aquilo que um lado v� como esfera de consenso representa para o outro a esfera do desvio, e vice-versa.

    Nossos debates se complicam n�o s� porque n�o conseguimos chegar a acordo sobre um conjunto de fatos compartilhados, mas porque, para come�ar, n�o conseguimos nos entender sobre o que merece ser discutido.

    N�o tenho panaceias a oferecer para a polariza��o e para as c�maras de eco. Ainda assim, vale a pena identificar tais fen�menos –e reconhecer a profundidade de suas ra�zes– enquanto buscamos solu��es para esses problemas.

    Vale notar que a pesquisa que a equipe dirigida por Benkler e eu conduziu sugere um fen�meno de polariza��o assim�trica –em nossa an�lise, as pessoas de extrema direita est�o mais isoladas, em termos de ponto de vista, do que as pessoas de extrema esquerda.

    Nada no estudo sugere que a direita seja inerentemente mais propensa a isolamento ideol�gico. Ao compreender de que maneira a polariza��o extrema se desenvolveu recentemente, pode ser poss�vel impedir que a esquerda desenvolva c�mara de eco semelhante.

    A pesquisa tamb�m sugere que a centro-direita tem um papel produtivo a desempenhar na cria��o de alternativas de m�dia que apelem � direita rebelde e alienada, o que manteria esses importantes pontos de vista em comunica��o com as comunidades existentes da esquerda, centro e direita.

    Acredito que a polariza��o do di�logo na m�dia resulte de novas tecnologias, da maneira pela qual o civismo � praticado hoje e das mudan�as profundas nos indicadores de confian�a em institui��es [muitas pesquisas demonstraram, nas �ltimas d�cadas, um decr�scimo constante da confian�a em todo tipo de institui��o –governo, Congresso, religi�o, m�dia, bancos, escolas p�blicas e assim por diante, um fen�meno que afeta n�o s� os EUA mas diversos pa�ses ocidentais, incluindo o Brasil].

    A breitbartosfera � poss�vel n�o s� porque se tornou mais f�cil do que nunca criar um ve�culo de m�dia e compartilhar pontos de vista com pessoas que pensam parecido, mas porque a confian�a baixa no governo leva as pessoas a buscar novas modalidades de engajamento efetivo –e, mais especificamente, a baixa confian�a na m�dia as leva a buscar fontes diferentes de informa��o.

    Criar e disseminar ve�culos e conte�do de m�dia parece ser uma das maneiras mais efetivas de engajamento c�vico em um mundo em que a confian�a desapareceu, e as elei��es de 2016 sugerem que essa m�dia c�vica � uma for�a poderosa que estamos apenas come�ando a compreender.

    ETHAN ZUCKERMAN � diretor do Centro de M�dia C�vica do MIT (EUA) e professor associado da universidade. O texto veiculado nesta edi��o � adaptado de artigo originalmente publicado no site do autor, sob o t�tulo "Mistrust, Efficacy and the New Civics: Understanding the Deep Roots of the Crisis of Faith in Journalism".

    PAULO MIGLIACCI, 49, � tradutor.

    CAMILE SPROESSER, 32, � artista pl�stica.

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